É fácil matar - Agatha Christie

"É muito fácil matar, desde que ninguém suspeite da gente." (CHRISTIE, 2009, p. 21)

Obrigada, @vontaderia, pelo presente!

Nesse romance da "Rainha do crime" não temos Poirot nem Miss Marple teje dito. O protagonista, Luke Fitwilliam, é um policial aposentado que está voltando para Londres, ansioso por rever os amigos e aproveitar o merecido descanso. Só que, no trem, ele senta-se perto de uma velhinha que lhe conta uma história curiosa; Ela afirma haver um serial killer em sua pacata cidade e está decidida a ir à Scotland Yard para que os detetives de lá, supostamente mais eficientes que os da sua cidade, investiguem o caso. E o que é mais curioso: ela afirma saber quem será a próxima vítima e deixa a suspeita de que sabe quem é o assassino, uma pessoa de quem ninguém desconfia e que, por isso, ninguém acreditaria nela!

É claro que Luke pensa que a velhinha está fantasiando e não dá importância para a narrativa duvidosa da senhora. Até que, no dia seguinte, ele lê o jornal e descobre que ela foi atropelada e que o motorista fugiu da cena do crime! Tudo isso acaba por deixar uma pulga enorme atrás da orelha dele e o faz ir até à cidadezinha, Wychwood-under-Ashe. Ele vai sob o disfarce de escritor e primo de Bridget Conway, prima de um amigo,  para poder investigar o caso.

"Ela tinha uns 28 ou 29 anos, ele achava. E ela era inteligente. E era uma daquelas pessoas sobre as quais nada se pode descobrir, a não ser que assim queiram..." (CHRISTIE, 2009, p. 33)

A cidadezinha, como toda cidade pequena, fica toda sabendo da chegada do forasteiro, que é assunto de muitas conversas e perguntas. E Luke fica com receio de não conseguir manter o disfarce. Para piorar, Bridget acaba por "enfeitiçar" Luke, porém, ela é casada com Gordon, um novo-rico insuportavelmente egocêntrico.

"- Meu caro! A sanidade é mortalmente aborrecida. É preciso ser ligeiramente pervertido. Ai, então, vê-se a vida sob um novo e arrebatador ângulo. (CHRISTIE, 2009, p. 99)

E no decorrer de sua investigação Luke fica cada vez mais confuso e a iminência de um novo assassinato faz com que o desespero tome conta dele. Ao passo que, também, ele descobre que muitos dos moradores possuem passados nebulosos e todas essas novas descobertas vão, aos poucos, apontando para um provável suspeito. E é nessa hora que eu digo "AH HA! DESCOBRI QUEM É O ASSASSINO! Não pode ser outro, descobri na metade do livro, descobri antes do Luke, eu sou demais. Agatha Christie não é de nada!" Só que, no final, eu levo aquele tapa na cara, quando me deparo com a verdade. Gente, que reviravolta! Que revelação! Sensacional. Fiquei o tempo todo confiante de que não podia ser outra pessoa e cega na minha convicção, assim como o Luke, e Agatha vai lá e mostra: estava bem na cara de vocês o tempo todo. Me senti uma presa fácil caindo nas artimanhas da narrativa desse romance da Rainha do crime e finalmente, depois da leitura enfadonha de Um corpo na biblioteca, fiz as pazes com Agatha Christie!

***

Esse foi um livro que eu devorei. Li de um dia para o outro, de tão fácil a escrita e envolvente a trama. Além disso, o romance impossível entre Bridget e Luke me deixou bem satisfeita, pois o final dele passa longe do clichê, é, ouso dizer, bem original. Além disso, há alguns elementos na história, como o fato de a cidade ter alguns moradores envolvidos com magia negra e conflitos de rivalidade que dão um aspecto bem sinistro ao ambiente e à trama que Agatha tece. Sou suspeita para falar dos livros dela, mas reforço, agora, a ideia de que comecei pelo livro errado e que tomei a decisão acertada em insistir na leitura dos livros da autora. Claro que não é meu gênero favorito, mas reconheço que, pelo menos esse, é muito bem escrito e funciona como uma leitura de entretenimento adorável.

Beijinhos, Hel. 

CHRISTIE, Agatha. É fácil matar. (Tradução de Ieda Ribeiro de Souza Carvalho). 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Porto Alegre: L&PM, 2009, 230 p.

Senhor das moscas - William Golding

"Você sabe, não é? Que eu sou parte de você? Bem perto, bem perto, bem perto! Que é por minha causa que nada adianta? Que as coisas são do jeito que são?" (GOLDING, 2014, p. 158)

A maldade é inata? Ou o meio em que estamos contribui para que nos tornemos maus? Até que ponto o ser humano é capaz de manter sua sanidade, o respeito pelo próximo e pela vida?

Num período de guerra, um avião com um grupo de crianças cai em uma ilha deserta. As crianças são de diversas idades, algumas mais novas, em torno dos seis anos e outras em torno dos doze. Sozinhas e sem a supervisão de adultos, inicialmente, as crianças acreditam estar num paraíso e se comportam como é esperado que se comportem: como crianças. Acham a ilha paradisíaca e, sem consciência da situação, nos primeiros momentos, só querem saber de curtir a praia e as diversões que a ilha proporciona. Porém, com o passar dos dias, a situação começa a tomar rumos extremos.


"O mundo, aquele mundo compreensível e obediente à lei, desmoronava." (GOLDING, 2014, p. 101)

Conscientes de que demoraria muito até que um navio com adultos viesse salvá-los, as crianças percebem que precisam se organizar. Ralph é eleito o líder por ser o mais carismático, e não o mais inteligente. O mais inteligente, obviamente, era Porquinho, mas Porquinho, bem, ele era gorducho, usava óculos e era asmático, o tipo de criança que sofre bullying. E claro que na ilha não seria diferente, Porquinho é motivo de risada e é constantemente humilhado pelas demais crianças. Muitas vezes fiquei irritada com isso, pois até mesmo Ralph reconhecia que não era o líder mais adequado, mas a sede por poder era maior que tudo, ali na ilha. É por isso que, mais adiante na estória, Ralph e Jack, outro menino mais velho, começam a se desentender e aí é só o início de toda a barbárie. 

As crianças começam a sentir medo, e o medo começa a ser alimentado, primeiro pelas menores, depois, até os maiores começam a temer a ilha. Assustadas, as crianças começam a agir irracionalmente e a desordem começa a se instaurar. Elas têm medo de um monstro. Mas, na verdade, o que elas temem é a ilha... "Como se a ilha não fosse boa." (GOLDING, 2014, p. 57) Ou seria elas mesmas?

"É só uma sensação. E você tem a impressão que não está caçando, mas - sendo caçado; como se tivesse alguma coisa atrás de você o tempo todo no meio da selva." (GOLDING, 2014, p. 58)

***

O Senhor das moscas, uma cabeça de porco em cima de uma estaca, representa nada mais, nada menos que o próprio mal. O mal que todos, mesmo uma criança, carregam dentro de si e está só esperando para ser despertado. Pode parecer um pouco chocante essa perspectiva, e realmente é. Por isso, se você não gostar de livros com narrativas cruas e viscerais, não recomendo a leitura de Senhor das moscas

Imagem do filme, de 1990

Além disso, há muito mais simbologias presentes na obra, que é riquíssima, apesar da narrativa simples. Há a metáfora de que a sociedade criada pelas crianças na ilha se assemelha muito à nossa sociedade "adulta". Há sede por poder, os homens atacam seus iguais para tomar seu lugar. Elegemos representantes nem sempre tão capazes, mas que se mostram muito carismáticos e que têm apelo com as massas. Pensamos mais em nós mesmos do que no bem comum. Etc., etc., etc.... É assustador, também, ler sob essa perspectiva.

Vale comentar, a título de indicação de leitura, que William Golding foi laureado com o Nobel de Literatura em 1983. Também a minha indicação, humilde porém sincera, de que esse livro é incrível e merece ser lido por aqueles que gostam de estudar e apreciar escritos que perscrutem a condição humana.

Beijinhos, Hel.

GOLDING, William. Senhor das moscas. (Tradução de Sergio Flaksman). 1 ed. Rio de Janeiro: Alfaguara. 2014, 224 p.

Emma - Jane Austen

"Na verdade, os reais perigos da situação de Emma eram, em parte, ter o poder para satisfazer todas as suas vontades e, por outro lado, ser propensa a ter uma autoconfiança extremamente exagerada - essas eram as desvantagens que ameaçavam misturar-se com muitas de suas qualidades." (AUSTEN, 2015, p. 307)

Minhas duas edições de Emma, uma da Martin Claret e a outra da Landmark. A que eu li foi a da MC, mas pretendo ler a versão original na da Landamark porque é bilíngue.

Emma é de longe o romance mais inusitado de Jane Austen. A protagonista, que dá nome ao livro, não é nem um pouco heroína, tal qual Elizabeth Bennet, ou mesmo inocente, como Fanny Price. Emma é o que podemos chamar de patricinha mimada. Rica, bonita, talentosa, ela nem pensa em casar-se, pois não há nada que um homem possa dar a ela que ela não consiga pelos seus próprios meios. Porém, ela tem o péssimo hábito de se meter na vida alheia e, também, querer arrumar casamento para os conhecidos e amigos. E é com esse intuito que ela acolhe Harriet Smith, que é uma moça pobre e ingênua, que toma tudo que Emma fala como a mais pura verdade e se deixa levar pelas palavras dela. Emma, por sua vez, faz de Harriet sua cobaia e brinca com o destino da moça, fazendo ela recusar uma proposta de casamento de um rapaz que Harriet gostava, mas que, aos olhos de Emma, era de uma posição muito inferior.

"[Harriet]Acabará por se tornar uma moça refinada, mas apenas o suficiente para que se sinta incomodada com aqueles com os quais terá de viver em virtude de seu nascimento e posição."(AUSTEN, 2015, p. 330)

Eu diria que o restante da estória se desenrola com Emma tentando achar um casamento proveitoso para a amiga - primeiro com o sr. Elton, depois com Frank Churchill -, mas a verdade é que muito mais coisas engraçadas e também desastrosas acontecem. Emma comete tantos erros com a pobre Harriet que dá pena da garota, ela parece uma marionete nas mãos da "amiga". É claro que Emma também se mete em algumas enrascadas e passa por algumas humilhações, e é isso que deixa essa personagem de Jane Austen tão humana. Muita gente considera Emma a mocinha mais chata da escritora, e, em parte, eu concordo. Emma é o tipo de pessoa que acha que pode tudo porque é rica e poderosa. Apesar disso, percebe-se que ela faz tudo que faz porque quer ver o bem de todos, apenas é um pouco preconceituosa e intrometida. É o tipo de personagem que, apesar de fazer tudo errado, você deseja que se dê bem no final.

Cada romance possui uma ilustração no início. Essa é a de Emma. O marcador é da @casinhadelivro
O único que dá uns choques de realidade em Emma é o sr. Knightley, concunhado dela e grande amigo da família. Ele se sente à vontade na casa de Emma e, por isso, julga-se livre para dizer o que pensa sobre as atitudes da amiga. É claro que Emma não gosta nem um pouco dos sermões que recebe do sr. Knightley, mas, no fundo, sempre reconhece que ele tem razão.

"A vaidade trabalhando em um mente fraca produz muitos tipos de danos." (AUSTEN, 2015, p. 346)

Mas a grande reviravolta da estória - porque nos livros da Jane sempre há aquele plot twist sensacional - não é relacionada nem a Emma, nem Harriet, mas sim, a dois outros personagens, que não vou citar nomes para não estragar a surpresa. E, claro, livros de Jane Austen sempre terminam em casamento, mas será que Emma se casará? Só lendo vocês saberão!

***

É comum, percebo agora que já li quase todos os romances de Jane Austen, alguns elementos se repetirem em suas estórias. Um deles, é um personagem, geralmente masculino, cuja personalidade engana a todos e que, ao final da trama, se mostra mau-caráter e, até mesmo, cafajeste. Digamos que em Emma, temos uma amostra dessa fórmula da Jane, com uma pequena variação. Além disso, outro aspecto recorrente que eu percebi é que os finais dessa autora sempre me parecem apressados, como se fosse o menos importante. Vejo que há muita descrição durante toda a narrativa, mas, quando chega ao final e a mocinha finalmente fica junto do mocinho, tudo é resolvido às pressas e o leitor fica com um gostinho de quero mais enorme! Mas é claro que isso não diminui nem um pouco o meu apreço pelas obras Austenianas. 

Por fim, apesar de ter achado Emma uma protagonista não tão carismática quanto as outras, admiro profundamente a crítica que Jane fez nesse romance, mostrando o quanto as pessoas podem se enganar avaliando os outros apenas pela posição social e pela análise superficial da personalidade alheia. Emma é tão crente que conhece as pessoas que a cercam, que comete os erros mais primários. Ela julga conhecer o pensamento dos outros com base no pensamento dela própria e é aí que todas as confusões se iniciam.

Essa foto é antiga, mas eu amo.

"Com uma imperdoável vaidade, acreditara ser capaz de desvendar os sentimentos dos outros! Com uma irremissível arrogância, propusera-se a criar o destino dos outros!"(AUSTEN, 2015, p. 567)

Recomendo a leitura de Emma para aqueles que já conhecem e apreciam o estilo de Jane Austen. Não é nem de longe um romance tão fluido e animado quanto Orgulho&Preconceito ou Persuasão. Por isso, se você ainda não leu nenhum livro da autora, recomendo começar por outro que não esse.

Beijinhos, Hel.

AUSTEN, Jane. Mansfield Park, Emma, A abadia de Northanger. (Tradução e notas de Alda Porto, Adriana Sales Zardini e Roberto Leal Ferreira). Edição especial. São Paulo: Martin Claret, 2015. 768 p.

TAG: Dias da semana em livros


Olá, leitoras e leitores! Hoje eu vou responder essa TAG que foi criada pela Pam Gonçalves e que consiste em relacionar os dias da semana com livros:

Domingo - Um livro que você não quer que termine ou não quis que terminasse.

O Hobbit de J.R.R Tolkien. Essa foi uma leitura tão divertida que eu li tão rápido, e quando vi já tinha terminado. Fiquei querendo mais.

Segunda - Um livro que você tem preguiça de começar.

As aventuras do Sr. Pickwick de Charles Dickens. Eu comprei esse livro porque sempre quis ler Charles Dickens e porque essa edição estava numa superpromoção na feira do livro que teve ano passado aqui na minha cidade, só que... olha o tamanho desse calhamaço!

São 838 páginas nessa edição da Globo livros! Haja fôlego.


Terça - Um livro que você empurrou com a barriga ou leu por obrigação. 

O pêndulo de Foucault de Umberto Eco. Como eu sou muito insistente, e precisava fazer a resenha, eu li até o final, vai que o final surpreendia. Porém, a escrita era tão pedante, tão rebuscada, descritiva por demais e nada fluída. Enfim, na resenha vocês podem conferir porque eu não curti e demorei quase dois meses para finalizar essa leitura.

Casaubon, Belbo e Diotallevi, não foi dessa vez que vocês me conquistaram.


Quarta - Um livro que você deixou pela metade ou está lendo no momento.

O velho e o mar de Ernest Hemingway. Eu abandonei essa leitura porque estava achando o livro um pouco monótono, mas ainda quero retomar algum dia.

Quinta - O livro de quinta. Um livro que você não recomenda. 

Sementes no gelo de André Vianco. Olha, esse livro é tão mal escrito e a estória tão tosca, que eu não sei como eu consegui finalizar ( na verdade eu tive que finalizar porque foi leitura obrigatória do Clube do livro). A proposta era de ser um livro de terror, mas eu, que sou a pessoa mais medrosa da galáxia, não senti nadinha de medo. Além dos personagens nada carismáticos e dos elementos mal encaixados na narrativa. 

Sexta - Um livro que você quer que chegue logo (lançamento ou compra).

Como eu não sou de acompanhar as novidades e não tenho comprado livros ultimamente, pularei essa pergunta. #sorry

Sábado - Um livro que você quis começar novamente assim que ele terminou. 

Eu poderia encaixar vários livros aqui nessa pergunta, mas se tem um livro que está lá na estante só esperando para ser relido é A elegância do ouriço. Acho que as pessoas não aguentam mais me ouvir falar desse livro. Vão ter que me aturar mais uma vez dizendo que esse livro é o meu favorito da  vida! Tanto eu gostei, que já planejei relê-lo esse ano e já falei disso no post Reler ou não reler? Eis a questão. #sorryagain



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Bom, eis minhas respostas. O que acharam? Quero saber as de vocês!

Beijinhos, Hel.

Fassade - K. S. Broetto


"Ele descobriria se aqueles olhos poderiam pertencer a um anjo como o que habitava as suas memórias, ou se eram olhos de um demônio, de um engodo anunciado para lhe perturbar e levá-lo mais uma vez à beira da insanidade." (BROETTO, 2015)

Fassade é uma publicação independente de 2015 e foi escrito pela K. S. Broetto. Conheci o livro dela pelo Instagram (@fassadelivro) e fiquei completamente apaixonada pela capa, com esse mar misterioso. Posso dizer que esse foi um livro que me fisgou pela estética, a Karol posta tantas fotos lindas, e meio que já criou uma identidade visual para Fassade, com fotos com objetos como âncoras, cordas e fundos que fazem o - possível - leitor se sentir tentado a se jogar no mar dessa estória. E foi o que aconteceu comigo.



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Johan Wells é o misterioso protagonista de Fassade (aliás, se tem um adjetivo que pode ser usado para os personagens e enredo desse livro esse adjetivo é mistério). Fassade já é misterioso no título, pois é uma palavra alemã que significa fachada. Uma fachada é , num sentido figurado, um disfarce, uma máscara sob a qual uma pessoa esconde seu verdadeiro eu. É assim que Johan Wells é apresentado ao leitor que, do início ao fim, tenta descobrir quem ele realmente é. O acompanhamos numa missão, inicialmente procurando por carona para chegar ao seu destino. É então que ele encontra Siegfried, o pirata, que tem uma embarcação chamada Angst (também uma palavra alemã, que significa angústia, que tem um significado muito profundo para Siegfried). Claro que não seria tão fácil assim conseguir a carona de um pirata e, então, Johan precisa mostrar que realmente está disposto a fazer de tudo para ter seu lugar na viagem.

"Somos homens a serviço dos nossos próprios interesses [...]" (BROETTO, 2015)

Johan não imagina, porém, que despertou tanto o interesse de Siegfried, e este acaba desenvolvendo uma fixação pelo jovem franzino de olhos tão peculiares, o qual ele apelida de efebo. Ao se desenrolar a viagem e até chegarem ao destino de ambos, descobrimos um pouco de Johan e Siegfried. Eu disse um pouco, pois Karol entrega só o suficiente para que o leitor fique curiosíssimo por saber mais, mas, ao mesmo tempo, ela nos dá informações que me prenderam demais durante a leitura e me fizeram ler sem parar até eu perceber que já tinha lido metade do livro em uma "sentada" só. Viciante.

A diagramação do e-book é linda demais. Esse marcador eu ganhei em um sorteio no Intagram da @leiaanaleia

É difícil comentar essa leitura sem entregar alguns spoilers, contudo, queria que vocês confiassem na minha opinião: Fassade é maravilhoso! Acredito que o ponto forte desse livro seja os protagonistas, Johan e Siegfried, que são muito bem construídos e possuem histórias de vida muito interessantes; Passados sombrios que moldaram quem eles são no presente. Além disso, o enredo mescla muito bem elementos fantásticos com romance vitoriano, uma mistura que, a princípio, pode parecer um pouco incomum, mas que deu muito certo. Fadas, duendes, sereias e outras criaturas mágicas são inseridas na narrativa, contribuindo ainda mais para a atmosfera mística da história. Apesar de esses seres não terem sido explorados mais afundo em Fassade, acredito - e espero - que a autora vá trazer isso na continuação da história. Sim, migos, vai ter continuação!

"Siegfried estava atônito pelo jovem que o fitava, pensou que o rapaz possuía a aparência de um anjo e o talento de um assassino." (BROETTO, 2015)



Outro adjetivo que pode ser usado para classificar Fassade é surpreendente. Eu esperava da leitura uma estória de fantasia e aventura, mas acabei encontrando, também, um romance lindo de morrer. Não quero comentar muito detalhadamente sobre esse romance para não estragar a surpresa de quem quer ler, só digo uma coisa: shippo forte! É um romance nada convencional e que me arrancou muitos suspiros e expressões do tipo "Não pode ser!?" e "Beija logo!" durante a leitura.

"Ele sabia que não podia se envolver, não podia tirar as máscaras que vestia há tantos anos, pois sabia que, ao tirá-las, arrancaria a própria carne." (BROETTO, 2015)

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Essa foi uma leitura que fiz com uma expectativa bem alta e que não me decepcionou em nenhum aspecto. Tudo que eu esperava de Fassade, eu recebi e ainda mais, foi surpreendente!  É muito bom ver autores nacionais contemporâneos tão talentosos, fazendo um trabalho tão completo e ainda se dedicando ao público. Quando tiverem um tempo eu recomendo que visitem o Instagram da autora @fassadelivro e deem uma conferida no trabalho dela, ela é muito atenciosa e sempre responde os leitores. Vocês também podem adquirir o livro no formato e-book na Amazon e o formato físico no site da autora www.ksbroetto.com.

Beijinhos, Hel.

BROETTO, K. S.. Fassade. Publicação independente. 2015.

É ruim floppar em metas de leitura?

Olá, leitores e leitoras! Tudo bem?

Talvez vocês não se lembrem, mas, no ano passado, fiz uma meta de leitura. O meu objetivo era ler 50 livros, relembrem no post Lendo 50 livros em 2016. Então, basicamente, vim hoje contar para vocês como eu me saí nessa empreitada.

Alguns dos livros lidos em parceria com editoras.


Primeiramente, gostaria de dizer que não consegui bater a meta. É, não deu! Mas todos sobrevivemos, não é mesmo? E não foi nem de longe frustrante para mim. Isso pode parecer conversa fiada de mau perdedor, mas, confiem em mim, não é! 

Eu li 45 livros, e resolvi fazer um balanço das leituras com base em alguns critérios. Mas, primeiro, vamos aos títulos, por ordem em que foram lidos:

#5 O restaurante no fim do universo - Douglas Adams
#6 Zizz e a mulher em pó - J. C. Zeferino
#7 As aventuras de Sherlock Holmes - Arthur Conan Doyle
#15 Sejamos todos feministas - Chimamanda Ngozi Adichie
#17 Cansei de ser gato:do capim ao sachê - Amanda Nori e Stéfany Guimarães
#18 O fantasma de Canterville - Oscar Wilde
#23 Admirável mundo novo - Aldous Huxley
#24 Felizmente, o leite - Neil Gaiman
#40 O sol é para todos - Harper Lee
#41 Fassade - K. S. Broetto
#43 Emma - Jane Austen
#44 Senhor das moscas - William Golding
#45 É fácil matar - Agatha Christie

Considero essa lista incrível, pois, de todas essas leituras, não há quase nenhum livro que eu tenha me arrependido de ler (salvo duas exceções, mas não vamos dar nome aos bois nesse caso). Foi um ano conturbado, cheio de novidades, sem falar no TCC que consumiu muito do meu tempo, mas que valeu muito a pena todo o sacrifício, no final.

Leituras variadas (não de parceria) de 2016.


Antes de terminar, gostaria de fazer uns comentários sobre as minhas leituras. O primeiro é que li mais autoras mulheres do que homens! Foram 24 mulheres lidas em 2016, isso é maravilhoso!
Além disso, li somente 9 autores brasileiros. É um número baixo, eu sei.
Mas um número bom e que me deixou surpresa foram os 7 livros infantojuvenis que li! Normalmente esse tipo de livros é um pouco deixado de lado pelos leitores, mas eu gosto muito e pretendo continuar lendo até ser velhinha, haha.
Uma última curiosidade é que eu fiz apenas 1 releitura! Se é que posso dizer que Coraline foi uma releitura, já que, dessa vez, eu li em inglês. (Vocês acham que isso conta como releitura?)
Sobre as parcerias: foram 3 leituras feitas em parceria com autor(a) e 17 leituras feitas em parceria com editora. Um número bem expressivo e que mostra o quanto as parcerias influenciam aqui no blog!

***

Por fim, gostaria de dizer que em 2017 eu não vou fazer meta de leitura, mas não tem a ver com o fato de eu ter floppado a minha meta de 2016. Como eu disse, isso não me afetou. Mas sim porque eu vi o quanto eu ficava ansiosa com o fato de não estar conseguindo cumprir a meta e também por conta do mais óbvio: são apenas números! Eu tenho certeza de que nesse ano vou ler bastantes livros também, talvez até mais que 50, ou menos, mas quem se importa? O que importa é fazer leituras legais e conhecer autores novos, não é mesmo?
É claro que eu precisei passar por essa experiência para saber como seria e foi um aprendizado bem importante. E vocês, como lidam com isso?

Beijinhos, Hel.

O duque e eu - Julia Quinn

É uma verdade universalmente conhecida que toda fã de Jane Austen lamenta a autora ter escrito tão poucas obras em sua vida. É o meu caso. Sinto que "economizo" na leitura dos livros da Jane Austen, pois estou a dois romances de terminar as obras dela. Jane Austen foi a escritora que me apresentou ao mundo dos romances de época, dos vestidos esvoaçantes, diálogos cheios de ironias e indiretas e dos bailes. Meu primeiro crush literário foi Mr. Darcy. E Jane Austen escreve TÃO BEM! Pois bem, deixemos de enrolação, por que estou falando tudo isso? Porque a autora de O duque e eu, Julia Quinn, foi apontada como "a nova Jane Austen". Como eu poderia passar incólume por uma coisa dessas? É claro que fiquei curiosíssima.

***

Apesar de essa série se chamar Os Bridgertons, pode-se dizer que o personagem principal de O duque e eu é Simon Basset, o duque de Hastings. Ele foi uma criança renegada pelo pai por aprender a falar muito tardiamente e por sofrer de gagueira, e nunca superou tal fato. O pai o humilhou e chegou a dizer que o filho havia morrido (!), o que fez com que Simon tivesse a determinação suficiente para passar por cima de suas dificuldades de fala. Simon odiava o pai com todas forças.

"Se não podia ser o filho que o pai queria, então seria exatamente o oposto." (QUINN, p. 15)

Depois de 6 anos viajando o mundo com o dinheiro do pai que ele tanto odiava (irônico, não?) ele volta a Londres e, assim como quando Mr. Bingley chega à Meryton, em Orgulho&Preconceito, todas as mães ficam alvoroçadas com a possibilidade de casarem suas filhas solteiras com um homem de posses como o duque de Hastings. O que Simon mais temia era isso, pois ele tinha o firme propósito de nunca se casar, entre outras coisas, somente para desagradar o pai, mesmo ele já tendo falecido. É então que ele conhece Daphne Bridgerton, irmã de seu melhor amigo, Antony Bridgerton. Depois de um primeiro encontro inusitado, eles decidem se afastar. Ela porque não queria ser vista ao lado de um homem libertino como Simon, e ele para respeitar a irmã do melhor amigo.



Daphne Bridgerton é uma moça um pouco à frente de seu tempo, que quer se casar por amor (e todo aquele papinho que já ouvimos em Orgulho&Preconceito, diria que ela é uma cópia bem barata da Lizzie Bennet). O problema é que a mãe dela, a Viscondessa Violet, está desesperada para casá-la, pois, assim como em Orgulho&Preconceito (nossa isso tá ficando cansativo) Daphne tem irmãs mais novas solteiras e precisa se casar o quanto antes. O problema é que os homens só a enxergam como amiga, e os que têm interesse por ela são muito velhos, ou muito novos, ou sem-noção.

Depois de alguns encontros, Simon e Daphne têm o plano mais mirabolante: Simon finge fazer a corte a Daphne, assim, ela passa a chamar a atenção dos homens e ele evita as mães e pretendentes nos bailes. AÍ EU PERGUNTO PRA VOCÊS: TEM COMO ISSO DAR CERTO? Até parece que eles não iam se apaixonar nessa historinha de finge que me paquera, eu finjo que gosto, blábláblá. Tem que ser muito burro pra não adivinhar qual vai ser o final da história, porque seguir essa fórmula de filme da sessão da tarde já tá muito manjado!

"Os dois haviam se tornado excelentes companhias um para o outro, e em seus encontros eles se alternavam entre confortáveis períodos de silêncio e diálogos animados. Em todas as festas, dançavam juntos duas vezes - o máximo permitido para não escandalizar a sociedade." (QUINN, p. 127-128)

Bom, se tem algo de original e divertido nessa história toda, eu diria que é a Lady Whistledown, a colunista de fofocas que parece ter espiões dentro das casas das famílias e que está viciando a todos com as suas revelações bombásticas e comprometedoras sobre a sociedade londrina. 

O que falar do livro sem dar muitos spoilers? Posso falar que Simon é bobo e tem o motivo mais besta do mundo para não querer se casar. Daphne tem seus poréns, mas, ainda assim, gostei dela, ela segue seus propósitos e é bem decidida. Obviamente que os protagonistas dessa história não tem 1% da profundidade dos coadjuvantes dos livro da Jane Austen (fui um pouco má, agora), mas posso dizer que foi uma leitura divertida em alguns momentos, apesar de no final tudo ter ficado muito forçado e as cenas de sexo dominarem boa parte da narrativa. Parecia que a autora resolvia tudo com sexo. Daphne ofendia Simon? Resolver na cama é a solução! Simon abandona Daphne no meio de uma briga? Fazem as pazes na cama! Sem comentários. Sobre as descrições das cenas calientes, diga-se que a linguagem é aquela clichê usada nos romances de banca, muito adjetivada e com orgasmos pra todos os lados. Só digo isso. Tirem suas conclusões a partir daí.

Por fim, se eu fosse a Jane Austen estaria me revirando no túmulo por ser comparada com Julia Quinn. Nada contra quem gostou e leu a série, mas quem está acostumada a ler romances de época como os das irmãs Brontë ou da própria Jane Austen sabe que há um refinamento na narrativa, preciosidades nas entrelinhas e personagens muito mais verossímeis à época em que os romances se passam. As reviravoltas são muito mais intrigantes e cada personagem é tão bem escrito que desenvolvemos sentimentos em relação a eles. Nem sempre sentimentos positivos (eu ouvi Heathcliff?), mas isso é porque essas autoras conseguem dar muita verdade aos personagens que escrevem.

Bom, encerro aqui meu comentário sobre essa leitura. E vocês já leram esses romances de época que são contemporâneos? Acham o que dessas histórias? Me contem nos comentários.

Beijinhos, Hel.

QUINN, Julia. O duque e eu. (Tradução de Cássia Zanon). São Paulo: Arqueiro, 2013. 288 p.