A redenção do anjo caído - Fábio Baptista

17:00

"Ele me criou assim, com um coração repleto de ambição e me colocou ao lado do que eu mais poderia desejar: o poder!" (2016, BAPTISTA)

Certo dia o diabo (capeta, capiroto, the mônio ou como você preferir chamar) depois de muito refletir nas profundezas do inferno, percebe que nada que fará será suficiente para derrotar seu pai, o Altíssimo, que, sendo onipotente, onipresente e onisciente, é invencível e que qualquer nova tentativa de tomar o trono dEle e se tornar o senhor do universo será infrutífera. É então que ele resolve ir até a morada do Pai buscar redenção, se redimir. Claro que não ia ser tão fácil, afinal, Deus não dá o peixe, mas sim a vara para pescar. Sendo assim, propõe a Lúcifer que ele passe uma temporada na Terra, entre os humanos e que, na sua estadia por lá, faça algo de bom pela humanidade. A princípio, Lúcifer acredita parecer ser fácil a tarefa, mas quando acorda na Terra, no meio de São Paulo, no corpo de um mendigo, ele vê que vai ser mais difícil do que imaginava.

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"Não servirei mais como marionete, não vou ceder aos santos caprichos. Se a história precisa de um vilão, alguém louco o suficiente para enfrentá-lo em combate aberto, Ele que arrume outro, porque eu não vou mais participar dessa palhaçada. Estou farto, esgotado." (2016, BAPTISTA)

No primeiro momento, conhecemos um resumo geral da história bíblica; Deus criando seu primeiro anjo, Lúcifer, portador da luz, e o relacionamento dos dois. Quando Deus resolve criar outros anjos, Lúcifer fica irado e mordido de ciúmes, mas quando o pai resolve criar a Terra e os seres humanos... ah, ele não aceita e se rebela contra ele, na guerra do bem e do mal que conhecemos tão bem.
Mas, como dito no início, ele percebe que nunca vai vencer o pai e que a única alternativa é entrar para a seita, aceita que dói menos. Desculpem, não resisti ao trocadilho! Na Terra, Lúcifer passa a se chamar Lucien, e conhece já em seu primeiro dia Gisele, uma menina de rua. Imediatamente ele se encanta e fica afeiçoado a ela, mas precisando de dinheiro para comer, aceita fazer um "corre" com a menina nas ruas da cidade. Sim, em seu primeiro dia Lucien já começa cometendo delitos, velhos hábitos nunca mudam.
Nas ruas, a vida é cruel e solitária e o diabo come o pão que... Bem, vocês entenderam. Ali na sua nova vida ele, que outrora incitava a maldade nas atitudes das pessoas, agora as sofre em sua própria pele e não acha nada bom.

"Ninguém olha para os perdedores." (2016, BAPTISTA)

Fica cada vez mais difícil para Lucien sair da situação de mendigo e ascender socialmente, mas, como que por um golpe de sorte, ele acaba indo parar na política. Claro que seria um político! Aos poucos, então, ele esquece da sua missão de redenção e começa a fazer o que quer: governar a seu bel prazer. Mas claro que não duraria para sempre.

"O amor por aquela menina poderia redimi-lo? Nunca descobriria as respostas." (2016, BAPTISTA)

***

Antes de tudo, quero deixar bem claro que não sou uma pessoa cristã, não tenho religião, muito menos um posicionamento definido em relação à mitologia cristã, não me julgo apta a avaliar a pesquisa que o autor fez, pois, apesar de querer estudar mais afundo a bíblia, nunca a li em sua integralidade. Porém, acredito que um cristão não encontrará nenhuma blasfêmia ou ofensa a sua religião nesse livro.

A narração alterna entre as cenas na Terra e cenas no céu e inferno e devo dizer que Fabio está de parabéns, pois a cada mudança de cenário era como se eu estivesse me transportando de um lugar ao outro. Até o vocabulário mudava, era como estar em um filme. Além disso, o protagonista é muito carismático (Oi? Sim, me encantei com o diabo de Fabio Baptista), extremamente irônico e, incrivelmente, torna-se mais "humano" ao conviver com os seres que outrora foram o motivo de sua ira e insatisfação com o Pai.

Apesar de ter um tom irônico e até mesmo debochado, a narrativa tem também uma mensagem que transcende a linguagem e que me proporcionou algumas reflexões que acho importante compartilhar com vocês. Uma delas é sobre o comportamento humano, sobre o que é inerente, o amor e o ódio, e como esses dois sentimentos estão tão entrelaçados.

"O amor só vale quando é a opção que se escolhe em meio a infinitas outras possibilidades." (2016, BAPTISTA)

Além disso, outra coisa que o livro me fez pensar foi no livre arbítrio. Será que realmente o exercemos ou somos influenciados pelo meio e pessoas a nossa volta? Nossas atitudes definem quem somos ou existe, mesmo nas pessoas aparentemente ruins, uma essência primeira que é boa e cândida? Bom, são perguntas difíceis que requerem respostas complexas, não ouso arriscar responder.

Antes de me despedir, gostaria de falar sobre o final do livro (sem spoilers, claro), sobre a minha expectativa e o que eu encontrei. Confesso que a dúvida se haveria a bendita redenção ou não não foi algo que me deixou curiosa, mas, no fundo, eu ainda esperava que a narrativa me surpreendesse no final, o que não aconteceu. Admito que eu ainda tinha esperanças de me surpreender com um final ousado, inesperado. Mas isso não desmerece a escrita do autor, pelo contrário, gostei muito do livro e recomendo a todos que curtem enredos sobre anjos e demônios.

"Quem salva uma alma, salva o mundo inteiro." (2016, BAPTISTA)

Beijinhos, Hel.

BAPTISTA, Fabio. A redenção do anjo caído. FSB books. 2016

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8 comentários

  1. Olá, Helena! Histórias com anjos e demônios são sempre apreciadas por minha pessoa, apesar de eu não seguir nenhuma religião, eu gosto de ler livros com essa temática, é sempre tão polêmico. Essa obra parece ser muito interessante, pelo que eu li na resenha, o livro vale a pena ser lido, principalmente para quem gosta da temática da obra. Parabêns pela resenha, eu gostei muito da sua resenha. Abraços!

    www.marcasliterarias.com.br

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    1. Oi, Luciano!
      Eu também gosto de uma polêmica, haha.

      Obrigada pelo comentário. :)

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  2. Olá Hel! Tudo bem?
    Bom eu sou cristão, e ao meu ver, realmente a obra aparenta ter narrado o relato bíblico com exatidão. É inevitável a quem conhece a história de Lúcifer não se perguntar ao menos uma vez na vida se não existe redenção ao anjo caído! Afinal de contas nós seres humanos temos... mas como o próprio autor diz, parece ser necessário existir os opostos : bem e mal, amor e ódio, verdade e mentira... imagino quanta reflexões esse livro traz! Ótima resenha, estou gostando muito do seu jeito mais descontraído ultimamente ao escrever sua resenhas :) beijos!

    www.blogleituravirtual.com/

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    1. Oi, Gustavo. Tudo bem?

      Esse livro me fez refletir bastante, principalmente na parte em que se passa na Terra.

      Que legal que vc gostou da linguagem da resenha, na verdade, eu me senti um pouco inspirada na linguagem que o próprio Fabio utiliza no livro dele, é muito contagiante esse tom irônico!

      Beijão!

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  3. Acho que a maior qualidade do livro é fazer pensar. Não é uma obra para consumo rápido, daquelas que esquecemos depois de alguns dias. Não é raro surpreender-se com algumas das divagações contidas na trama da "Redenção..." Enfim, é um livro que vai muito além da história que apresenta. Parabéns pela resenha, Helena!

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    1. Oi, Gustavo. Que legal vc por aqui!

      Esse livro faz pensar muito no que é ser humano, né? Eu não esperava encontrar tantas reflexões quanto eu encontrei, livro recomendadíssimo!

      Obrigada pelo comentário, Gustavo. *--*

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  4. Oi, Helena! Estava ansioso por essa resenha. Quando eu vi a sua avaliação no Skoob já tinha ficado bem feliz (e aliviado! hauahua) e agora foi muito legal ver sua opinião. Tenho acompanhado o blog faz um tempo e seus textos são excelentes.

    Muito obrigado! :D

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  5. Haha, é a terceira resenha que encontro desse livro, e acredito que o autor deve ter feito um bom trabalho. O livro foi bastante elogiado tanto pela Tatiana Feltrin quanto pela Isabela Lubrano, e nenhuma das duas é assim tãaao religiosa.
    Eu nunca fui chegada nessa temática de anjos e demônios. Só li um livro sobre isso, mas era um romance fantástico, e eu diria que só tenho curiosidade com essa mitologia por causa de Supernatural. Já tentei ler a Bíblia porque eu queria "entender melhor" os meus colegas de escola que eram mais religiosos, e não dei conta, acho que parei em "Números" porque não tava entendendo nada depois de ter saído do Gênesis. Infelizmente, a Bíblia ta no desafio Rory Gilmore. Eu espero algum dia ter maturidade pra tentar de novo.
    Parece ser o tipo de livro que eu leria por diversão, só pela zueira mesmo (ainda mais por saber que o diabo vira político no Brasil kkkkk). Mas acho que não desperta tanto assim a minha curiosidade.

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