Resenha: A Metamorfose de Franz Kafka

19:33

Foto: arquivo pessoal

Olá, leitores e leitoras! Como vão?
Hoje a resenha é de mais um clássico da literatura: A Metamorfose do autor tcheco Franz Kafka. Publicado originalmente em 1915, essa obra é uma das mais famosas dele e a que escolhi para começar a ler Kafka, já que nunca havia lido nada desse autor.
Esse ano, resolvi ler autores que eu não conhecia e, por conseguinte, estou lendo muitos canônicos – meus professores de Literatura se orgulhariam lendo isso, rsrs -.
***
Imagine acordar e se encontrar metamorfoseado num inseto gigante. Pois é isso o que acontece a Gregor Samsa logo na primeira página.

“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. [...] Não era um sonho.” (Kafka, p. 7)

O estranho/engraçado/esquisito é que a primeira coisa que Gregor pensa, ao se deparar com a situação, é que vai se atrasar para o trabalho e sequer se dá conta de que a situação é muito mais complicada do que isso. Isso acontece por que Gregor é o filho mais velho e é quem sustenta a sua família composta por seu pai, sua mãe e sua jovem irmã, Grete. Ele trabalha como caixeiro viajante incessantemente para pagar a dívida que seu pai tem para com seu chefe. A família depende única e exclusivamente da renda gerada pelo trabalho de Gregor, assim, quando o filho atrasa-se para ir ao trabalho, a família fica muito preocupada. Conforme as horas se passam e Gregor está definitivamente atrasado, seu gerente aparece na casa de seus pais para questionar por que ele não foi trabalhar. Contudo, Gregor tem muita dificuldade em se movimentar em seu “novo corpo” e começa a se desesperar com a situação. Acontece que a porta está chaveada e ninguém consegue abri-la por fora e isso gera uma tensão muito grande na casa. Quando a porta é finalmente aberta e os presentes se deparam com o estado de Gregor o espanto é geral e a mãe, inclusive, desmaia.
Os meses se passam e Gregor ainda é um inseto, sua família, com exceção de sua irmã, é muito hostil com ele e o deixam dia e noite enclausurado em seu quarto. Mas com o tempo, até mesmo Grete começa a desprezá-lo.
***

Eu me senti muito ressentida pelo modo como a família tratou Gregor, como se o fato de ele não poder mais trabalhar o desqualificasse, o tornasse não mais um integrante da família. Como se ele só fosse estimado pelo dinheiro que trazia para casa e não por ser filho.
É tão agoniante a leitura, é tão intensa, que o leitor sente-se, também, metamorfoseado, impossibilitado de se movimentar. E Kafka consegue despertar todas essas sensações com uma escrita simples, ouso dizer. E toda essa estória surreal torna-se verossímil dada a forma como os acontecimentos são narrados, de uma forma tão natural quanto acordar-se e ir ao trabalho.
Acho incrível a crítica explícita ao capitalismo que esse livro nos mostra, afinal, não importa se acordamos indispostos, doentes ou até mesmo metamorfoseados num inseto, não somos o que somos, mas sim o que produzimos. A condição humana é colocada em cheque nessa magnífica obra de Kafka, um livro tão pequeno, mas tão grande! Arrisco dizer que essa obra deveria ser leitura obrigatória nas escolas, tamanha a atemporalidade de seu enredo e da importância de se discutir temas tão polêmicos e, ao mesmo tempo, triviais.

O desfecho da estória me deixou extremamente triste e perplexa, não vou escrever mais nada para que não fique óbvio do que se trata. Mas não há como ler esse livro sem refletir sobre nossa condição, sobre o que somos e o que valemos diante da sociedade. Há muitas interpretações em relação à metáfora do inseto, a minha análise é a de que se trata de uma pessoa que fica inválida, de cama, algo que a impede de um convívio social mais frequente. Pensemos em uma pessoa idosa; muitos colocam seus pais em asilos e o que Gregor sente no livro é justamente esse abandono, já que se tornou alguém sem uma “utilidade” imediata no meio em que vive.
Esse livro é um soco no estômago de qualquer leitor, pois o que aconteceu com Gregor é algo que pode acontecer com qualquer um de nós.

Já leram essa magnífica obra?

Beijinhos, Hel.


KAFKA. Franz. A Metamorfose. 34ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras. 1997. 96 p. Tradução e posfácio de Modesto Carone.

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13 comentários

  1. Li essa obra em Alemao há alguns anos "Die Verwandlung". Inigualável, literatura fantástica, atemporal...como tudo o que Kafka produziu em sua breve existência!

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    1. Uau, em alemão?!
      Inigualável mesmo, eu adorei a leitura, foi bem diferente do que eu esperava.

      :)

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  2. Muito boa sua resenha! =)
    Ainda não li nada dele, mas pretendo, em breve. Parece realmente interessante, digno de leitura. ;)
    Essa situação de não ser "útil" é meio trágica, mas é algo pelo qual muitas pessoas passam e passarão.
    Bom, já está na lista dos livros que lerei. ^^

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    1. Obrigada, Paula.
      É um livro muito bom mesmo, simples, mas muito bom!

      Beijinhos.

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  3. Esse livro é angustiante.Eu tive a impressão de que quanto mais eu lia mais distante estava do fim. Concordo com a sua interpretação em relação a metáfora do inseto, acredito que se encaixe perfeitamente, mas penso também na invalidez como uma questão de problemas psiquiátricos, que são também grandes responsáveis pelo afastamento das pessoas do convívio social.

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    1. Sim, Bibbi. Há várias interpretações para a metáfora, eu li à luz daquela interpretação que pus na resenha. Mas independente da interpretação, a mensagem que o livro traz é realmente muito angustiante.

      Beijinhos e obrigada pela visita :)

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  4. Lindeza de resenha! Adoro Kafka, esse também foi o primeiro que li dele. Infelizmente pouca coisa dele foi publicada. Sinto falta de mais coisas do kafka nesse mundo rss.
    Esse livro reflete bem alguns problemas que ele passava com a família, com seu trabalho, sua condição. Tem muito da alma dele ai impresso, dá pra sentir lendo.

    Gostei bastante da resenha e do blog :)
    bjo!

    http://livreentrelivros.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada, Mauricio.
      Pois é, conversando com um colega de curso ele me falou isso também. Parece que o Kafka não se dava muito bem com o pai e que não gostava do seu trabalho, queria ser escritor, lembra um pouco o Gregor!

      Beijos e obrigada pela visita :)

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  5. Oi, Thalita. Obrigada.
    Esse livro é bem marcante mesmo. Tomara que você possa ler logo para descobrir essa obra prima.

    Beijinhos

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  6. Eita! Parece ser um livro forte. Infelizmente muitas famílias tratam as pessoas como lixo quando essas não tem emprego. Falo porque já passei por isso. Acredito que deve ser uma obra muito marcante, quero ler.
    Respondendo a perguntar que você fez lá no blog...
    Não fui eu quem escreveu o texto sobre leitura dinâmica. Foi a Professora Rosi. Não tenho as fontes, mas você pode entrar em contato com ela através de um livro que tem no início do artigo.
    Beijos,
    Monólogo de Julieta

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    1. Oi, Paloma. Obrigada pela visita.
      Esse livro é muito forte mesmo, uma leitura bem impactante e, se você já passou por algo assim, a leitura vai ser muito marcante para você!
      Sobre a sua réplica, eu havia visto sim, obrigada :)
      Beijinhos.

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  7. Olá Helena, tudo bem??
    Então, eu tenho muita curiosidade em ler algum livro da Kafka, mas ainda não sabia qual, porém agora com sua resenha já sei qual escolher hehe
    Vlw pela dica, amei a resenha!
    Bjoos

    Jovem Literário

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    1. Oi, tudo ótimo. E contigo?
      Que bom que você gostou da resenha e que ela te fez querer ler Kafka!
      Beijinhos, Elô. :*

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