Escritores e gatos - Charles Baudelaire

13:30

Olá, leitoras e leitores! Já estavam com saudade dos gatinhos por aqui? O escritor que eu trago hoje gostava tanto de gatos que escreveu poemas em homenagem. Mas ele não seria o primeiro, não é mesmo? Eu estou falando de Charles Baudelaire:


Baudelaire é conhecido por seus poemas "polêmicos", e eu confesso que li pouco da sua obra, alguns poemas aqui, umas prosas poéticas ali, até que me deparei com esse poema:

Os gatos

Os amantes febris e os sábios solitários
Amam de modo igual, na idade da razão,
Os doces e orgulhosos gatos da mansão,
Que como eles têm frio e cismam sedentários.

Amigos da volúpia e devotos da ciência,
Buscam eles o horror da treva e dos mistérios;
Tomara-os Érebo por seus corcéis funéreos,
Se a submissão pudera opor-lhes à insolência.

Sonhando eles assumem a nobre atitude
Da esfinge que no além se funde à infinitude,
Como ao sabor de um sonho que jamais 
                                        termina;

Os rins em mágicas fagulhas se distendem,
E partículas de ouro, como areia fina,
Suas graves pupilas vagamente acendem.


Quem arrisca ler em francês, aqui está o original:


Les chats

Les amoureux fervents et les savants austères
Aiment également, dans leur mûre saison,
Les chats puissants et doux, orgueil de la 
                                        maison,
Qui comme eux sont frileux et comme eux 
                                        sédentaires.

Amis de la science et de la volupté
Ils cherchent le silence et l'horreur des 
                                        ténèbres ;
L'Erèbe les eût pris pour ses coursiers funèbres,
S'ils pouvaient au servage incliner leur fierté.

Ils prennent en songeant les nobles attitudes
Des grands sphinx allongés au fond des 
                                        solitudes,
Qui semblent s'endormir dans un rêve sans fin ;

Leurs reins féconds sont pleins d'étincelles 
                                        magiques,
Et des parcelles d'or, ainsi qu'un sable fin,
Etoilent vaguement leurs prunelles mystiques.

Olha, esse poema me fez ver um lado mais sombrio e obscuro dos gatinhos, não é? Baudelaire associa aos gatos adjetivos como solitários, orgulhosos... E ainda os associa à ciência e à volúpia. Não sei se vocês costumam fazer isso, mas quando eu leio um poema eu tento extrair uma imagem ao fim da leitura. Lendo Os gatos eu pensei em um gato preto, bem misterioso, com o pelo lustroso, deitado em uma poltrona. Loucura? Não sei, mas o que sei é que esses bichanos encerram em si muitos mistérios e são de longe os seres mais enigmáticos do mundo animal.



Beijinhos e lambeijos, Hel.

BAUDELAIRE, Charles. As flores do mal. Edição bilíngue. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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8 comentários

  1. Li apenas alguns poemas em prosa de Baudelaire, conheço pouquíssimo dele.
    O poema traz, de fato, algo mais sombrio a respeito dos gatos e Hel, eu gostei bastante dele!
    E por fim, achei que a imagem ilustrou bem o poema.
    Beijos

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    1. Eu também só conhecia os poemas em prosa, que gosto muito. Confesso que não sou muito chegada nos versos, mas falou de gato é comigo! Rsrs.
      Beijos!

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  2. Olá! Apesar de ter um exemplar desse livro, "As flores do mal", ainda não o li. Como sabes, não sou muito chegada a versos. ^^"
    Mas interessante ver que ele tem um poema sobre gatos! Quanto a essa ideia de imagem final, eu já imaginaria aqueles ambientes iluminado à vela, sabe? Que tem esse ar mais misterioso~ E consigo imaginar perfeitamente o gato na poltrona, como dizes! XD
    Enfim, bacana~
    Curiosa por quais serão os próximos escritores a aparecer por aqui. =)

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    1. Eu sei sim, também compartilho desse sentimento. Mas como eu disse, é um poema sobre gatos! Tem como não ficar curiosa?
      Achei sua imagem do poema interessante e acho que representa muito bem, mas a iluminação que eu imagino é de lareira, sabe?
      Ainda não sei qual escritor trarei, tenho algumas ideias, mas nada definido. Ainda tenho que pesquisar!
      :)

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  3. Adorei essa coluna! Gosto bastante de gatos, mas acho que prefiro os cachorros. Alguns são exatamente como os descritos no poema, orgulhosos e imprevisíveis. Mas num geral, são uns amores de apertar, é claro hahaha existe um conto do Edgar Allan Poe sobre gatos, já leu? É meio sombrio.

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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    1. Olá, Carol. que legal que você gostou da coluna! Eu também era uma pessoa cachorro, até os quinze anos eu não me interessava nem um pouco por gatos. Ambos são criaturas adoráveis, cada um a seu modo.
      Eu já li esse conto sim, diversas vezes, inclusive. E sombrio é um termo leve para classificá-lo, haha, é bem macabro, isso sim! Mas eu adoro os contos do Poe!

      Bjs!

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  4. Oi, Hel!
    Eu não sou muito fã de poemas, então não consigo ter essa mesma experiência que você.
    Adoro essa sua coluna
    Ah! Te indiquei numa tag
    Beijos
    Balaio de Babados

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    1. Lu, oi!
      Eu também não curto muito, acho a leitura de poemas muito mais difíceis que a de romances, enfim.
      Obrigada por indicar, vou lá olhar depois!
      Beijos

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