"[...] poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho ao seu coração." (ZAFÓN, p. 11)
A sombra do vento pode não ser o primeiro livro a abrir caminho ao me coração, mas, com certeza, é um dos que levarei para sempre na memória. O protagonista, Daniel Sempere, certo dia acorda desesperado por não lembrar mais do rosto da falecida mãe. Seu pai, então, o leva ao Cemitério dos Livros Esquecidos para um passeio mais do que especial em que ele pode levar um livro para casa, qualquer um que ele quisesse, sob a condição de que ele cuidasse do exemplar para que ele nunca fosse esquecido. E é aí que ele se encontra pela primeira vez com A sombra do vento e fica fascinado pela estória. Vira a noite lendo e fica curiosíssimo para saber quem é o autor, Julián Carax, e descobrir mais sobre a vida dele.
Ao procurar por outros livros do mesmo autor, Daniel descobre que alguém os está queimando e a partir daí começa a investigar a vida de Julián para saber porque isso está acontecendo. Ao passo que Daniel investiga o passado de Julián, começa a perceber o quanto a vida de ambos está entrelaçada e, a cada camada em que ele se aprofunda nesse mistério, fica mais preso.
"O livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos dentro [...]" (ZAFÓN, p. 174)
Em certo ponto, as histórias de Daniel e Julián ficam tão interligadas e semelhantes, que é preciso redobrar a atenção para não se perder na narrativa. Conhecemos, então, personagens como o Inspetor Fumero, cruel e perigoso, que sai da vida de Julián para atormentar Daniel e seus amigos. Acompanhamos os amores impossíveis de Daniel e Julián, intercalando passado e presente. E nos envolvemos numa rede de segredos e mentiras que nos deixam cada vez mais curiosos para descobrir porque alguém odiava tanto Julián Carax a ponto de querer apagar não só ele, como também sua memória.
"Há prisões piores do que as palavras." (ZAFÓN, p. 292)
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A sombra do vento é um livro que tem todos os predicados para agradar um leitor assíduo: fala sobre livros, tem uma escrita poética e cheia de aforismos, tem mistérios do início ao fim, personagens cativantes e uma dose de romance. Além disso, tem uma ambientação que, apesar de se passar na Espanha pós Guerra Civil, consegue trazer uma atmosfera quase mágica e um tanto assustadora. É sabido que possui uma legião de fãs e isso, inevitavelmente, acabou por me fazer criar expectativas bem altas para essa leitura e, como dizem por aí "Não crie expectativas, crie unicórnios". Felizmente, eu me surpreendi demais com essa leitura e nunca usei tantos post-its e flags em um livro com usei nesse. Ele é cheio de frases marcantes que fará qualquer apaixonado por livros suspirar, mas os elogios não vão somente para o estilo do autor, é preciso reconhecer que, embora eu não seja tão fã de romances com mistério e investigação, esse ganhou meu coração e a minha curiosidade, me fazendo ansiar pela resolução do caso de Julián e, ao mesmo tempo, ficar triste pelo livro estar chegando ao fim.
"De todas as coisas que Julián escreveu, aquela que sempre me pareceu mais próxima é a que diz que, enquanto os outros se lembram de nós, continuamos vivos." (ZAFÓN, p. 366)
Se eu não soubesse de antemão que o livro foi publicado pela primeira vez em 2001, poderia dizer que é mais antigo, pois a escrita de Zafón tem ares de livro clássico. Sério mesmo! Isso explica muito o meu amor por esse livro, já que sou apaixonada pelo estilo dos clássicos, essas narrativas que conquistam pelo conteúdo, mas que também têm uma forma mais erudita.
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A sombra do vento faz parte da série "O cemitério dos livros esquecidos", contando com mais três títulos: O jogo do anjo (Suma de Letras), O prisioneiro do céu (Suma de Letras) e El laberinto de los espíritus que ainda não tem uma edição brasileira, mas ao que tudo indica, a Suma de Letras vai lançar no segundo semestre desse ano (YAYYYY!) e, inclusive, estão preparando novas edições dos outros três livros da série. É pra glorificar de pé, não é gente?
Beijinhos, Hel.
ZAFÓN, Carlos Ruiz. A sombra do vento. Tradução de Marcia Ribas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. 399 p.
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