O planeta dos macacos - Pierre Boulle

09:36

Sabem aqueles livros que vocês não leram mas já sabem que vão amar? Aconteceu isso comigo no caso de "O planeta dos macacos". Apesar de ser de um gênero que não leio muito, ficção científica, eu tinha o feeling de que esse livro seria muito bom! Criei expectativas e... Não me decepcionei!
Esse livro é daqueles que tira o leitor da zona de conforto, nos faz divagar e nos envolve na leitura justamente pelo tema que ele traz. Vou explicar melhor.

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Foto: arquivo pessoal

Tudo começa no espaço. Um casal está em lua de mel e vê uma garrafa com um manuscrito se aproximando de sua nave; aí já começam as peculiaridades na estória. Eles param a nave e recolhem a garrafa curiosos para ler o conteúdo misterioso. Trata-se do relato do jornalista Ulysse Mérou. Nele, Ulysse narra sua chegada e de mais dois tripulantes da expedição a um planeta da galáxia de Betelgeuse ( já ouviram esse nome antes em "O guia do mochileiro das galáxias", lembram?), um planeta muitíssimo semelhante à Terra:

"Não restava dúvida de que nos encontrávamos num irmão gêmeo da nossa Terra. A vida existia. [...] Pelo que víramos antes da aterrizagem, sabíamos também que existia uma civilização." (Boulle, p. 26)

Foto: arquivo pessoal
A estória é dividida em quatro partes

Eles batizam o planeta com o nome Soror. O primeiro habitante que encontram, para seu espanto, é um ser humano, uma mulher, especificamente. Contudo, ela é estranha demais, apesar da beleza natural e estonteante, e Ulysse a batiza com o nome de Nova:

"Abriu a boca. [...] Achava que ela iria falar, gritar. Eu esperava um chamado. Estava preparado para a linguagem mais bárbara, mas não para aqueles sons estranhos que saíram de sua garganta; muito precisamente de sua garganta, pois nem a boca nem a língua tinham qualquer participação naquela espécie de miado ou grunhido agudo, que parecia mais uma vez traduzir o frenesi alegre de um animal." (Boulle, p. 31)

Logo, eles constatam que os seres humanos dali são selvagens, bestiais. Mas, então, quem haveria construído as casas e prédios, enfim, aquela civilização?
Poucos minutos depois de aterrizarem e de terem sua nave e roupas destruídas pelos humanos selvagens, os três se veem em meio a uma caçada em que os homens são a caça e - pasmem - os macacos são os caçadores:

"Em vão repeti para mim mesmo que estava enlouquecendo, afinal não restava mais nenhuma dúvida quanto à sua espécie. Mas encontrar um gorila no planeta Soror não era a principal extravagância do episódio. Ela residia para mim no fato de aquele macaco estar corretamente vestido, como um homem dos nossos, e principalmente na desenvoltura com que usava suas roupas. Essa naturalidade impressionou-me acima de tudo. Assim que avistei o animal, ficou evidente para mim que ele não estava de forma alguma fantasiado." (Boulle, p. 46)

Foto: arquivo pessoal
A edição da Aleph tá muito linda, com essas laterais arredondadas parecendo um moleskine

Mal tendo tempo de assimilar toda a situação, Ulysse é capturado pelos macacos e levado para um laboratório onde se realizam testes, muito parecidos ou iguais aos testes que são feitos com animais - inclusive macacos - aqui na Terra. Ele se vê em uma situação invertida; agora ele é tratado como inferior e os macacos é que dominam. Sem compreender o idioma dos macacos, ele se vê numa situação complicadíssima ao tentar provar que é tão racional quanto eles.

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Que livro agoniante! O que falar mais? Amei? Adorei? Achei tudo??? Sem brincadeiras agora, que livro F***! A narrativa é tão simples que eu li em algumas horas apesar de o livro ter mais de 200 páginas. E essa edição da Aleph - linda, diga-se de passagem - ainda vem com uma nota à edição brasileira, uma entrevista de 1972 com o próprio Boulle e um posfácio com uma análise maravilhosa do livro! 
Uma temática que o livro trouxe e que me tocou profundamente foi a inversão de papéis; há uma cena em que Ulysse tem acesso a uma sala no laboratório onde são feitos testes em humanos e ele fica extremamente horrorizado. O que se constata é que isso acontece todos os dias aqui em nosso planeta e, como não nos atinge, já que somos seres racionais e - teoricamente - superiores, não nos damos conta da crueldade desses testes. Mas só quando o protagonista se vê nessa situação de servidão é que ele percebe a gravidade do fato. A questão que isso nos incute é: temos o direito de explorar os animais só porque somos racionais? Não! O que nos difere é só a racionalidade, sofrimento e dor, todos os animais sentem. E essa questão é pontuada muito sutilmente por Boulle, embora cause uma sensação das mais desconfortáveis no leitor.

Foto: arquivo pessoal

Durante uma parte da narrativa, acompanhamos os esforços do protagonista para tentar provar que não é um "animal" e tentar se encaixar naquela sociedade tão singular. Só de pensar, hipoteticamente, em se por no lugar de Ulysse, já dá uma aflição. 
E, além de tudo, é um livro repleto de críticas ao comportamento em sociedade.
A escrita de Boulle é simples e direta, sem rodeios ou enfeites, é seca, e isso torna a estória ainda mais chocante e, em alguns momentos, assustadora. Confesso que a última frase do livro me deixou APAVORADA.
E o final do livro? Pensem em um plot twist destruidor! Vocês precisam ler porque é um daqueles finais que vai entrar para o meu hall de melhores finais da ficção! Simplesmente de cair o queixo.
Eu normalmente costumo indicar os livros que resenho aqui para quem se identifica com o gênero, nesse caso ficção científica, mas a verdade é que "O planeta dos macacos" não é um clássico à toa. Todos devem lê-lo, é magnífico e me deixou extasiada.


Beijinhos, Hel

BOULLE, Pierre. O planeta dos macacos. São Paulo: Aleph, 2015. 208 p. Tradução de André Telles.

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12 comentários

  1. Oi Helena, td bom? ^^
    Olha eu já assisti ao primeiro filme que é baseado nesse livro. E assiti também a todos que sairam nos últimos anos, e tive os mesmos sentimentos que você! Imagino que o livro deve acentuar um pouco mais de aflição, incredulidade, choque, aversão, e muitos outros sentimentos! Mais um clássico fantástico! Amei a resenha... :)
    Bjo!

    http://www.blogleituravirtual.com/

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    1. Olá, Gustavo, tudo sim!

      Rapaz, ainda não assisti esse primeiro filme, apesar de ser mais fiel ao livro do que os filmes mais recentes, vi muita gente falando que o final foi alterado :/ mas ainda quero muito assistir!
      A narrativa é muito tensa, e em alguns momentos eu não consegui controlar minhas reações, pois acontecem coisas que te fazem ficar estupefato, justamente pela inversão dos papéis, alguns macacos são muito arrogantes e isso dá uma agoniiiaaa!

      Que legal que você gostou, acho que não consegui exprimir a força do livro, mas tudo bem!

      Bjs!

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  2. fiquei com vontade de ler. beijos, pedrita
    http://mataharie007.blogspot.com.br/

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    1. Leia sim, Pedrita. Esse livro tem um enredo muito bom e a narrativa é bem simples, dá pra ler rapidinho!

      Bjs!

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  3. Oi, Hel!
    Acho que serei a única exceção a não querer ler esse livro. Não sei... Tem algo que ainda não me despertou a atenção.
    Eu sabia que esse livro era meio antigo, mas não tanto.
    Te indiquei numa tag.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe do sorteio Mês das Mulheres em Dobro
    Porcelana - Financiamento Coletivo

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    1. Oi, Lu. Que pena que não te interessou, mas se você acha que não faz seu estilo, fazer o que, né?

      Não é tãããão antigo, mas se tratando de ficção científica dá para perceber que é um pouquinho desatualizado, o que de modo algum interfere na maravilhosa narrativa!

      Bjs e obrigada pela indicação na TAG, em breve respondo aqui. :D

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  4. Oi Hel! Aqui é a Mah! Adorei a resenha, me despertou muita vontade de ler, ainda mais que eu tinha um pé atras com a história. Mas parece ser mesmo uma baita ficção científica. Além disso, que edição linda da Aleph, né? Os cantinhos arredondados dão um detalhe muito bom. Vale um review na Estante :D
    Beijos e até mais!
    Estante de Luxo - www.estantedeluxo.com.br

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    1. Olá, Mah! Que bom que gostou, mas por que tinha um pé atrás? Eu, ao contrário de você, sempre achei que ia gostar muito desse livro.

      Essa edição da Aleph está muito completa com textos de apoio muito bons e sem falar na estética, linda demais!

      Bjs!

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  5. Olá!

    Esse livro parece muito bom, quero ler!~
    Pelo que já nos falasse e pelo que diz aqui, as temáticas abordadas são bem interessantes~
    Só o fato de não conseguir se comunicar já traz um drama lindo~ *-*
    E ainda todas essas questões críticas~
    Definitivamente o lerei.

    Enfim~ Adorei a resenha! ^^

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    1. Oi, Paula. Eu acredito que você vá gostar do livro sim!
      Sobre esse drama da flata de comunicação, é uma das partes agoniantes do livro que dá um tom de tensão no leitor, muito bom!
      As críticas são muiiito boas, você sabe que eu adoro uma crítica ou ironia em narrativas, né? O planeta dos macacos não deixou a desejar nesse quesito!

      Leia sim!

      Que bom que curtiu a resenha!

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  6. Oi Hel!
    Vou falar, tenho um livro dessa editora e eles arrasam! O exemplar que eles fizeram de Jurassic Park está perfeito, vivo admirando. rsrs
    E parabéns pela resenha! Já tinha ouvido muito falar sobre o livro e filme, mas nunca li nem assisti! Não achava que fosse do meu agrado. Mas sua resenha me mostrou que é o contrário. Deve ser fascinante!
    E a inversão de papéis... Nossa, ver essas coisas com outros olhos deve ser bem forte.
    Quero muito ler agora rs
    beijos
    http://www.blogleituravirtual.com/

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    1. Oi, Marina!
      Eu nunca tinha lido nenhum livro da Aleph, achei a qualidade muito boa, a revisão e diagramação também!

      Obrigada! O livro é fascinante sim, faz pensar em nossa sociedade, em nossos comportamentos e o que define a humanidade, se é a racionalidade, enfim, questões filosóficas muito interessantes.

      Leia, leia!

      Beijinhos ^^

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