O duque e eu - Julia Quinn

17:00

É uma verdade universalmente conhecida que toda fã de Jane Austen lamenta a autora ter escrito tão poucas obras em sua vida. É o meu caso. Sinto que "economizo" na leitura dos livros da Jane Austen, pois estou a dois romances de terminar as obras dela. Jane Austen foi a escritora que me apresentou ao mundo dos romances de época, dos vestidos esvoaçantes, diálogos cheios de ironias e indiretas e dos bailes. Meu primeiro crush literário foi Mr. Darcy. E Jane Austen escreve TÃO BEM! Pois bem, deixemos de enrolação, por que estou falando tudo isso? Porque a autora de O duque e eu, Julia Quinn, foi apontada como "a nova Jane Austen". Como eu poderia passar incólume por uma coisa dessas? É claro que fiquei curiosíssima.

***

Apesar de essa série se chamar Os Bridgertons, pode-se dizer que o personagem principal de O duque e eu é Simon Basset, o duque de Hastings. Ele foi uma criança renegada pelo pai por aprender a falar muito tardiamente e por sofrer de gagueira, e nunca superou tal fato. O pai o humilhou e chegou a dizer que o filho havia morrido (!), o que fez com que Simon tivesse a determinação suficiente para passar por cima de suas dificuldades de fala. Simon odiava o pai com todas forças.

"Se não podia ser o filho que o pai queria, então seria exatamente o oposto." (QUINN, p. 15)

Depois de 6 anos viajando o mundo com o dinheiro do pai que ele tanto odiava (irônico, não?) ele volta a Londres e, assim como quando Mr. Bingley chega à Meryton, em Orgulho&Preconceito, todas as mães ficam alvoroçadas com a possibilidade de casarem suas filhas solteiras com um homem de posses como o duque de Hastings. O que Simon mais temia era isso, pois ele tinha o firme propósito de nunca se casar, entre outras coisas, somente para desagradar o pai, mesmo ele já tendo falecido. É então que ele conhece Daphne Bridgerton, irmã de seu melhor amigo, Antony Bridgerton. Depois de um primeiro encontro inusitado, eles decidem se afastar. Ela porque não queria ser vista ao lado de um homem libertino como Simon, e ele para respeitar a irmã do melhor amigo.



Daphne Bridgerton é uma moça um pouco à frente de seu tempo, que quer se casar por amor (e todo aquele papinho que já ouvimos em Orgulho&Preconceito, diria que ela é uma cópia bem barata da Lizzie Bennet). O problema é que a mãe dela, a Viscondessa Violet, está desesperada para casá-la, pois, assim como em Orgulho&Preconceito (nossa isso tá ficando cansativo) Daphne tem irmãs mais novas solteiras e precisa se casar o quanto antes. O problema é que os homens só a enxergam como amiga, e os que têm interesse por ela são muito velhos, ou muito novos, ou sem-noção.

Depois de alguns encontros, Simon e Daphne têm o plano mais mirabolante: Simon finge fazer a corte a Daphne, assim, ela passa a chamar a atenção dos homens e ele evita as mães e pretendentes nos bailes. AÍ EU PERGUNTO PRA VOCÊS: TEM COMO ISSO DAR CERTO? Até parece que eles não iam se apaixonar nessa historinha de finge que me paquera, eu finjo que gosto, blábláblá. Tem que ser muito burro pra não adivinhar qual vai ser o final da história, porque seguir essa fórmula de filme da sessão da tarde já tá muito manjado!

"Os dois haviam se tornado excelentes companhias um para o outro, e em seus encontros eles se alternavam entre confortáveis períodos de silêncio e diálogos animados. Em todas as festas, dançavam juntos duas vezes - o máximo permitido para não escandalizar a sociedade." (QUINN, p. 127-128)

Bom, se tem algo de original e divertido nessa história toda, eu diria que é a Lady Whistledown, a colunista de fofocas que parece ter espiões dentro das casas das famílias e que está viciando a todos com as suas revelações bombásticas e comprometedoras sobre a sociedade londrina. 

O que falar do livro sem dar muitos spoilers? Posso falar que Simon é bobo e tem o motivo mais besta do mundo para não querer se casar. Daphne tem seus poréns, mas, ainda assim, gostei dela, ela segue seus propósitos e é bem decidida. Obviamente que os protagonistas dessa história não tem 1% da profundidade dos coadjuvantes dos livro da Jane Austen (fui um pouco má, agora), mas posso dizer que foi uma leitura divertida em alguns momentos, apesar de no final tudo ter ficado muito forçado e as cenas de sexo dominarem boa parte da narrativa. Parecia que a autora resolvia tudo com sexo. Daphne ofendia Simon? Resolver na cama é a solução! Simon abandona Daphne no meio de uma briga? Fazem as pazes na cama! Sem comentários. Sobre as descrições das cenas calientes, diga-se que a linguagem é aquela clichê usada nos romances de banca, muito adjetivada e com orgasmos pra todos os lados. Só digo isso. Tirem suas conclusões a partir daí.

Por fim, se eu fosse a Jane Austen estaria me revirando no túmulo por ser comparada com Julia Quinn. Nada contra quem gostou e leu a série, mas quem está acostumada a ler romances de época como os das irmãs Brontë ou da própria Jane Austen sabe que há um refinamento na narrativa, preciosidades nas entrelinhas e personagens muito mais verossímeis à época em que os romances se passam. As reviravoltas são muito mais intrigantes e cada personagem é tão bem escrito que desenvolvemos sentimentos em relação a eles. Nem sempre sentimentos positivos (eu ouvi Heathcliff?), mas isso é porque essas autoras conseguem dar muita verdade aos personagens que escrevem.

Bom, encerro aqui meu comentário sobre essa leitura. E vocês já leram esses romances de época que são contemporâneos? Acham o que dessas histórias? Me contem nos comentários.

Beijinhos, Hel.

QUINN, Julia. O duque e eu. (Tradução de Cássia Zanon). São Paulo: Arqueiro, 2013. 288 p.

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20 comentários

  1. Olá!!
    Ano passado os romances de época tomaram conta do mundo literário, né? Acho que sou a única pessoa que não leu nada do gênero ainda, hahah.
    Ainda não consegui ler nada da querida Jane, então, não tenho como comparar, mas achei muito interessante o seu comentário! Adorei a resenha!

    Beijão
    Leitora Cretina

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    1. Oi, Mônica!
      Pois é, virou tendência as editoras lançarem esse tipo de publicações, né? Mas te bastante público também, e as editoras nem são bobas, ;)

      Leia a Jane Austen, sim, é ótima!
      Bjin

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  2. Teu texto continua ótimo. Vou ler algo do gênero e acompanhar pra ver se posso opinar depois.

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  3. "fui um pouco má, agora".

    Só um pouquinho... HAHUAHAUHAUH

    Ótima resenha. Assim como no futebol, sempre que aparece um "novo" Neymar, novo Messi, etc, eu já desconfio.

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    1. Oi, Fabio!

      Obrigada, hahaha. Às vezes sou bastante má, mesmo. Não resisto.
      Sobre essas comparações, é puro marketing, não sei como caí!

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  4. Olá Hel,
    Desconhecia a comparação feita entre a Julia Quinn e a Jane Austen e acho que ela nem existe, para ser bem sincera. Cada autora tem uma forma de escrever e, por mais que alguns pontos possam de assemelhar, eles são diferentes, como acontece com esse livro e OeP. Quando li esse livro, fiquei encantada com o que aconteceu. É claro que é óbvio que o relacionamento que eles haviam se proposto não daria certo, mas aí está a mágica da história. Nenhum dos dois queria se apaixonar e acabaram se apaixonando.
    É uma pena que esse livro não tenha funcionado para você.
    Essas comparações com autores clássicos me irrita.
    Beijos,
    Um Oceano de Histórias

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    1. Oi, Bruna! A comparação está na parte de trás do livro, em que ela é apontada com a "Nossa Jane Austen contemporânea" pela crítica. É claro que é jogada de marketing pra captação de público, como eu disse, as editoras não são bobas, né?!
      Beijos!

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  5. Eu não consigo parar de rir do trecho sobre a profundidade doa personagens! To no chão com os seus comentários, Hel! Kkkk
    Quando todo mundo começou a falar dessa série, eu fiquei boiando como sempre fico, e sabendo que era muito longa e ainda mais romance de época, um gênero que eu nem ligo muito, mas comecei a achar meio exagerado quando ouvi os papos de "Nova Jane Austen". Mesmo sem ter Jane Austen eu sabia do talento dela e achava bem exagerado dizerem isso. Agora, você confirmou minhas impressões.
    Tenho que ler um romance de época pra um desafio, e já tava até com medo de ter que começar essa série, por falta de outras recomendações. Muito obrigada por me informar de que eu não devo ler isso!

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    1. Oi, Leth. Tudo bem?
      Menina, eu me senti tão enganada com esse livro que não me contive na resenha, sei que fui bastante má.

      Se precisar de alguma recomendação de romance histórico/de época, é só me chamar ;)

      Bjs!

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  6. Mas me bateu uma dúvida agora: os livros da Jane Austen e das irmãs Brontë são romances de época? Eu nunca soube direito como definir

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    1. Olha, agora vc também me deixou em dúvida. Porque, para mim, os romances como os da Jane Austen, que foram escritos e se ambientam nos séculos passados, são os romances históricos. Já os romances como esses da Julia Quinn, são romances de época, porque focam nos costumes da época e em como isso influencia e molda o romance (história de amor).

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  7. Oi, Hel!
    "O duque e eu" foi uma grande decepção literária para mim. Eu não gostei dos personagens, principalmente da Daphne. Nada em sua composição conseguiu me fazer gostar dela. E Simon tem atitudes detestáveis.
    Enfim, a parte mais interessante da obra, como você destacou, é Lady Whistledown.
    É a primeira vez que leio uma resenha desse livro que tem praticamente a mesma opinião que eu tive dele.
    Beijos
    Historiar

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    1. Thami, tudo bem?
      Eu sabia que vc não havia gostado do livro, confio na sua opinião, mas, mesmo assim, fui insistente. Foi uma tremenda decepção para mim, também.

      Obviamente não vou continuar a leitura da série.
      Beijos!

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  8. Hel, nunca li e acho difícil pegar para ler. Acredito ser difícil encontrarmos autores capazes de escrever como Jane Austen. Os tempos são outros e até isto influencia. Abraço!

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    1. Concordo, Maria. A Jane Austen se consagrou pela narrativa impecável e personagens profundos. Acho difícil alguém conseguir supera-la, tanto que ela é um ícone quando se fala em romances históricos, né?
      Abraço

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  9. Oláá! Tudo bem?
    Eu nunca li romances de época, mas sei a febre que está e estou doida para ler um.. da Jane Austen, só vi o filme do livro Orgulho e Preconceito e gostei tanto que comprei esse e mais alguns livros, só não consegui ler ainda.. Só que eu estava doida para ler Julia Quinn por causa do rebuliço todo na internet. Mas depois de ver a sua resenha, acho que vou ler primeiro é a Jane, que já até comprei os livros heeh
    beeijo

    http://lecaferouge.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Tamara. Tudo bem?
      Eu recomendaria vc ler Jane, mas cada gosto é diferente, então, pode ser que vc não goste, sabe? Não posso dizer que, para vc, seria melhor ler uma em detrimento da outra porque eu não te conheço, sabe?
      Siga seu instinto de leitora ;)
      Bjs!

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  10. Sambou nessa resenha!!! Adorei! Eu tive aquela vontadezinha de ler mas a verdade é que se escrevendo livros contemporâneos as pessoas já cometem deslizes graves de escrita e narrativa imagina escrever sobre séculos atrás!! O cara ou a mina precisa ser extremamente boa nisso para conseguir. Acho pretensao comparar Julia Quinn a Jane Austen (mesmo eu não tendo lido nenhuma das duas) porque são de épocas diferentes e os pensamentos são diferentes. É uma comparação que não bate, não existe. É melhor ir direto à fonte. Agora eu já não tenho mais tanta vontade de ler Julia Quinn mas ainda quero ler Jane Austen. Apesar de não gostar de O Morro dos Ventos Uivantes e achar o final ridículo, preciso admitir que há uma grande profundidade no enredo e uma profunda crítica. Parabéns pela resenha, muito bem argumentada e construída. Adorei!

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    1. Miga, pretensão é apelido! Acredito assim como vc que comparar é prejudicial principalmente para a Julia Quinn, pois faz com que as fãs da Jane Austen vão ler os livros dela com uma expectativa muito alta, como aconteceu comigo.

      Obrigada pelos elogios, bjin! <3

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