O papel de parede amarelo - Charlotte Perkins Gilman
08:30
"Há coisas nesse papel que só eu sei, e que ninguém mais virá a saber."
Um clássico da literatura feminista, como a capa da edição informa, e que eu ainda não conhecia, mas que, graças à ação do dia internacional da mulher do Grupo Editorial Record, tive o prazer de finalmente fazê-lo. Li de "uma sentada" e, ao final do processo, um misto de sensações e pensamentos confusos faziam parte de mim!
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Por muito tempo considerado como literatura de terror, O papel de parede amarelo nos apresenta uma mulher que é levada pelo seu marido para passar um período em uma casa de campo, devido a um problema de saúde, uma "depressão nervosa passageira - uma ligeira propensão à histeria". Lá, ela é acomodada em um quarto com um horrendo papel de parede amarelo, que desde o início a perturba intensamente:
"Nunca vi tanta expressão em uma coisa inanimada, e todos sabemos quanta expressão essas coisas têm."
De todo modo, por mais que a narradora tente descrever os padrões e características do papel de parede, ao final da leitura, ele ainda estava completamente indescritível para mim.
Ao longo da narrativa, que é narrada em primeira pessoa pela protagonista em forma de um diário, vamos acompanhando a relação dela com seu marido e o modo como ele ignora totalmente a real situação psicológica - ou psíquica - da esposa, afinal, ele é médico:
"Disse que eu era sua amada, seu consolo e tudo que ele tinha, e que devo cuidar de mim mesma por amor a ele e manter-me saudável.
Ele diz que ninguém além de mim pode me ajudar a sair deste estado; que devo usar minha força de vontade e meu autocontrole e não me entregar a fantasias tolas."
Percebe-se que, embora ela discorde do marido, ela não ousa desafiá-lo, mas não por medo, e sim porque ela acredita que ele está certo e o problema é ela. Contudo, é o papel de parede que de certa forma a alerta da situação em que ela está. O papel é uma metáfora, pois, ao cismar com suas cores e padrões, e com o próprio quarto em que ela é obrigada a permanecer contra a vontade, ela começa a enxergar nele uma mulher presa, ela mesma:
"Nos pontos mais iluminados ela se mantém quieta, e nos pontos mais sombrios segura as grades e as sacode com força.
E o tempo todo tenta escapar. Mas não há quem consiga atravessar esse padrão - ele é asfixiante; [...]"
Esses pontos mais claros, pode se dizer que são os momentos em que ela está sendo observada, vigiada, e que precisa esconder o que está sentindo e pensando, por isso, quieta. Os pontos mais sombrios são os momentos em que ela não aguenta mais a solidão e o tédio e tenta se libertar da condição de isolamento a que foi obrigada a ficar.
Ela tenta arrancar o papel numa tentativa de se libertar, mas não se libertar do papel, e sim das amarras de seu marido e da sociedade.
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Foto: arquivo pessoal |
Privada de fazer o que gosta, pois seu marido a impede de se esforçar, a protagonista não pode escrever, que era a atividade que mais lhe dava prazer, assim, ela escreve este diário escondida. E é perceptível que ela está se sentindo pressionada e ansiosa pelo modo como escreve: frases curtas, entrecortadas, parágrafos curtos e objetivos, muitas vezes ela precisa interromper a escrita pois alguém está chegando, e isso faz da leitura uma experiência de agonia e suspense.
Não preciso nem dizer que o conto faz uma crítica à relação de alienação entre marido e mulher - e não um conto somente de terror -, de modo que o desfecho da narrativa deixa bem claro os prejuízos que tal relação causou a nossa protagonista. E o interessante é que o conto tem traços muito pessoais da própria autora, Charlotte, os quais podemos saber ao final da edição, que vem com uma apresentação de Marcia Tiburi, intitulada A política sexual da casa e um posfácio que apresenta muito da biografia da autora, escrito por Elaine R. Hedges. Uma edição completíssima de um conto indescritível, O papel de parede amarelo foi uma leitura que jamais esquecerei e que com certeza revisitarei, dada a brevidade do texto mas que é tão grande nas reflexões e questionamentos que provoca.
Beijinhos, Hel.
GILMAN, Charlotte Perkins. O papel de parede amarelo. 1ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. 110 p. Tradução de Diogo Henriques.
10 comentários
Oii!
ResponderExcluirEsse livro com certeza está na minha lista de leituras futuras!
Nos últimos tempos tenho ouvido falar bastante dele, o que é uma coisa boa.
Mas ainda assim, não conhecia a estória além da capa.
Beijos
www.ooutroladodaraposa.com.br
Olá, Rai.
ExcluirEsse livro realmente não impressiona pela capa, mas contém uma estória maravilhosa e muito impactante, chocante, principalmente o final. Recomendo demais a leitura!
Beijos
Oi, Helena!
ResponderExcluirAdorei esse seu espaço e amei a resenha.
O livro já está na minha lista de desejados :)
Beijinhos,
Sala de Leitura
Oi, Luciana!
ExcluirSeja muito bem-vinda e boas leituras!
Beijinhos.
Oi, Hel.
ResponderExcluirMais uma resenha incrível! É sério, adoro a forma como escreve.
Não tinha conhecimento desse livro e fiquei super curiosa para lê-lo. Andei percebendo que tenho um gosto literário parecido com o seu. Sempre gosto muito das suas resenhas.
Beijos!
Historiar
Oi, Thami.
ExcluirMuito obrigada!
Pois é, temos gostos parecidos e isso é muito legal e fico muito feliz por te agradar com minhas resenhas. Vindo de você esse comentário é um elogio para mim.
Beijos!
Oi, tudo bem? Ultimamente ando vendo vários booktubers e blogueiros falando sobre esse livro. Confesso que pela capa eu jamais leria, sequer leria a sinopse, mas sua resenha me deixou bem curiosa... Adorei!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Olá, Larissa! Esse conto foi enviado por causa do dia da mulher a todos os parceiros do Grupo Editorial Record e da Galera Record também, por isso ele está sendo bem divulgado!
ExcluirÉ uma estória muito interessante para se analisar a relação entre marido e mulher naquela época.
Beijos e boas leituras
Olá Hel!
ResponderExcluirQue fotos lindas!
Parece ser um livro bastante aflitivo.
Bjs
EntreLinhas Fantásticas - MEGA SORTEIO DE ANIVERSÁRIO! LANÇAMENTO STEPHEN KING + TIMOTHY ZAHN E RENATA VENTURA AUTOGRAFADOS!
Olá, Thalita. Obrigada, procurei caprichar no cenário porque sinto que as fotos do blog devem em qualidade.
ExcluirÉ uma leitura bem aflitiva mesmo!
Bjs
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