É fácil matar - Agatha Christie

"É muito fácil matar, desde que ninguém suspeite da gente." (CHRISTIE, 2009, p. 21)

Obrigada, @vontaderia, pelo presente!

Nesse romance da "Rainha do crime" não temos Poirot nem Miss Marple teje dito. O protagonista, Luke Fitwilliam, é um policial aposentado que está voltando para Londres, ansioso por rever os amigos e aproveitar o merecido descanso. Só que, no trem, ele senta-se perto de uma velhinha que lhe conta uma história curiosa; Ela afirma haver um serial killer em sua pacata cidade e está decidida a ir à Scotland Yard para que os detetives de lá, supostamente mais eficientes que os da sua cidade, investiguem o caso. E o que é mais curioso: ela afirma saber quem será a próxima vítima e deixa a suspeita de que sabe quem é o assassino, uma pessoa de quem ninguém desconfia e que, por isso, ninguém acreditaria nela!

É claro que Luke pensa que a velhinha está fantasiando e não dá importância para a narrativa duvidosa da senhora. Até que, no dia seguinte, ele lê o jornal e descobre que ela foi atropelada e que o motorista fugiu da cena do crime! Tudo isso acaba por deixar uma pulga enorme atrás da orelha dele e o faz ir até à cidadezinha, Wychwood-under-Ashe. Ele vai sob o disfarce de escritor e primo de Bridget Conway, prima de um amigo,  para poder investigar o caso.

"Ela tinha uns 28 ou 29 anos, ele achava. E ela era inteligente. E era uma daquelas pessoas sobre as quais nada se pode descobrir, a não ser que assim queiram..." (CHRISTIE, 2009, p. 33)

A cidadezinha, como toda cidade pequena, fica toda sabendo da chegada do forasteiro, que é assunto de muitas conversas e perguntas. E Luke fica com receio de não conseguir manter o disfarce. Para piorar, Bridget acaba por "enfeitiçar" Luke, porém, ela é casada com Gordon, um novo-rico insuportavelmente egocêntrico.

"- Meu caro! A sanidade é mortalmente aborrecida. É preciso ser ligeiramente pervertido. Ai, então, vê-se a vida sob um novo e arrebatador ângulo. (CHRISTIE, 2009, p. 99)

E no decorrer de sua investigação Luke fica cada vez mais confuso e a iminência de um novo assassinato faz com que o desespero tome conta dele. Ao passo que, também, ele descobre que muitos dos moradores possuem passados nebulosos e todas essas novas descobertas vão, aos poucos, apontando para um provável suspeito. E é nessa hora que eu digo "AH HA! DESCOBRI QUEM É O ASSASSINO! Não pode ser outro, descobri na metade do livro, descobri antes do Luke, eu sou demais. Agatha Christie não é de nada!" Só que, no final, eu levo aquele tapa na cara, quando me deparo com a verdade. Gente, que reviravolta! Que revelação! Sensacional. Fiquei o tempo todo confiante de que não podia ser outra pessoa e cega na minha convicção, assim como o Luke, e Agatha vai lá e mostra: estava bem na cara de vocês o tempo todo. Me senti uma presa fácil caindo nas artimanhas da narrativa desse romance da Rainha do crime e finalmente, depois da leitura enfadonha de Um corpo na biblioteca, fiz as pazes com Agatha Christie!

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Esse foi um livro que eu devorei. Li de um dia para o outro, de tão fácil a escrita e envolvente a trama. Além disso, o romance impossível entre Bridget e Luke me deixou bem satisfeita, pois o final dele passa longe do clichê, é, ouso dizer, bem original. Além disso, há alguns elementos na história, como o fato de a cidade ter alguns moradores envolvidos com magia negra e conflitos de rivalidade que dão um aspecto bem sinistro ao ambiente e à trama que Agatha tece. Sou suspeita para falar dos livros dela, mas reforço, agora, a ideia de que comecei pelo livro errado e que tomei a decisão acertada em insistir na leitura dos livros da autora. Claro que não é meu gênero favorito, mas reconheço que, pelo menos esse, é muito bem escrito e funciona como uma leitura de entretenimento adorável.

Beijinhos, Hel. 

CHRISTIE, Agatha. É fácil matar. (Tradução de Ieda Ribeiro de Souza Carvalho). 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Porto Alegre: L&PM, 2009, 230 p.

Morte súbita - J.K. Rowling

“Escolher é algo perigoso: quando escolhemos, temos que abrir mão de todas as outras possibilidades” (ROWLING, p. 567).
Foto: arquivo pessoal

Morte Súbita é, inegavelmente, um livro de difícil leitura. Não por se tratar de um livro com linguagem difícil, mas sim, pelos temas pesados - e necessários - que aborda.
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Quando Barry Fairbrother, presidente do Conselho Distrital de Pagford, uma cidadezinha pacata, morre, esse acontecimento acaba afetando de um modo ou de outro a vida de todos da cidade. A sensação geral é a de que um herói faleceu, já que Barry era defensor dos pobres e oprimidos e da permanência de projetos sociais que beneficiavam a população carente da cidade vizinha, Fields, que os conservadores de Pagford tanto odiavam e viam como um estorvo para a imagem idílica de sua cidade.

“Ele tinha sido um exemplo vivo do que as pessoas propunham na teoria: através da educação, sair da pobreza para a riqueza, da falta de poder e dependência para dar uma contribuição valiosa à sociedade.” (ROWLING, p. 487).

Mas, por trás do sofrimento e aparente consternação, muita gente já está de olho na cadeira de presidente e, inclusive, até na mulher de Barry, a viúva Mary.
Logo no começo da narrativa, acompanhamos a guerra fria que se desenvolve entre os candidatos à vaga de Barry e, também, acompanhamos outros personagens como Krystal, Sukhvinder, Bola, Andrew e Gaia, jovens diferentes entre si e que passam por problemas como bullying, vícios e problemas familiares. Embora os problemas dos adultos sejam mais explorados durante a narrativa, eles acabam afetando esses adolescentes que ficam em meio ao “fogo cruzado” dos pais e se veem obrigados a tomar alguma atitude em relação a isso, causando muitos problemas para os adultos e, ao mesmo tempo, fazendo com que eles enxerguem o que há de mais podre e sórdido na vida aparentemente perfeita dos moradores de Pagford.

“As vítimas do Fantasma de Barry Fairbrother estavam atoladas na lama da hipocrisia e das mentiras, e não gostavam de escândalos. Eram insetos estúpidos que fugiam da luz brilhante. Não sabiam nada da vida real.” (ROWLING, p. 494).

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Foto: arquivo pessoal

Um livro complexo e cansativo, com muitos personagens e com uma narrativa que, apesar de usar o narrador onisciente em terceira pessoa – que é o meu tipo de narração favorita-, ainda fica confusa e maçante em alguns pontos, exigindo do leitor paciência para que os personagens finalmente comecem a fazer sentido e terem uma relação entre si. Além disso, tem-se a sensação de que estamos lendo um livro mal traduzido, com passagens truncadas e diálogos forçados, sem falar nos erros de revisão que teimam em aparecer nas edições da editora Nova Fronteira :/.O uso excessivo de palavrões, que algumas pessoas apontam como algo negativo na narrativa, a meu ver, era necessário para a constituição de alguns personagens.
Apesar dos pontos negativos que apontei até aqui, me peguei torcendo por alguns personagens e para que tivessem um “final feliz” e chorei nas últimas páginas do livro. Os temas trazidos por J.K.Rowling em “Morte Súbita” também são muito pertinentes, como a preocupação com o futuro das crianças e adolescentes e o modo como a sociedade pode destruir uma vida antes mesmo de ela ter começado. A crítica social é explícita e o modo como a autora estereotipa alguns personagens para viabilizar essa crítica, embora forçada, se mostrou eficiente.
Por fim, não indico a leitura desse livro, apesar de ter sido alertada por muitos de que não era um bom livro, achei o livro extenso demais, poderia ter dito mais em menos páginas. Não chega a ser um desperdício de dinheiro a compra desse livro, mas com certeza é um exemplar que não lerei novamente.

Já leram? Gostaram?

Beijinhos, Hel.



ROWLING, J. K.. Morte súbita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. 651 p. Tradução de Izabel Aleixo e Maria Helena Rouanet.

Resenha: Um corpo na biblioteca de Agatha Christie

Olá, leitores e leitoras! Hoje trago mais uma resenha para vocês e o livro é uma das diversas obras da rainha do crime, Agatha Christie. Acreditem ou não, eu nunca havia lido nada da autora - shame on me -, e, como estou numa vibe de conhecer autores novos, resolvi dar uma chance a esta trama policial.
A edição é capa dura e tem as folhas amareladas. Linda!

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Tudo começa quando o corpo de uma jovem loura é encontrado na biblioteca dos Bantry, e misteriosamente, ninguém na casa sabe quem aquela moça é e muito menos como o corpo dela foi parar ali. Logo, a polícia é acionada e a Sra. Bantry chama, também, para investigar o caso, sua amiga Miss Marple, uma sagaz detetive amadora.
Ao se deparar com as circunstâncias, tanto a polícia quanto Miss Marple ficam surpresos com a peculiaridade daquele crime. É fato que a moça foi estrangulada, mas quem ela era ou que relação teria com os Bantry isso não fazia sentido para eles.
Descobriu-se que se tratava de Ruby Keene, uma dançarina de um hotel da cidade que havia vindo de fora para substituir sua prima, Josie, que não podia dançar por causa de uma contusão no joelho.
Quando parece que a polícia está se encaminhando para os suspeitos de tal assassinato, mais um fato é adicionado à trama: um carro carbonizado é encontrado numa pedreira e, dentro, havia um corpo de outra jovem. Os investigadores, então, começam a suspeitar que haja uma ligação entre as duas mortes, contudo, isso só torna o caso mais complexo ainda, exceto para Miss Marple que, com seu poder de dedução e sua lógica apuradíssimos, consegue extrair de cada detalhe a resolução deste caso que, até então, parecia ser insolúvel.
Lionel sendo o meu modelo preferido para as fotos dos livros!

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A descrição dos personagens é muito boa e a forma como as atitudes deles são narradas (cada olhar diferente, sobressalto ou expressão facial) torna mais rica a narrativa e deixa o leitor cada vez mais confuso tentando descobrir quem é o assassino. Confesso que, em parte, eu descobri o autor (a) dos crimes, porém, embora a trama tivesse poucos personagens que podiam ser considerados suspeitos, foi difícil para mim acompanhar o raciocínio de Miss Marple e, chegar à conclusão que ela chegou foi jogada de mestre, a mulher é simplesmente extraordinária. Os personagens de Agatha Christie são muito bem construídos e uma coisa que gostei na narrativa dela é que não há quase nada de descrição de cenários, o que eu acho desnecessário demais!

"Os senhores gostam de contos policiais? Eu gosto. Já li todos e tenho autógrafos de Dorothy Sayers, de Agatha Christie, de Dickson Can e H.C. Bailey. O assassino vai aparecer nos jornais?" (Christie, p. 60)

Na citação acima, a autora deu um jeitinho de se auto promover, achei demais ela fazer uma intertextualidade de seus textos dentro de um texto dela mesma, (que confuso!).
Todavia, senti que a narrativa desse livro foi um pouco "parada", sem grandes reviravoltas, e isso fez com que eu me demorasse um pouco na leitura. Outra coisa que me deixou extremamente irritada, foi o trato da editora com a revisão do texto - se é que houve, de fato, uma revisão. Palavras sem acentuação (perdi as contas de quantos e´s estavam sem acento agudo), palavras grudadas como "agente" ao invés de "a gente" e muitos casos que não deveriam ser deixados passar antes da publicação de nenhum livro! Encontrar um erro ou dois é admissível, afinal, ninguém é uma máquina. Mas dezenas de erros em uma obra que não contém nem 200 páginas? Inaceitável, hein, Nova Fronteira!

Por fim, fico com a sensação de que não fui feliz na escolha desse título para começar a ler Agatha Christie, acredito que haja estórias bem melhores e excitantes que eu gostarei de ler.

Vocês que conhecem bem AC, têm alguma sugestão para mim? Ou o caso é pessoal?


Beijinhos, Hel.

CHRISTIE, Agatha. Um corpo na biblioteca: um caso de Miss Marple. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014. 180 p. Tradução de Edilson Alkimin Cunha.