Olá, leitores!
Meu nome é Julya, eu sou a nova colaboradora da Helena aqui no Leituras&Gatices e gostaria de começar com uma questão: Vocês já mentiram?
Talvez essa pergunta seja retórica, todos mentem. E existem razões para mentirmos: comodidade, boa vontade, mentir por mentir. Mas já pensou no poder que as mentiras têm? Afinal, por meio de uma mentira, pode-se dar confiança a alguém, ou destruí-la emocionalmente, pode-se ajudar ou prejudicar.
A mentira é como uma fogueira, Faith estava aprendendo. Primeiro precisa ser nutrida e alimentada, mas com cuidado e gentileza. Um sopro delicado atiçaria as chamas recém-nascidas, mas uma baforada vigorosa demais as apagaria. Algumas mentiras ganham corpo e se espalham, crepitando de empolgação, e não precisam mais ser alimentadas. Mas então estas não são mais as suas mentiras. Têm vida e forma próprias, e não há como controlá-las. (HARDINGE, p. 205, 2016)
De certa forma, parece estranho começar a resenha assim. Contudo, essas pequenas questões, presentes no parágrafo acima, surgiram durante a leitura de A árvore da mentira. O livro, escrito por Frances Hardinge, traz o poder que uma mentira tem, seja a que contamos para os outros ou para nós mesmos.
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A editora enviou, além do livro, marcadores, uma carta misteriosa e uma semente. |
Na história, com a promessa de novas descobertas e de fugir de um escândalo, o reverendo Eramus Suddenly leva sua família – sua esposa Myrtle, sua filha Faith e seu filho Howard e o cunhado - para Vane, uma remota ilha na Inglaterra. Lá, a família causa antipatia nos habitantes, tornando a vivência extremamente difícil. E tudo isso se intensifica com a morte do patriarca da família.
Primeiramente, gostaria de falar dos personagens. Uma que me impressionou foi a Faith, a protagonista. A forma como ela é desenvolvida é muito interessante, pois ela consegue ser manipuladora e ingênua ao mesmo tempo. Ademais, é uma personagem fácil de se identificar, devido a sua relação com a família. Ela é a única filha mulher, num século em que ser mulher não tinha valor algum. Por isso, ela era menosprezada e ignorada pelo pai, e, em alguns momentos, tratada como empregada pela mãe.
Aberrações da natureza, dizia o rótulo central.E é isso que eu sou, pensou Faith, sentindo enjoo. Um cérebro pequeno de mulher com coisa de mais enfiada dentro. Talvez seja esse o meu problema. [...]. (HARDINGE, p. 52, 2016).
Ela deseja ter uma relação real com pai, devido ao seu amor pela ciência e a necessidade, por assim dizer, de ser reconhecida como um ser inteligente. Por isso, com a morte do pai, ela acredita ser responsável por encontrar os assassinos, embora o livro não deixe claro se as circunstâncias do falecimento apontam para um assassinato. E no meio das pesquisas, ela descobre a árvore da mentira.
A planta possui propriedades míticas, pois se alimenta de mentiras e é capaz de produzir frutos que permitem descobrir segredos alheios. Faith cria uma relação de amizade e proteção com a árvore, quase como se estivesse transferindo o amor do pai para a planta. Entretanto, embora seja o titulo do livro, a árvore tem uma função de ferramenta usada pela protagonista, e não o elemento principal. Então, se espera uma historia mítica, lamento, mas esse não é o foco do livro, mas sim o crescimento psicológico e emocional de Faith. E isso é visível nos momentos após o encontro com a árvore.
E é nesse momento que mostra-se quão manipuladora ela é. Ela começa a contar mentiras, construindo histórias, que afetarão a cidade inteira. Confesso que no começo achei pouco crível uma adolescente de catorze anos ter tamanha perspicácia acerca da mente humana, mas, novamente, a maneira como ela vai sendo desenvolvida torna essa característica possível e, até, lógica. Isso deve-se a forma como a ingenuidade da protagonista é apresentada, pois, embora consiga manipular, ela tem dificuldade de entender aspectos da sociedade na qual ela está inserida. Um exemplo disso é ela não entender os riscos para a família caso o pai seja declarado um suicida. Isso porque, antigamente – no livro não fica claro o século em que a história se passa -, quando alguém se matava, o indivíduo não poderia ser enterrado no cemitério, por ser solo sagrado, e os parentes não receberiam a herança.
Esse é outro ponto positivo, a adequação histórica. Percebe-se que a autora realmente se importou em trazer algo verossímil, pois ela apresenta a teoria de que o tamanho do crânio tem relação com a inteligência das pessoas, e que muitas vezes, era utilizada para “diminuir” as mulheres, por exemplo. Ademais, ela apresenta um personagem canhoto e como isso era tratado.
Por fim, posso concluir que adorei o livro. Os personagens são interessantes e o jeito como descobrimos o que realmente aconteceu com o reverendo Suddenly é surpreendente (eu, pelo menos, fiquei chocada). Além disso, a escrita da autora é fluída e gostosa de ler, do tipo que não se consegue largar depois que começou. E eu, com certeza, gostaria de ler mais livros da Frances Hardinge.
Espero que tenham gostado dessa resenha, pois é minha primeira aqui no blog, então comentem o que acharam, se já leram o livro e se gostaram ou não.
Tchau e até a próxima.
HARDINGE, Frances. A árvore da mentira. 1ª ed. Barueri: Novo século, 2016. 304 p. Tradução de Caio Pereira.
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