A árvore da mentira - Frances Hardinge

Olá, leitores!
Meu nome é Julya, eu sou a nova colaboradora da Helena aqui no Leituras&Gatices e gostaria de começar com uma questão: Vocês já mentiram?
Talvez essa pergunta seja retórica, todos mentem. E existem razões para mentirmos: comodidade, boa vontade, mentir por mentir. Mas já pensou no poder que as mentiras têm? Afinal, por meio de uma mentira, pode-se dar confiança a alguém, ou destruí-la emocionalmente, pode-se ajudar ou prejudicar.

A mentira é como uma fogueira, Faith estava aprendendo. Primeiro precisa ser nutrida e alimentada, mas com cuidado e gentileza. Um sopro delicado atiçaria as chamas recém-nascidas, mas uma baforada vigorosa demais as apagaria. Algumas mentiras ganham corpo e se espalham, crepitando de empolgação, e não precisam mais ser alimentadas. Mas então estas não são mais as suas mentiras. Têm vida e forma próprias, e não há como controlá-las. (HARDINGE, p. 205, 2016)

De certa forma, parece estranho começar a resenha assim. Contudo, essas pequenas questões, presentes no parágrafo acima, surgiram durante a leitura de A árvore da mentira. O livro, escrito por Frances Hardinge, traz o poder que uma mentira tem, seja a que contamos para os outros ou para nós mesmos.

A editora enviou, além do livro, marcadores, uma carta misteriosa e uma semente.

Na história, com a promessa de novas descobertas e de fugir de um escândalo, o reverendo Eramus Suddenly leva sua família – sua esposa Myrtle, sua filha Faith e seu filho Howard e o cunhado - para Vane, uma remota ilha na Inglaterra. Lá, a família causa antipatia nos habitantes, tornando a vivência extremamente difícil. E tudo isso se intensifica com a morte do patriarca da família.
Primeiramente, gostaria de falar dos personagens. Uma que me impressionou foi a Faith, a protagonista. A forma como ela é desenvolvida é muito interessante, pois ela consegue ser manipuladora e ingênua ao mesmo tempo. Ademais, é uma personagem fácil de se identificar, devido a sua relação com a família. Ela é a única filha mulher, num século em que ser mulher não tinha valor algum. Por isso, ela era menosprezada e ignorada pelo pai, e, em alguns momentos, tratada como empregada pela mãe.

Aberrações da natureza, dizia o rótulo central.E é isso que eu sou, pensou Faith, sentindo enjoo. Um cérebro pequeno de mulher com coisa de mais enfiada dentro. Talvez seja esse o meu problema. [...]. (HARDINGE, p. 52, 2016).

Ela deseja ter uma relação real com pai, devido ao seu amor pela ciência e a necessidade, por assim dizer, de ser reconhecida como um ser inteligente. Por isso, com a morte do pai, ela acredita ser responsável por encontrar os assassinos, embora o livro não deixe claro se as circunstâncias do falecimento apontam para um assassinato. E no meio das pesquisas, ela descobre a árvore da mentira.
A planta possui propriedades míticas, pois se alimenta de mentiras e é capaz de produzir frutos que permitem descobrir segredos alheios. Faith cria uma relação de amizade e proteção com a árvore, quase como se estivesse transferindo o amor do pai para a planta. Entretanto, embora seja o titulo do livro, a árvore tem uma função de ferramenta usada pela protagonista, e não o elemento principal. Então, se espera uma historia mítica, lamento, mas esse não é o foco do livro, mas sim o crescimento psicológico e emocional de Faith. E isso é visível nos momentos após o encontro com a árvore.


E é nesse momento que mostra-se quão manipuladora ela é. Ela começa a contar mentiras, construindo histórias, que afetarão a cidade inteira. Confesso que no começo achei pouco crível uma adolescente de catorze anos ter tamanha perspicácia acerca da mente humana, mas, novamente, a maneira como ela vai sendo desenvolvida torna essa característica possível e, até, lógica. Isso deve-se a forma como a ingenuidade da protagonista é apresentada, pois, embora consiga manipular, ela tem dificuldade de entender aspectos da sociedade na qual ela está inserida. Um exemplo disso é ela não entender os riscos para a família caso o pai seja declarado um suicida. Isso porque, antigamente – no livro não fica claro o século em que a história se passa -, quando alguém se matava, o indivíduo não poderia ser enterrado no cemitério, por ser solo sagrado, e os parentes não receberiam a herança.
Esse é outro ponto positivo, a adequação histórica. Percebe-se que a autora realmente se importou em trazer algo verossímil, pois ela apresenta a teoria de que o tamanho do crânio tem relação com a inteligência das pessoas, e que muitas vezes, era utilizada para “diminuir” as mulheres, por exemplo. Ademais, ela apresenta um personagem canhoto e como isso era tratado.
Por fim, posso concluir que adorei o livro. Os personagens são interessantes e o jeito como descobrimos o que realmente aconteceu com o reverendo Suddenly é surpreendente (eu, pelo menos, fiquei chocada). Além disso, a escrita da autora é fluída e gostosa de ler, do tipo que não se consegue largar depois que começou. E eu, com certeza, gostaria de ler mais livros da Frances Hardinge.
Espero que tenham gostado dessa resenha, pois é minha primeira aqui no blog, então comentem o que acharam, se já leram o livro e se gostaram ou não.
Tchau e até a próxima.


HARDINGE, Frances. A árvore da mentira. 1ª ed. Barueri: Novo século, 2016. 304 p. Tradução de Caio Pereira.

[TAG] Conhecendo o meu acervo

TAG
Olá, leitores! Hoje eu vou responder essa TAG que a queridíssima Thamiris, do blog Historiar, criou e me indicou!
Eu achei muito legal porque a TAG permite que os leitores possam conhecer a estante e alguns livros de quem responde. Antes de mais nada, vou logo dizendo que minha coleção é bem humilde e que, por falta de espaço, eu não tenho uma estante, meus livros são bem bagunçados e a organização deles não é esteticamente tão legal, mas o que importa é que é o meu cantinho. Vamos às perguntas e respostas:

Foto: Historiar
1- Qual a lombada mais chamativa do seu acervo de livros?

Sem sombra de dúvidas é essa com três obras da Jane Austen nessa edição LINDA da Martin Claret. Esses detalhes em dourado e a fonte são de babar. Esse é um livro que é lindo por dentro e por fora, e por isso é um dos meus xodós. 💜📚 Ele é tão maravilhoso que eu fiz um review aqui no blog.



2- Quantos livros o seu acervo possui?

Segundo a contagem da minha estante no Skoob, tenho 70 livros. #andcounting

3- Conte os livros em ordem até 15. Qual é o livro? Fale um pouquinho sobre ele.

Extraordinário. Comprei esse livro sem conhecer nada da estória, achei a capa bonita e levei para casa. E foi uma grata surpresa. É uma estória muito linda que acabou fazendo muito sucesso. Fiquei sabendo que vai sair adaptação cinematográfica com o fofinho do Jacob Tremblay (O quarto de Jack) e a fabulosa Julia Roberts que dispensa apresentações.

4- Conte os livros em ordem até 20. Qual é o livro? Fale um pouquinho sobre ele.

O fantasma, de Robert Harris. Esse ganhei de presente de natal há dois anos atrás. Conta a estória de um escritor fantasma que está escrevendo a biografia de um político e tudo vai muito bem até que... o tal político se envolve em crimes de guerra! É muito legal esse romance, pois eu nunca tinha parado para pensar em quem escreve os livros para personalidades e famosos, na profissão de ghost writer.

5- Escolha um livro com a lombada branca e fale um pouco sobre ele.

Holy cow: uma fábula animal, de David Duchovny [resenha]. Ele conta a estória de Elsie, uma vaca que descobre da pior forma que seu destino é virar comida e resolve viajar para a Índia, já que lá as vacas são sagradas. Uma estória muito divertida e cheia de referências pop.

6- Como você costuma organizar os seus livros?

Eu organizo por altura, fica uma escadinha. Os livros que são de um mesmo autor ou de série, normalmente, são do mesmo tamanho, então, não fica confuso assim. Mas estou pensando em mudar essa configuração, só não sei como. Aceito dicas, rsrs.

7- Qual foi o último livro que você adquiriu?

Lugar nenhum, do Neil Gaiman [resenha aqui]. Comprei de uma livreira que eu conheço, a Carol, que sempre tem edições de livros raros ou difíceis de encontrar.



8- Quais os livros mais antigos do seu acervo?

Eram os deuses astronautas?, de Erich Von Däniken. Tenho esse livro há bastante tempo, ele surgiu lá em casa misteriosamente. É uma edição que já dá para perceber que é velhinha só pela aparência. E A hospedeira, da Stephenie Meyer, que foi o primeiro livro que comprei com o meu dinheirinho, na primeira vez que entrei em uma livraria, fiquei emocionada aqui, gente.




9- De quais autores você tem mais livros?

George R. R. Martin, por causa do box de As crônicas de gelo e fogo, eu tenho os cinco livros já lançados da série. E também tenho quatro livros da Jane Austen, entre eles Persuasão da L&PM pocket, Emma numa edição bilíngue da editora Landmark, Mansfield Park, Emma e A abadia de Northanger que estão inclusos numa única edição da Martin Claret e da mesma editora tenho Orgulho&Preconceito.

 Eu não recomendo a  compra desse box. Depois que eu terminei de ler o primeiro livro, A guerra dos tronos, ele não coube de volta dentro do box. Além de a edição não ter orelhas, e as páginas são brancas quase transparentes. 


10- Tire uma foto do acervo.


Essa é a primeira parte dos meus livros, ficam numa prateleira suspensa. Como vocês podem ver, não tenho muito critério: misturo autores, editoras, teóricos com ficção... Ó as minhas gramáticas lá no final.
A segunda parte dos meus livros fica em baixo da prateleira, ficam misturados aos xerox da universidade, cadernos, cadernetas, post-its e pastas.
TAG dada, TAG respondida!

Para responder a TAG, eu indico a Tainan do Eu curto Literatura, a Lívia do Check-in virtual e as meninas do Entrelinhas Fantásticas, Thalita, Denise e Jack!

Me contem sobre a coleção de livros de vocês. Como organizam, quais os critérios, quais livros são os xodós de vocês?


Beijinhos, Hel.

[Resenha] A mala e o menino

"Era uma vez uma mala.
Essa mala tinha um menino."

A capa do livro com ilustração de Alisson Aguiar

O conto “A mala e o menino” está no livro “Em contos” da autora Milla Souza. Ela me disponibilizou o conto para que eu resenhasse e divulgasse aqui no blog. Eu me interessei muito por essa parceria, pois acho que a literatura infantil é muito importante para a formação dos leitores e, ao mesmo tempo, muito pouco abordada nas mídias. Parece que, só agora, a literatura infantil está saindo das margens e ganhando público, e isso é muito bom! 
A Milla tem um projeto muito bacana que visita escolas divulgando seu livro. E posso garantir que ela é uma ótima escritora (bom, pelo menos pelo conto que eu li).

***

Juquinha é o protagonista e, logo no início do conto, sofre com a perda de sua mãezinha. Mas Juquinha – que na verdade é Thiago – não é um menino qualquer! Ele tem uma mala. Assim como os adultos de “O pequeno Príncipe” que não entendem que um desenho não é um chapéu, mas sim uma cobra que engoliu um elefante, os adultos dessa estória também não entendem porque Juquinha conserva aquela mala e porque dá tanto valor às coisas simplórias que há dentro dela:

“Na mala, o menino dizia guardar a maior riqueza do mundo.”

Juquinha fica muito triste quando sua mãe o deixa e passa a dormir dentro da mala. Certa noite, ele sonha que está num lugar muito diferente; lá, ele encontra um peixe falante, uma pedra falante e até uma árvore falante:

"– Quem é você?
– Sou o Juquinha. E você quem é?
– Como, quem eu sou? Eu sou um peixe, será que você não vê?
– Nunca vi peixe que fala!
– Eu também nunca vi menino falar com peixe!
– Então estamos empatados?
– Acredito que sim."


A maior parte da narrativa se passa nesse mundo do sonho o qual é chamado de Lá. Muitas coisas curiosas e intrigantes acontecem e o leitor vai descobrindo com Juquinha que a lógica nem sempre faz muito sentido!

***

A leitura do conto “A mala e o menino” foi uma experiência muito legal. Apesar de ser um conto curto, a autora soube abordar temas complicados da infância com uma escrita objetiva e ao mesmo tempo poética:

“Pouca gente fala disso, as pessoas morrem. Para onde elas vão?
Eu não sei responder; certamente a mãe do juquinha foi para dentro do coração do menino. Alguns meses depois, ele voltou a sorrir o meio sorriso que levaria por um tempo no rosto.” 

Achei legal, também, o modo como a autora narra, como se falasse ao leitor, que nesse caso é um leitor mirim, e achei muito interessante, como se pode perceber no trecho acima. É como se ela suscitasse, na criança que lê, questionamentos, durante a leitura, e eu acho isso muito importante, já que estamos acostumados a ver tantos livros com “moral da história” e que tentam passar um “ensinamento” para as crianças. Por que não ensinar as crianças a questionar ao invés de dar respostas à elas? A escrita poderia ser simples, por se tratar de um conto para crianças, mas a autora não subestimou seus pequenos leitores e fez uma narrativa com metáforas, inclusive. A metáfora principal creio que seja a da mala, que quando o menino está triste, em certo momento da estória, fica pesada, como o coração dele deveria estar, mas, enfim, essa é a minha interpretação...
Achei, também, que o conto possui uma linguagem poética, uma forma de narrar muito sutil e que dá uma leveza embora o teor seja triste, como se quisesse mostrar ao leitor que a tristeza faz parte da natureza de quem já amou e perdeu aquele que estimava.
Vou colocar, aqui, três trechos que eu achei muito lindos e que pensei ser legal compartilhar com vocês, para ilustrar a poesia e a beleza da escrita da Milla:

“NÃO IMPORTA O TAMANHO DO SER, NINGUÉM É CAPAZ DE MEDIR O TAMANHO DO AMOR QUE ELE PODE DAR.”

“ERA COLCHA DE ACOLHER MENINO QUE SENTE SAUDADE DA MÃE. PARECIA UM ABRAÇO.”

“[...] PORQUE DOR DIVIDIDA É MAIS FÁCIL DE CARREGAR .”


Lindo, não?

Eu encerro esse post com um questionamento: estamos ensinando nossas crianças a pensar ou apenas a reproduzir as respostas que recebemos?
***

O livro pode ser adquirido pelo e-mail: contato@millasouza.com.br após o lançamento pelo valor de R$25,00 (incluso o frete) e o livro irá autografado.

Beijinhos, Hel.

SOUZA, Milla. A mala e o menino in:____ Em contos. 2ª ed. Franca: Milla Souza Casa e Editora, 2016. Ilustrações de Alisson Aguiar.

Como eu leio? Estratégias de leitura para resenhar livros

Olá, leitores e leitoras!
Hoje vamos conversar sobre um tema diferente, mas que está intrinsecamente relacionado ao mundo dos livros: estratégias de leitura. Muita gente fala que gosta das minhas resenhas, principalmente a estrutura e como ficam claras as partes em que apresento o resumo e a crítica, pensando nisso, resolvi mostrar e compartilhar com vocês as estratégias que utilizo durante a leitura e como isso me ajuda na hora de resenhar um livro. 
AVISO: essas estratégias dão certo comigo, o que não significa que darão necessariamente certo com você, leitor. :)

***

Muita gente, quando quer resenhar um livro que já leu faz algum tempo, costuma esquecer de detalhes importantes do enredo e da narrativa, por isso, eu costumo sempre fazer anotações - dentro do próprio livro - para que o conteúdo seja sempre lembrado. Para fazer essas anotações, eu costumo usar um post-it médio de papel, daqueles que dá para escrever em cima, e os coloco, via de regra, no início e final dos capítulos, num espaço que não atrapalhe a leitura.

 Na foto, vocês podem perceber que eu fiz algumas anotações mais extensas, como um questionamento ou reflexão que surgiu da leitura.
Outra estratégia que eu uso, e que muitos de vocês também devem usar, são as famosas flags, aqueles post-its pequenos. Eu normalmente as uso para marcar as citações que por ventura acho bonitas ou que são frases chave para o entendimento da estória. Quando eu preciso colocar alguma citação na resenha, fica muito mais organizado para achar.

As minhas preferidas são essas transparentes, pois não "tapam" a escrita. E gente, eu sou aloka das flags, quando vejo o livro já está lotado! E quanto melhor o livro, mais flags ele tem, como no exemplo da foto, o fabuloso A cor púrpura.
Uma estratégia que eu raramente uso em livros de literatura, mas que eu uso sempre nos textos teóricos, é realçar com marca texto. E depois que eu descobri esses marca textos em gel, que não transferem para o outro lado da folha nem mancham, fiquei apaixonada. Eu sei que tem muita gente que tem pavor de riscar os livros, mas aí é uma questão de gosto, eu não me importo, até escrevo nos meus livros, mas de lápis, nunca de caneta.

A estratégia do realce, assim como a da flag, é ideal para marcar citações mais pontuais.
E a quarta e última estratégia que uso e que me ajuda demais, principalmente nos casos em que demoro para ler ou quando faz tempo que li o livro, é o resumo. Essa foi uma estratégia que adotei faz pouco tempo, mas que tem se mostrado muito eficaz. Não é raro eu usar excertos desses resumos que faço durante a leitura para compor as minhas resenhas, prova de que os resumos adiantam e me poupam de um tempo que eu teria que ficar lembrando para escrever. Eu escrevo esses resumos, para quando eu preciso resenhar o livro, num caderninho exclusivo do blog, aí, eu nunca esqueço o lugar onde escrevi. É uma boa alternativa, também, ter um caderno de leituras, muitos blogueiros e booktubers usam essa ferramenta e ela serve para fazer uma espécie de fichamento do texto.
A estratégia de resumir é uma das que mais me ajuda e, muitas vezes, só ao resumir eu já assimilo a informação, não precisando retomar o resumo depois para lembrar. Essa estratégia é a que mais uso quando leio textos teóricos, mas aí já é outra conversa.

Olha aí meus aliados na leitura :)

Estratégia bônus: converse sobre o livro que está lendo com seus amigos, isso ajuda muito! É claro que nem sempre nós encontramos pessoas que já leram ou estão lendo o livro que estamos lendo, mas que tal mostrar para o mundo o quão legal - ou não - é o livro que você está lendo?! Para isso podemos usar nossas redes sociais ou falar mesmo, naquela conversa informal de intervalo, ou em grupos de leitores na internet. Além de você estar assimilando a estória do livro, você ainda incentiva mais pessoas a lê-lo, que tal? 

***

Sei que muitos dos meus leitores leem muito, muito mesmo, e que nem sempre lembramos de tudo, por isso, eu espero tê-los ajudado com esse post. Quero que vocês me contem nos comentários quais as estratégias de leitura de vocês e se vocês usam alguma estratégia que eu não uso, vamos nos ajudar!

Beijinhos, Hel.

Uma vida entre os livros

Olá, leitoras e leitores! Eu sei que hoje é segunda-feira e eu deveria estar postando uma resenha, mas eu preciso me desculpar e dizer que eu tentei! Manter a frequência de postar uma resenha por semana é complicado quando se administra um blog sozinha, ainda mais pelo fato de eu estar muito atarefada com os compromissos da universidade e dos projetos de extensão dos quais eu faço parte, e mal ter tempo de ler livros que não sejam os teóricos e artigos científicos. Por isso, hoje não terá resenha, mas prometo que semana que vem tudo volta ao normal.
Na tentativa de um pedido de desculpas a vocês, eu resolvi postar um texto que produzi para a disciplina de Escrita Criativa do meu curso, Letras. Trata-se de uma autobiografia, mas não é nada de mais, hein. Como não havia tempo hábil para a produção de um texto mais extenso e elaborado, resolvi focar em apenas dois aspectos da minha vida: a minha paixão por livros e como isso influenciou na escolha da minha profissão. Logo, escrevi sobre como me tornei uma leitora, como o blog tem me feito feliz e como eu sei que esse é o caminho certo para a minha vida! Apreciem o texto e não deixem de me contar o que acharam:

***

Uma vida entre os livros

“Vivia nos livros mais que em qualquer outro lugar”
Neil Gaiman em O oceano no fim do caminho

Helena, não a de Troia. Na infância dava aulas para meus bichinhos de pelúcia, hoje, estou quase apta a dar aulas para pessoas. Pessoas! A brincadeira de criança tornou-se profissão. No fundo eu sempre soube que seria professora, pois eu adorava ir à escola e adorava praticamente todas as disciplinas, adorava os professores e me esforçava ao máximo para tirar nota máxima em todas as disciplinas. Eu era uma nerd. E até hoje sou, e não tenho vergonha disso. Pelo contrário, me orgulho muito de levar a educação e a minha formação a sério, uma qualidade que falta em muitas pessoas atualmente.

Quando precisei escolher um curso na universidade, eu não pestanejei: seria Letras. Eu nunca tive dúvidas quanto a isso, sempre foi a única opção. E os motivos eram óbvios: o meu gosto pela leitura – que na época era um amor latente, esporádico, só esperando para florescer.
Assim que comecei o curso de Letras, não imaginava que a minha paixão pela educação e pelo ensino fosse tão grande, acredito que ela tenha crescido em decorrência da minha escolha. Ensinar Literatura e línguas, para mim, de repente se tornou a coisa mais interessante do mundo, algo que eu acho que todos devem ter acesso e, por isso, eu quero ensiná-las.

Concomitantemente ao meu ingresso no curso de Letras, e devido a paixão que adquiri pela Literatura nas disciplinas do curso, acabei criando um blog literário na internet, o que, a meu ver, foi uma das melhores coisas que fiz nos últimos tempos. O objetivo desse meu blog é incentivar a leitura e o gosto pelos mais diversos gêneros narrativos e literários. Foi por meio dos textos e resenhas que escrevia em meu blog que acabei conhecendo muita gente, outros blogs e, por conseguinte, muitos livros que eu nunca tinha ouvido falar. Além de conhecer novos autores, novas editoras e novas formas de pensar a língua e a Literatura. Hoje, não me vejo fazendo outra coisa: quero continuar incentivando a leitura, o gosto pela Literatura.

Foi com o curso de Letras que me apaixonei por Clarice Lispector e todo o seu mistério, foi na biblioteca da universidade que encontrei despretensiosamente uma tal de Jane Austen que é hoje uma das minhas melhores amigas, foi nesse mesmo lugar que conheci o drama e a tragédia de Shakespeare. Foi nessa época que conheci um pequeno Hobbit que mora numa toca no Condado e seus “amigos” anões. Foi me aventurando no cheiro gostoso e milenar dos livros que conheci milhares de outras vidas e pessoas, e quando olho para aqueles livros eu vejo neles amigos, histórias, sentimentos, aventuras. Os livros são meus amigos.

Essa é a minha saga, o caminho que percorri, acompanhada de muitos livros, bichinhos de pelúcia e professores maravilhosos que me transformaram no que sou hoje, uma incentivadora de leitores!

***

Foto: arquivo pessoal
Beijinhos, Hel.

A guardiã de Histórias – Victoria Schwab

Mackenzie Bishop é uma guardiã de Histórias. Histórias são invólucros, corpos, que guardam as memórias vividas pelas pessoas enquanto estavam vivas, Histórias não são fantasmas, como imaginei ao começar a leitura. Essas Histórias ficam em gavetas, no Arquivo, guardadas por Bibliotecários:

“Imagine um lugar onde, como livros, os mortos repousam em prateleiras.”

Acontece que esses mortos, às vezes, acordam desorientados, confusos, violentos e, na maioria das vezes, são crianças. Eles ficam vagando pelos Estreitos, que é uma espécie de limbo entre o mundo real e o Arquivo, e que só os Guardiões têm acesso por meio das chaves especiais que cada um possui e que abrem portas para esse lugar. Quando Histórias se desgarram, elas precisam ser colocadas de volta no Arquivo, e é aí que entram em ação os guardiões.


Eu não sou muito de ligar para capas, mas essa tá um arraso. Sem falar na textura do papel, que parece cremosa.
Mackenzie é uma adolescente que “herdou” a função de Guardiã de seu avô, que ela carinhosamente chama de Da. Ela esconde essa sua vida dupla de todos, incluindo sua família, que está passando por um período de luto devido à morte de Ben, seu irmão de dez anos. No início da estória, eles se mudam para um apartamento novo, que se localiza no local onde antes funcionava um hotel, o Coronado. O Coronado é um lugar antigo e cheio de mistérios, incluindo várias portas que levam para os Estreitos e várias histórias em cada objeto. Mackenzie, por ser uma Guardiã, possui alguns dons e um deles é poder ler os objetos, só ao tocá-los e, assim, fica sabendo tudo o que aconteceu ao redor daquela superfície. Certo dia, curiosa pela história de seu apartamento e para saber quem morou ali antes, ela toca no assoalho e descobre que ali aconteceu um assassinato, muitos anos antes. Ela visualiza toda a cena: uma garota loira sendo assassinada e o assassino fugindo e, então, fica muito curiosa e aterrorizada com o que viu. Logo, Mac decide investigar os livros de moradores do Coronado. Contudo, ela não encontra nenhuma pista e fica horrorizada quando descobre que vários registros foram “apagados” dos livros do prédio. Dúbio. E é aí que começam os problemas de Mackenzie.
Concomitantemente ao que ela descobre no Coronado, começam a surgir Histórias alteradas no Arquivo, pessoas cujas memórias ou partes delas foram apagadas estrategicamente, e essas pessoas têm uma relação com o local. Em meio às investigações, Mac acaba conhecendo um morador misterioso e sedutor, Wesley Ayers, e, nos Estreitos, conhece Owen, uma História que contradiz tudo o que Mac sabia – ou achava que sabia – sobre sua vida. Esses dois personagens se tornam peças fundamentais para que Mac resolva o mistério do Coronado e do Arquivo, um será sua ruína e outro sua salvação.

***

A guardiã de Histórias é uma mistura de Young Adult com fantasia que resultou numa estória envolvente e misteriosa, graças à narrativa muito bem ambientada e ao enredo original.
A temática da morte é comum em várias obras da literatura de todos os tempos, é algo com que nós, humanos, temos dificuldade de lidar, mas que, ao mesmo tempo, é a única certeza absoluta que temos. Contudo, em A guardiã de Histórias a autora nos coloca diante da fantasia de que nossas memórias, lembranças e existência não se vão com a morte, e isso seria uma coisa muito boa, não é mesmo?

“Era o que me deixava triste por causa da morte, mais até do que a gente não poder viver mais, o fato de perdermos todas as coisas que a gente passou a vida coletando, todas as lembranças e o conhecimento.”

Acho que a autora conseguiu trabalhar bem o modo como cada personagem lida com a morte de seus entes queridos. Me identifiquei muito com a Mac e com o Wes, com o universo criado pela autora, embora eu ache que tenha algumas falhas, e com a narrativa que intercala entre primeira pessoa, quando Mac narra, e momentos em que o leitor se depara com memórias dela, diálogos que ela teve com o avô quando ele ainda era vivo e que funcionam como uma espécie de informativo, no qual sabemos como funciona o mundo dos Guardiões. Esses diálogos são apresentados com uma diagramação diferente, em negrito.



Achei a estória bem adolescente, os jovens gostarão do universo fantasioso e personagens carismáticos. Mac é uma garota de 16 anos que só quer ser normal, Wes é o vizinho novo e sedutor, apesar disso, não são aqueles personagens “perfeitos” do tipo que chegam a se tornar inverossímeis, pelo contrário, eles erram e se deixam influenciar pelos momentos e situações. É um livro que teria adorado ler na minha adolescência, mas que, hoje, funciona para mim como uma leitura de distração, entretenimento.
Sobre a revisão, não poderia deixar de comentar alguns erros ortográficos que encontrei, além do normal, quem me conhece sabe que isso me desanima durante a leitura. A capa e diagramação, todavia, estão lindas.
Como eu disse anteriormente, recomendo esse livro para adolescentes, pois a linguagem é simples, a narrativa é boa e o universo criado é bem singular, diferente de todos que costumamos ler. Fiquei um pouco decepcionada ao saber que o livro terá uma continuação, que a julgar pelo final do livro, a meu ver, é desnecessária. 

Beijinhos, Hel.

SCHWAB, Victoria. A guardiã de Histórias. 1ª ed. Rio de janeiro: Bertrand Brasil, 2016. 315 p. Tradução de Daniel Estill.

Leituras de abril

Olá, leitores e leitoras!
Vim contar para vocês quais foram os livros que li no mês que passou - mês mais lindo do ano. 
Eu vou de novo repetir aquele tão famigerado discurso de que "li pouco porque estou cheia de coisas da universidade para fazer". É, eu sei, parece desculpa esfarrapada, mas é a verdade. Para vocês terem uma ideia, só duas das cinco leituras que fiz não foram obrigatórias, ou seja, só tive tempo de ler dois livros que escolhi por livre e espontânea vontade. :(



HOLY COW: UMA FÁBULA ANIMAL (David Duchovny)
Minha classificação: 4 estrelas no Skoob

"Por que será que na hora de deixar algo para trás é que mais damos valor àquilo?"







AS GÊMEAS DO GELO (S. K. Tremayne)
Minha classificação: 3 estrelas no Skoob

"Por que você continua me chamando de Kirstie, mamãe? Kirstie está morta. Quem morreu foi a Kirstie. Eu sou Lydia."






O FANTASMA DE CANTERVILLE (Oscar Wilde)
    Minha classificação no Skoob: 4 estrelas





   "O que seria do mundo se fossem os fantasmas que tivessem     medo de gente?"












CANSEI DE SER GATO: DO CAPIM AO SACHÊ (Amanda Nori e Stéfany Gumarães)
Minha classificação no Skoob: 4 estrelas
Esse livro ganhei de presente de aniversário da minha amiga, Paulinha. Livros+gatos=







LUGAR NENHUM (Neil Gaiman)
[Resenha]
Minhas classificação no Skoob: 5 estrelas

"Meu jovem, você precisa entender uma coisa. Existem duas Londres: a Londres de Cima - onde você morava - e a Londres de Baixo, o Submundo, habitada pelas pessoas que caíram pelas fissuras do mundo. Agora você é uma delas."


***
Esse foi o saldo de leituras de abril, não se esqueçam de conferir as resenhas!
Como eu disse no começo da postagem, abril é o mês mais lindo do ano, e mês do meu aniversário. Devido a isso, ganhei bastantes livros de presente, o que significa resenhas para vocês! Aguardem. 

Beijinhos, Hel.

Lugar nenhum - Neil Gaiman

"Você tem um bom coração. Às vezes isso já salva a pessoa, seja lá onde ela estiver [...]. Mas nem sempre."

Título original: Neverwhere
Lugar nenhum é um romance e sua estória surgiu primeiramente como uma série para a BBC. No Brasil, foi lançado em 2007 pela editora Conrad.

Richard Mayhew é um jovem escocês que foi tentar a vida em Londres. Lá, ele leva uma vida normal, com um emprego normal e tem uma noiva, Jessica. Certo dia, quando ele e Jessica estão a caminho de um jantar com o chefe importantíssimo dela, eles encontram uma garota ferida na rua. Richard, sem pestanejar, decide socorrê-la, apesar dos protestos de Jessica de que iriam se atrasar. Ele leva a garota para sua casa e esse ato, esse pequeno ato, muda sua vida para sempre. O que Richard não sabe é que esse ato iria torná-lo invisível. 

"Se eu fosse você, teria cuidado com portas."

A garota, que ele descobriu se chamar Door*, estava fugindo de dois assassinos, o Sr. Croup e Vandemar, que assassinaram toda a sua família. Ela estava tentando descobrir quem estava por trás disso. Assim que se despede de Richard, Door pede desculpas, e ele fica sem entender o porquê... Pelo menos naquele momento.
Quando acorda na segunda-feira, Richard sai para trabalhar como de costume, contudo, ninguém mais sabe quem ele é, as pessoas no trabalho, seus amigos, Jessica. Ele deixou de existir, não pertence mais aquele lugar. E foi por que Door havia entrado em sua vida.

"Meu jovem, você precisa entender uma coisa. Existem duas Londres: a Londres de Cima - onde você morava - e a Londres de Baixo, o Submundo, habitada pelas pessoas que caíram pelas fissuras do mundo. Agora você é uma delas."

Richard descobre que a garota que ele salvou não é da Londres de Cima, e decide procurá-la na Londres de Baixo para tirar satisfações. A partir daí, ele precisa se adaptar a essa nova Londres e às pessoas totalmente animalescas e nem um pouco civilizadas que moram lá. Os habitantes do Submundo vivem nos esgotos, estações de metrô abandonadas, fazem escambo para viver e matam por pouquíssima coisa, lá é cada um por si. Em companhia de Door e da guarda-costas Hunter, ele precisa enfrentar criaturas que jamais imaginou e superar seus medos, em meio à traição e perigos incessantes.

***

Um personagem que cai em outro mundo, totalmente desconhecido e assustador. Quantos autores já usaram essa fórmula em suas estórias? Lewis Carroll em Alice no país das maravilhas, Frank Baum em O mágico de Oz, só para citar os exemplos mais famosos. Contudo, Neil Gaiman dá um toque obscuro e assustador à sua narrativa, muito bem ambientada, diga-se de passagem.
Lugar nenhum é quase uma aula de história sobre a cidade de Londres, o leitor consegue se situar em diversos pontos famosos da cidade por meio da narrativa e ambientação impecáveis. Mas, ainda assim, a Londres de Baixo é também verossímil, apesar de ser fictícia e totalmente fantasiosa.

"A escuridão [...]. A noite está acontecendo. Todos os pesadelos surgidos quando o sol se punha, desde o tempo das cavernas, quando os homens ficavam amontoados juntos, em busca de segurança e calor, estão acontecendo. E agora é a hora de ter medo do escuro."

Imagine deixar de existir, ter amigos, uma família, e de repente você some da vida dessas pessoas, elas não sabem quem você é! Que pesadelo. Richard é de uma personalidade desorganizada e medrosa, e isso faz com que ele se sinta muito mais perdido ainda. Já os personagens coadjuvantes, habitantes do submundo, são corajosos e, na minha opinião, muito mais interessantes que o protagonista. A caracterização, tanto dos personagens quanto do cenário, são tão bem feitas, que me senti dentro da estória o tempo todo, como se eu estivesse ao lado de Richard e Door. O fato de a estória ter sido primeiro um roteiro de TV e depois ser adaptada para um romance faz com que a narrativa tenha uma cadência incrível, os acontecimentos, mesmo intercalados, deixam o leitor totalmente preso ao enredo, sendo impossível abandonar o livro.
Para quem gosta de narrativas envolventes e agonizantes, daquelas que mexem com os sentimentos do leitor, Lugar nenhum é uma ótima leitura. É impossível não se apiedar da situação de Richard. Contudo, a estória tem alguns momentos que, embora em meio à toda a tensão, são muito engraçados. 
Sinto que começo a me apaixonar pelos escritos de Neil Gaiman. Desde Coraline já havia me encantado com a capacidade do autor de criar mundos e personagens singulares, mas em Lugar nenhum senti que o autor tem potencial mesmo. As referências e intertextualidades que Gaiman usa, mitologia, religião, literatura, sempre me atraíram em estórias, eu não resisto a uma boa intertextualidade e só por citar Jane Austen já ganhou meu coração. 
Esse é aquele tipo de livro que mergulhamos dentro da estória. O final me deixou muito contente, fiquei refletindo muito sobre nós, seres humanos, e o fato de nunca estarmos satisfeitos onde estamos, sempre querendo estar em outro lugar. Acredito que isso não chegue a ser uma metáfora usada pelo autor, mas foi o que ficou da minha reflexão.

Quem já leu Lugar nenhum? E Neil Gaiman?

Beijinhos, Hel

GAIMAN, Neil. Lugar nenhum. 2 ed. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2010. 336 p. Tradução de Juliana Lemos.

*Door, em inglês, significa porta. O poder que a personagem Door possui é o de abrir e criar portas, desse modo, no início da narrativa, quando Richard é alertado para tomar cuidado com portas, no idioma original faz mais sentido, já que elas (as portas e a garota Door) mudariam sua vida para sempre.