Clube da luta - Chuck Palahniuk

17:00

"Apenas depois do desastre é que podemos ressuscitar." (PALAHNIUK, p. 84)
Exemplar adquirido por meio de troca no Skoob Plus. Quem me segue lá, viu que eu favoritei esse livro. Continuem lendo essa resenha para saber o porquê.
Me adicionem lá: Hel | Leituras&Gatices
Há algum tempo atrás, fiz um post falando sobre como bons livros não podem ser estragados por spoilers. Exemplo disso, foi a minha experiência de leitura com Clube da luta. Eu já sabia de antemão a grande revelação da estória, que é um dos plot twists mais conhecidos da cultura pop, largamente difundido por causa da adaptação (maravilhosa, diga-se de passagem) de David Fincher. Mesmo não tendo assistido ao filme antes de ler Clube da luta, saber como a estória termina de modo nenhum comprometeu minha admiração pelo enredo e pelas reflexões que ele me causou.

"Nossa cultura nos fez sermos todos iguais. [...] Todos queremos a mesma coisa,. Individualmente não somos nada." (PALAHNIUK, p. 167)

O protagonista é um jovem funcionário de uma empresa de seguros para carros que tem uma existência bem frustrada. Trabalha para poder bancar um estilo de vida que ele sequer gosta, mas que a mídia impõe como sendo o ideal. Não vive plenamente. E para se sentir mais vivo, ele frequenta grupos de apoio, lugares em que ele encontra pessoas com câncer, parasitas no cérebro, sem testículos, enfim, pessoas em situações muito piores do que a dele. Porém, uma intrusa que também finge estar doente começa a frequentar os mesmos grupos de apoio que ele. É assim que conhecemos Marla Singer, tão infeliz e frustrada, só esperando pela morte.

"[...] se as pessoas achavam que você estava morrendo, elas lhe davam total atenção. [...] As pessoas ouviam em vez de apenas esperar a própria vez de falar." (PALAHNIUK, p. 133)

Até que um dia, em um dos seus voos a trabalho, conhece Tyler Durden, uma figura muito curiosa e, juntos, idealizam o Clube da luta, um lugar onde não há rótulos, e que podem ser e fazer o que sempre quiseram. Ali, homens de origens diferentes, garçons, empresários, jovens, velhos, gordos, magros, se reúnem para extravasar a raiva entre socos e chutes, sem julgamentos, ninguém é melhor do que ninguém. 

"Gerações têm trabalhado em empregos que odeiam para poder comprar coisas de que realmente não precisam. - Não temos uma grande guerra em nossa geração ou uma grande depressão, mas na verdade temos, sim, é uma grande guerra de espírito. Temos uma grande revolução contra a cultura. A grande depressão é a nossa vida. Temos uma depressão espiritual."(PALAHNIUK, p. 186)

O protagonista, não nomeado, faz uma amizade muito intensa com Tyler, pois ambos parecem sofrer das mesmas mazelas. Talvez por entenderem um aos problemas do outro é que a amizade deles se mantenha tão verdadeira. Tyler começa a mostrar que a vida pode ser excitante se ele se desfazer das amarras sociais. O clube da luta é a maneira de os dois dizerem um grande "Foda-se" para a sociedade. Mas engana-se quem acha que o clube era desregrado e anárquico, na verdade, tinha oito regras. A primeira e a segunda eram as mais importantes: você não fala sobre o clube da luta. Embora exista essa regra, a violação dela começa a trazer novos membros e logo vários clubes da luta começam a surgir por todo lugar.



***

Apesar de Clube da luta ser um livro que, na sua superfície, fale sobre violência, percebe-se que é só uma metáfora, nos joga na cara que precisamos sair da zona de conforto e agirmos de maneira a nos libertarmos de todos os estereótipos e do que a nossa cultura consumista nos impõe. E essa luta precisa ser enérgica, é preciso "lutar" para viver, se não estaremos apenas existindo, afinal, essa é nossa vida "e ela está acabando um minuto de cada vez.". Deve ser por isso, talvez, que o protagonista não tem nome, ele pode ser qualquer um de nós, tão infeliz por perseguir um padrão de vida que não importa o que fizermos, cada vez fica mais inalcançável. Clube da luta é uma estória visceral, um tapa na cara.

Após ler e assistir ao filme, compreendo porque Clube da luta é um clássico moderno; ele reflete toda a pobreza de nossa geração. Somos a geração do imediatismo e da falta de profundidade, tudo vira meme, tudo é ostentação, instantâneo, selfie. A geração que tem preguiça de ler, que aceita tudo mastigado, resumido e depois mastigado de novo. A geração que não questiona e problematiza sem conhecimento de causa. É triste e ao mesmo cômico que uma geração com tantas oportunidades, em que a informação está a um clique de distância tenha se transformado nisso, e Clube da luta atira a verdade crua na cara do leitor. Leiam e se surpreendam como eu!

Obs 1.: Não vou comentar o final do livro, quem ainda não sabe do que se trata, deveria ler hoje mesmo e se surpreender porque é simplesmente GENIAL.
Obs 2.: Não vale vir nos comentários dizer que eu quebrei a primeira e segunda regra do clube da luta. 
Obs 3.: A adaptação de Clube da luta está disponível na Netflix e recomendo que assistam, é muito fiel ao livro e mantém as mesmas críticas.

Beijinhos, Hel.

PALAHNIUK, Chuck. Clube da luta. Tradução de Cassius Medauar. São Paulo: Leya, 2012. 270 p.

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3 comentários

  1. Oi Hel! Ainda não tinha lido resenha sobre o livro, só ouvi várias menções ao filme. Parece ser mesmo um clássico moderno e ler livros assim nos faz repensar nossa condição, essa questão de nos matarmos por algo que não precisamos é tão real. E atualmente é visível o quanto as pessoas estão alienadas. Vou colocar mais um na minha lista de leitura... rs. Abraço! ;)

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    Respostas
    1. Pois é, Maria. Esse livro se torna mais necessário do que que nunca conforme o tempo vai passando. Recomendo muito esse livro! Boa leitura.
      Abraço. :)

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  2. Tenho que tomar vergonha na cara e ler esse livro. Já assisti o filme, então sei qual a grande reviravolta do final, mas li muitas resenhas indicando o livro.
    Beijos
    Mari
    www.pequenosretalhos.com

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