Mansfield Park - Jane Austen
15:36
“Pois o tempo sempre se impõe entre os planos e as decisões
dos mortais, para seu próprio aprendizado e entretenimento dos próximos.” (Austen,
p. 302).
Tudo começa quando Fanny Price, aos
dez anos, é retirada de seu lar pobre e de seus pais que já tinham muitos
outros filhos para cuidar e é levada para Mansfield Park, para ficar sob os
cuidados dos tios Sir Tomas Bertram e
Lady Bertram, para que cuidassem
de sua educação e pudessem dar uma vida melhor para a menina. Contudo, ela servia como uma
espécie de empregada para as pessoas da casa e também de chacota para as primas,
srta. Maria e Julia Bertram, que eram infinitamente mais ricas e bonitas que
Fanny. Ela só encontrava refúgio e consolo no primo Edmund Bertram, que era o
único que se importava com ela, sentimento que, com o tempo, acabou se
transformando num amor incondicional.
Tom Bertram, o irmão mais velho e herdeiro da propriedade, é
totalmente irresponsável e inconsequente, deixando a responsabilidade toda a
cargo de Edmund que, sabendo que não herdará muita coisa, portanto, se ordena
clérigo – que pelo que entendi é uma espécie de padre – para garantir uma vida
confortável e, ao mesmo tempo, fazer o que gosta.
Com o passar do tempo, Fanny cresceu e chegou aos seus
dezoito anos, tão bonita e educada quanto as primas, embora ninguém desse a
mínima importância para ela.
Certo dia, chega à vizinhança os irmãos Henry e Mary
Crawford, e logo fazem amizade com as moças da família Bertram. Edmund acaba se
apaixonando por Mary, já Henry flerta com as duas irmãs Bertram ao mesmo tempo,
mesmo que Maria, a mais velha, já esteja noiva. Fanny, apesar de tímida, não
tem nada de ingênua, e começa a perceber o mal que tais influências poderiam
causar em Mansfield Park, enquanto Edmund, cego de amor pela srta. Crawford,
não enxerga isso muito bem.
Após devastar os corações das irmãs Bertram, Henry resolve, então, que é chegada a hora de conquistar Fanny:
"Mas não posso satisfazer-me sem Fanny Price, sem abrir uma pequena brecha em seu coração." (Austen, p. 149).
Que cafajeste, não? Todavia, Fanny não se engana com seus galanteios e se mantém firme na decisão de não estimulá-lo a continua-los, embora Henry se mantivesse insistente:
"Estava apaixonado, muito apaixonado; e essa paixão, agindo sobre um espírito vivaz, confiante, mais ardente do que delicado, duplicava a importância do amor que ela lhe negava." (Auten, p. 209).
Por outro lado, Edmund sofria por Mary Crawford que, ambiciosa e calculista, recuava diante das investidas dele, já que ele era o irmão mais novo e jamais seria dono de grande fortuna, apesar de ela assumir que o amava.
Fanny percebia tudo isso com grande tristeza, e parecia que só ela enxergava a verdade. Mas como dizem por aí: Um dia as máscaras caem!
Como será que terminam esses romances complicados? Será que Fanny aceitará a proposta de Henry ou será que todos perceberão quem são os irmãos Crawford, afinal? Será que Edmund se conscientizará do amor da prima?
***
Ao contrário do que eu esperava, Fanny não é uma heroína
como Lizzie Bennet, forte e corajosa, pelo contrário, ela é tímida e frágil e
sempre se submete às vontades das outras pessoas em detrimento das próprias. Ela é uma espécie de Gata Borralheira, sempre privada das diversões e colocada para fazer as tarefas que ninguém quer fazer, privada dos bailes e dos passeios. Sofre sem poder reclamar. Com o decorrer da estória, podemos perceber o amadurecimento da protagonista e o modo como ela começa a atrair a atenção das pessoas à sua volta.
A trama e o enredo seguem aquele estilo já consagrado de Jane Austen: os personagens são muito bem construídos de modo que se parecem muito reais, as cenas são tão bem ambientadas que tem-se a sensação de estar junto com os personagens e os acontecimentos são tão surpreendentes que é impossível parar de ler sem querer saber qual será o destino de cada personagem!
Como também não pode faltar, Jane Austen faz algumas críticas sociais, como o casamento sem amor e por interesse financeiro, no caso de Maria Bertram, entre outras alfinetadas que a autora muito astutamente dá durante a narrativa.
Nesse romance, percebe-se uma Jane Austen mais madura, com uma estória mais detalhada e focada principalmente nas relações das pessoas com a sociedade da época do que no romance em si. Ao ler Mansfield Park, não espere encontrar um casal apaixonante como Lizzie Bennet e Mr. Darcy, aqui, o foco é outro e o romance fica como pano de fundo para a mensagem que a autora quer passar.
Apesar de ter demorado muuuito para terminar esse livro, ao final da leitura achei que valeu a pena. De início, achei a narrativa meio arrastada, mas depois, percebi que cada informação contida era importante para o desfecho da estória.
“Que ninguém tenha a presunção de traduzir os sentimentos de uma moça ao receber a certeza de um amor o qual mal se permitia alimentar uma esperança.” (Austen, p. 302).
AUSTEN, Jane. Mansfield Park. Edição especial. São Paulo: Matin Claret. 2015. 768 p.
23 comentários
Oi, Helena! Tudo bem?
ResponderExcluirA-DO-REI sua resenha! Incrível!
Jane Austen consegue impressionar com sua escrita, apesar de achar que ela deixa a leitura um pouco pesada, mas o modo como você transmitiu isso ao resenhar foi fantástico! Gostei muito!
Estou seguindo o seu blog. Siga o nosso site Irmãos Livreiros também. Ficarei super feliz! :)
Beijos!
Danny
Irmãos Livreiros
Oi, Daniel!
ExcluirEu acho a escrita da Jane até leve, é questão de se familiarizar com o tipo de narrativa.
Obrigada por seguir :)
Beijão!
Eu gosto muito desse livro, mas a Fanny me dá um pouco de gastura. Me lembra um pouco a Catherine Morland de "abadia de northanger ". Eu não gosto desse tipo de personagem, mas como você disse, realmente vale a pena e a escrita da Jane Austen é tão carregada. Não é só um romance bobinho. Rs
ResponderExcluirLinda resenha! adorei!
Mandy, também não morri de amores pela Fanny não, ela é tão boazinha que dá enjoo! Não li A abadia de Northanger para poder comparar, mas se você diz...
ExcluirMas como o romance não é tanto o foco e sim os personagens, acho que o fato de a Fanny ser assim sem sal dá para relevar!
A escrita é muito rica!
Obrigada! :)
Essa edição esta perfeita. Cada detalhe, é pra guardar como um tesouro.
ResponderExcluirE só de saber que o foco principal não é o romance já ganhou mais alguns pontos.
Sua resenha ficou perfeita.
Beijo
www.tecontopoesia.com
Oi, Camila. Muito obrigada. Essa edição é esteticamente muito bonita, mesmo, mas tem alguns errinhos (poucos) de revisão, que não coloquei na resenha por serem muito poucos, mas que desanimam um tiquinho.
ExcluirObrigada!
Beijos!
Olá, Helena.
ResponderExcluirJá adorei a citação que abre a resenha, rs.
Vi a Jane falando muito sobre a Fanny no seu livro de memórias e ficava curiosa para saber sobre ela. Pude perceber, com sua resenha, que Fanny tem uma personalidade bacana e não é, de fato, ingênua. Isso muito me agrada.
Bem, acredito que é difícil quem não procure vestígios de Elizabeth em outras personagens de outros livros da Jane, rs. E confesso que assim que descobri mais ou menos o enredo, fiz uma pequena comparação a Cinderela.
Sua resenha ficou ótima, adorei!
Beijos
Historiar
Olá, Thamiris!
ExcluirSim, essa citação está na última página da estória, realmente muito boa e resumo o livro todo!
A Fanny tem uma ótima índole, sempre se guiando pelo que é correto, mas ao mesmo tempo a vejo como um pouco alienada, diferentemente da Lizzie que sempre se mostrava rebelde e inconformada com a situação em que estava (olha eu usando a Lizzie como parâmetro).
Essa estória é muito parecida com um conto de fadas, mesmo. A Fanny é uma espécie de mocinha e as primas as vilãs, haha.
Que bom que você gostou!
Beijos!
Oi Hel!
ResponderExcluirNossa, que resenha encantadora! Parabéns!
Só li um livro da Jane Austen até hoje, "Orgulho e Preconceito" e achei o livro muito bom, mas por algum motivo, nunca tive vontade de pegar outro dela para ler. Mas agora você conseguiu despertar e muito o meu interesse!
A sinopse está incrível e as citações foram muito interessantes.
Espero poder ler qualquer dia!
Beijos
http://www.blogleituravirtual.com/
Olá, Marina, muito obrigada!
ExcluirQue bom que você se interessou! Embora eu tenha que te avisar que, mesmo eu que sou acostumada à escrita da Jane, achei a leitura meio arrastada se comparada à Orgulho&Preconceito. :)
Beijos e ótimas leituras!
Lendo seu texto cresceu ainda mais meu medo de ler Jane Austen novamente. Você desconstrói qualquer ilusão de encontrar um casal apaixonado como o de Orgulho e Preconceito, pois foi muito clara em sua resenha. Abraço.
ResponderExcluirPor que, Maria? Também existem bons livros sem romance! E esse é maravilhoso!
ExcluirAbraço!
Você escreveu em um trecho que a personagem é frágil e se submete à vontade de terceiros, receio ficar irritada com esta personagem. Mas como você disse, pode ser uma boa história se quebrarmos nossos preconceitos. ;)
ExcluirSim, ela é um pouco volúvel, embora ela saiba que é assim. Mas se você teve o "feeling" de que não vai gostar do livro, tudo bem. Eu entendo! ^^
ExcluirQue lindo! Essa edição é maravilhosa.
ResponderExcluirAmei seu blog, acabei de conhecer :) Como me interesso muito em leitura (e gatices), já estou seguindo!
Beijos, Nath
wanderlust-girls.blogspot.com
Oi, Nathália!
ExcluirQue legal saber disso! Mais uma gateira para o clube dos meus seguidores, seja muitíssimo bem-vinda!
Beijos!
Oi, Thalita!
ResponderExcluirEu também não tive muita paciência com a Fanny, às vezes ela parecia tão perfeita que me dava nos nervos, haha. Mas a escrita da Jane vale a pena e há outros personagens muito bons na estória.
Bjs!
Fiquei bastante curiosa pelo livro, a leitura pode ter sido arrastada, mas achei a história interessante.
ResponderExcluirAdorei o seu blog e já estou a seguir :)
beijos,
Daniela RC
Blogue: Doce Sonhadora
Oi, Daniela!
ExcluirEntão, a leitura é um pouco cansativa, sim, pelo fato de a escrita da Jane ser rebuscada e extremamente detalhista (o que acho bom) mas ao final da leitura, percebe-se que cada informação e detalhamento foi essencial para a compreensão do enredo, o que torna a experiência da leitura de Mansfield Park maravilhosa!
Obrigada, querida. Seja muito bem-vinda!
Beijos!
Antes de qualquer coisa, quero te parabenizar pela resenha. Completíssima e rica em detalhes sem se tornar maçante (segui o blog, não resisti). Quanto ao livro, é mais uma das obras de Jane Austen que aparentam ser ótimas e ficam pairando em minha frente esperando eu tomar a decisão de ler uma delas. Tem uma lista de livros dela que vejo resenhas, gosto da sinopse mas não leio. Um dia enfim eu tiro da fila.
ResponderExcluirCantina do Livro
Olá, Carlos. Muito obrigada pelas palavras! Você não sabe o quanto isso me anima a continuar!
ExcluirAs obras da Jane são ótimas, quando você conhecer alguma delas verá o quanto a escrita e os enredos que ela criou são magníficos!
Oi Helena! Tudo bem?
ResponderExcluirMenina eu tenho a primeira dessa edição (aquele livro rosa) e é um luxo, viu! Meu Deus, lindo demais!
Ainda não, mas quero muito ler e comprar essa edição azul também. Quero muito ler Jane Austen. Gostei muito de sua resenha, principalmente da leitura sobre a personagem principal e suas características como heroína.
Te sigo.
Bjão.
Diego, Blog Vida & Letras
www.blogvidaeletras.blogspot.com
Olá, Diego!
ExcluirSou louca na edição rosa, ainda vou comprar!
Que bom que você gostou da resenha, espero que possa ler algum romance da Jane Austen em breve. :)
Bjs!
Deixe um comentário! Eu vou adorar saber a sua opinião e com muito prazer te responderei :)