5 melhores livros de 2016


Olá, leitores e leitoras. Tudo bem?

2016 foi um ano muito proveitoso no quesito leituras, li tantos livros maravilhosos e me surpreendi demais com alguns títulos que jamais esperei gostar tanto. Apesar disso, não tive dificuldade em organizar essa lista com as cinco melhores leituras do meu ano. O primeiro lugar não foi surpresa nenhuma:



1º - A elegância do ouriço - Muriel Barbery

Da série "livros que nunca leríamos se não fossem indicados por outra pessoa", A elegância do ouriço foi a surpresa mais grata do ano. A Paula, do Caçando ouriços, leu também em 2016 e gostou tanto, tanto, que eu não pude resistir de tanta curiosidade e peguei o exemplar dela emprestado. Li e foi amor à primeira leitura.



O enredo é lindo, mas os personagens... Paloma, Reneé e Sr. Ozu, são os mais perfeitos! São pessoas muito diferentes cujos destinos se entrelaçam num condomínio de luxo. Paloma é uma garota de 12 anos que pôs na cabeça que se suicidaria aos 13 se não encontrasse o sentido da vida até lá. Reneé é a concierge do condomínio, por fora rudimentar, mas por dentro uma profunda admiradora de literatura e arte (o título do livro se refere a ela, "a elegância do ouriço") e o Sr. Ozu é o novo morador que chega e começa uma linda amizade com as duas. Eu nem sei dizer o que é mais lindo nesse livro: as personagens, a narrativa, o fato de falar sobre livros ou sobre gatos. Só sei que amei tanto que não tenho dúvidas de que foi a minha melhor leitura do ano. 


2º - A cor púrpura - Alice Walker

Esse livro foi uma releitura, mas como eu disse na resenha, foi totalmente ressignificada. Eu amei mais ainda na segunda vez e recomendo para aqueles que gostam de livros em formato de diários, que tratam sobre temas como resiliência, fé e amor apesar das distâncias. É uma história muito linda de uma mulher que passa pelos mais improváveis sofrimentos, desde ser afastada dos filhos e da família a sofrer abusos do marido. Porém, o final é surpreendente e me arrancou muitas lágrimas. 

3º - Demian - Hermann Hesse

Eu claramente iniciei essa leitura com uma expectativa bem alta. Mas o que encontrei foi uma narrativa totalmente diferente do que eu imaginava. Isso aconteceu porque eu nunca procurei resenhas ou comentários sobre Demian na internet ou outros meios, só tinha a indicação de uma amiga e foi uma leitura às cegas. Só posso dizer que amei! O protagonista é Sinclair, um jovem de família ortodoxa e muito correto, até que ele conhece Demian, misterioso e sedutor, que acaba levando Sinclair a caminhos que ele não imaginava seguir. Esse é sem dúvida o melhor romance de formação que já li. 

4º - Admirável mundo novo - Aldous Huxley

Se tem um gênero que é dono do meu coração, esse gênero é a distopia. E as distopias clássicas, então? Nem se fala! Admirável mundo novo traz uma sociedade em que as pessoas já nascem destinadas a pertencer à castas. Nesse mundo distópico, ninguém é triste, pois há um comprimido chamado "soma" que deixa todos felizes. Pessoas felizes reclamam menos, não é mesmo? Além disso, ninguém lê, porque livros não existem, somente os de consulta. Um povo que não lê é mais facilmente alienado, não é mesmo? E é no meio desse cenário que John, um selvagem que nunca tinha tido contato com a sociedade, é colocado. Palavras não bastam para expressar o que foi a experiência dessa leitura. Só lendo para saber o quão interessante e genial esse livro é, por meio das críticas afiadas que faz ao nosso comportamento.




5º - Pretérito imperfeito - Gustavo Araujo

Não podia faltar nessa lista o melhor livro nacional que li em 2016! Pretérito Imperfeito é a linda história de Toninho e Cecília, duas crianças que têm suas vidas entrelaçadas pelas teias do tempo e do destino. Toninho é um menino tímido que tem um relacionamento complicado com o pai e perdeu a mãe de uma forma trágica. Os dois levam uma vida pacata, até que Toninho encontra Cecília e eles dão início a uma amizade pura e surpreendente. Essa história tem um dos finais mais lindos que eu conheço, você termina o livro e fica com o olhar vago, pensando em tudo o que leu. Recomendo demais. Literatura brasileira contemporânea de ótima qualidade.

***



Espero que possam ler algum destes livros - se é que já não o fizeram - algum dia desses. São literatura da mais alta qualidade e, apesar de serem livros não tão cotados no momento, recomendo por serem atemporais e de leitura simples, todos eles são leituras gostosas e fáceis.
Encerro essa lista com a sensação de que li muita coisa boa esse ano e confiante de que em 2017 também lerei muitos livros incríveis!

Beijinhos, Hel.

Recado de final de ano

Olá, leitores, tudo bem? Estou passando para avisar que o Leituras&Gatices vai fazer uma pequena pausa aqui no blog até o ano que vem (que já está logo aí) e volta já nas primeiras semanas de 2017 com as resenhas e textos novamente, certo? Eu imagino que todos vocês, meus leitores e colegas blogueiros, estejam planejando passar Natal e ano novo em família e amigos, colocando  suas leituras em dia, ou mesmo descansando. Por isso, acredito que não tem problema eu me ausentar um pouquinho também. Afinal, 2016 foi um ano bem cheio de compromissos para mim, agora nos últimos meses então, nem conto para vocês o tanto de coisa que eu tive que dar conta, por isso, eu mereço uma folguinha também, haha.

Sei que fiquei muito tempo longe do blog em 2016, mas eu estava totalmente dedicada ao TCC e preferi priorizar as leituras teóricas. O resultado foi meses sem postagens. Claro que eu fiquei muito triste, mas eu fiz um ótimo trabalho no TCC e no fim valeu muito a pena todo o sacrifício. Saibam que já estou preparando muitas resenhas e textos para vocês no ano que vem!


O Leituras&Gatices deseja a todos Feliz Natal e Feliz Ano novo!

Beijinhos da Hel e da Julya e lambeijos do Lionel!




Projeto Viajante literária

Olá, leitores! Tudo bem? Hoje eu quero compartilhar com vocês um projeto que eu criei, o Projeto Viajante literária. Eu sempre quis ir além nas minhas leituras, sair do lugar comum, conhecer novas culturas, costumes, linguagens, tudo isso por meio da literatura, mas sempre senti que estava lendo muita literatura brasileira, inglesa e norte-americana, como se eu andasse em círculos, não conseguindo me desprender da zona de conforto. Por isso, eu pensei em iniciar o ano de 2017 conhecendo autores de nacionalidades diferentes, tendo experiências de leitura diferentes das que eu costumo ter. Então, eu pensei em me desafiar, e tendo me inspirado na ideia de uma amiga minha, enquanto falávamos sobre Literatura universal, pensei em trazer aqui para o blog, fazer um projeto de leitura, com regras e temas, tudo bem definido para eu não ter desculpa e ler de uma vez! Eis que depois de tudo isso surgiu o Projeto Viajante literária:



Eu sei que já há projetos semelhantes, como o da Mel Ferraz, do blog Literature-se, que tem o Lendo o mundo, mas eu quis fazer um só meu, em que eu pudesse escolher os livros que mais me interessam, enfim, deixar mais com a "minha cara". Mas é claro que ficarei muito feliz se algum de meus leitores e amigos quiserem participar!

A ideia que se delineou é a seguinte: 1 (um) livro por mês durante um ano, ou seja, vou ler 12 (doze) livros diferentes, cada um respectivo a uma nacionalidade. Não tive nenhum critério para escolher as nacionalidades, contanto que não fosse brasileira, inglesa ou norte-americana. Logo, fui escolhendo alguns títulos e recebendo algumas indicações de amigos. Eis a lista:

1. FRANÇA Madame Bovary - Gustave Flaubert
2. UCRÂNIA O mestre e a margarida - Mikhail Bulgákov
3. PORTUGAL A desumanização - Valter Hugo Mãe
4. RÚSSIA Anna Kariênina - Liev Tolstoi
5. NIGÉRIA Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie
6. NORUEGA A biblioteca mágica de Bibbi Bokken - Jostein Gaarder
7. JAPÃO Caçando Carneiros - Haruki Murakami
8. ALEMANHA O lobo da Estepe - Herman Hesse
9. ESPANHA A sombra do vento - Carlos Ruiz Zafón
10. IRLANDA Dracula - Bram Stocker
11. REPÚBLICA TCHECA O processo - Franz Kafka
12. COLÔMBIA O amor nos tempos do cólera - Gabriel Garcia Márquez

Claro que a escolha também se pautou no fato de algum desses livros eu já ter no meu acervo (Madame Bovary, A desumanização Anna Kariênina e O processo) e alguns dos outros eu desejava há muito ler. Apesar de os títulos estarem numerados, não vou ler nessa sequência necessariamente. Vou lendo conforme surgir a vontade. E também vou deixar a ordem livre caso algum de vocês queira acompanhar o projeto, sintam-se mais livres para escolherem suas leituras

Obviamente, também quero convidá-los a participar do projeto, sintam-se mais do que bem-vindos a ler juntos comigo e compartilhar suas impressões em seus blogs, caso tiverem, ou nas redes sociais.
Espero que eu consiga ler esses livros e que sejam leituras boas. Desejem-me sorte (e tempo livre)!

Beijinhos, Hel.

Tag Minha vida Literária

Imagem: Um Oceano de Histórias


Olá, gente linda e letrada. Tudo bom?

Hoje eu vou responder a TAG Minha vida literária, que foi criada pela Aione do blog Minha vida literária e quem me indicou para responder foi a Bru do Um Oceano de Histórias e também a Thamiris do Historiar. Eu gostei bastante da proposta das perguntas, pois leva a refletir as parceiras, as resenhas e a relação que acabamos desenvolvendo com o blog, enquanto blogueiros literários. Vamos lá?

1. Qual foi sua primeira resenha (escrita e/ou em vídeo)?
A primeira resenha que fiz foi do livro Objetos cortantes, da Gillian Flynn. Não aconselho vocês a lerem, mas se o fizerem, relevem pelo fato de ser a primeira resenha e eu não ser tão acostumada a escrever esse gênero textual. Com o tempo a gente evolui e escreve resenhas melhores, ainda bem, não é mesmo?

2. Qual foi seu primeiro livro de parceria com editora?
O primeiro livro que recebi de uma editora foi A cor púrpura, da Alice Walker, da editora José Olympio, selo do Grupo Editorial Record. Foi, na verdade, uma releitura. Como o blog é novinho, eu recebi esse livro em março desse ano. E foi um ótimo começo, pois esse é um dos meus livros favoritos desse ano.

Primeiro livrinho de parceria a gente não esquece 😍

3. Conte um momento inesquecível que você viveu como leitor.
Essa pergunta é difícil de responder, porque não consigo pensar em um momento pontual. Acho que ocorreram pequenos momentos felizes que, juntos, são lembranças agradáveis (como ter sido selecionada por editoras que eu gosto, receber cartinhas e mimos de blogueiros amigos, conhecer autores talentosos e a amizade que fiz com pessoas maravilhosas).

4. Quantos livros lê em média por mês?
Isso varia muito, mas, normalmente, leio quatro. Nesses últimos meses então... Li quase nada. Mas quando estava com o blog ativo lia um livro por semana.

5. Como as parcerias influenciam suas leituras?
Olha, vou ser sincera, influenciam bastante! Eu costumo sempre colocar na frente da lista os livros que as editoras mandam, sorte minha é que todas as editoras que o blog é parceiro permitem escolher entre uma gama considerável de livros e dão um prazo bem razoável para a postagem da resenha. Caso eu não goste de nenhum que elas sugerem, simplesmente não solicito. Mas a verdade é que as parcerias me fizeram ler muito mais do que eu costumava, e isso de certo modo é bom, pois acelerou meu ritmo de leitura.

6. Um livro que você só leu por causa do blog/canal e se surpreendeu.
Pretérito Imperfeito do Gustavo Araújo. Se eu não tivesse o blog, o Gustavo jamais iria encontrar meu contato e, possivelmente, eu não iria conhecer o livro dele que, apesar de pouco conhecido, é incrível.

7. Um livro que você só leu por causa do blog/canal e se arrependeu.
Um livro que eu me arrependo até não poder mais é O pêndulo de Foucault, do Umberto Eco. Gastei semanas da minha vida em cima desse livro, e me recusei a abandoná-lo, justamente por ser de parceria, mas se não fosse... Ah, eu com certeza teria jogado de lado nas primeiras 100 páginas.

8. Tem algum gênero que você passou a ler nos últimos tempos, que antes não lia (ou não lia com frequência)?
Jovem adulto ou Young adult. Não era o tipo de livro que eu tinha acesso, nem interesse, mas como as editoras lançam muitos desse gênero, eu resolvi me arriscar em alguns que a premissa me parecia interessante. O que eu tinha era muito medo de achar a escrita/narrativa ruim (e realmente alguns têm a narrativa bem pobrinha), mas se mostraram leituras muito divertidas.

Um desses Young Adult que eu gostei bastante foi Silêncio
 
9. Tem algum gênero que você deixou de ler?
Faz algum tempo que eu não leio literatura brasileira (das antigas, tipo Machadão, José de Alencar e autores desse gênero) que eram leituras que eu costumava fazer e abandonei porque percebo que as editoras mandam os lançamentos e muita literatura estrangeira (norte-americana, inglesa). Ultimamente eu tenho tentado ler mais escritores contemporâneos brasileiros, mas pretendo voltar a ler os antigos. 

TAG dada e respondida. Para responder, também, eu indico as amigas: Tainan do Eu curto Literatura, Lívia do Check-in virtual e Thalita, Dê e Jack do Entrelinhas Fantásticas.

Beijinhos, Hel.

Querer amar - Rose Andrade

Olá, leitores. Tudo bem?

Trago, hoje, meu comentário sobre uma leitura um pouco diferente das que faço: Querer amar da brasileira Rose Andrade. Em minha ânsia de variar as leituras e, na mesma ocasião, prestigiar a nossa literatura contemporânea, dei uma chance para essa leitura que não costuma me atrair e que foi gentilmente enviada pela editora parceira Novo Século. A capa é linda, mas o restante dos aspectos... foi uma tremenda decepção.

O enredo é simples e promissor: Lize é a protagonista, uma médica de 28 anos que é noiva de Thomas, um empresário. Eles têm um relacionamento amigável, mas não são fervorosamente apaixonados, isso fica claro. Até que, no dia do noivado, Lize conhece o irmão de Thomas, Richer, e tudo muda. Ela se apaixona perdidamente pelo irmão do noivo e Richer também se apaixona por Lize. Diante da paixão que os une, eles lutam para não caírem em tentação. Richer por medo de trair o irmão, sangue do seu sangue, e Lize para não trair o noivo, que sempre foi gentil e atencioso com ela. A partir daí, se desenrola o enredo de Querer amar, fazendo com que a dúvida de se Lize ficará com Thomas ou com Richer leve a leitura adiante.

"Lize fitou-o nos olhos e depois, com ternura, acariciou o rosto de Thomas.  Ele era tão doce, tão perfeito, fazia de tudo para agradá-la.  E ela era incapaz de lhe retribuir os sentimentos na mesma proporção. Sentiu-se péssima. Muito egoísta. Absorta demais nas próprias loucuras momentâneas." (ANDRADE, 2016, p. 139)

***

Apesar de eu ser suspeita para julgar esse gênero (afinal, seria esse livro um chick-lit? Um young adult?) acredito que a autora foi infeliz na execução do enredo desse livro. Primeiro, pelo fato de haver pouco aprofundamento nas personagens. Digo isso porque ela faz uso de clichês pouco convincentes: Lize é linda, loira, magra, rica e PURA! Sim, aos 28 anos ela ainda é virgem, pois é uma "moça de família" que se dedicou única e exclusivamente à Medicina. Porém, todo a descrição feita da personagem é para reforçar o quanto a roupa que está vestindo é sexy, o quanto ela é sensual e, em último caso, perfeita. Fica um pouco contraditório todo esse apelo para a imagem sexy dela sendo que ela é virgem. Sinceramente, me dá preguiça esse tipo de protagonista, aquela que todos caem de amores, amada e adorada por onde vai e correta o tempo todo. Não havia necessidade de ser assim. Já os irmãos que fazem parte do triângulo são igualmente rasos e estereotipados. Thomas é o homem de negócios, sempre ocupado e que agrada a noiva com presentes caros, mas também é possessivo e quer controlar a vida da noiva. Já Richer é o típico garanhão que tenta dominar as mulheres. Sem deixar de falar que todos na estória são lindos, ricos, magros, elegantes. Acredito que é fácil apelar para o imaginário dos leitores quando só se trabalha com perfeição e não se aprofunda o perfil psicológico dos personagens.

Uma coisa que ficou a desejar, e muito, foi a ambientação e elaboração dos personagens. Não sabemos sequer qual o nome da cidade onde a estória acontece, qual o sobrenome dos personagens e no caso de suas profissões: qual a especialidade médica de Lize? Que tipo de empresário Thomas é? Lize não tem amigas? Nunca teve namorados antes de Thomas? Essas perguntas surgiram em minha cabeça durante a leitura e eu me senti como se tivesse caído num recorte da vida de Lize, e é como se a vida dela não tivesse existido antes de a estória do livro começar.

Foquem no Lionel 😄

Outro ponto que não me agradou foi a linguagem, simplória demais. Pareceu-me que a autora só foi procurando palavras "chiques" e jogando no meio das falas para ficar mais "bonito". Também havia tantos adjetivos desnecessários como "brilho lascivo", "carícia pecaminosa", "desejos mais primitivos", que soavam muito como a linguagem usada naqueles livros eróticos de banca de revista. Além disso, não parecia que eu estava lendo um livro escrito originalmente em português, não havia expressões comuns da fala, nem termos regionais, o que quer que fosse que deixasse os personagens mais humanos. Eu em senti lendo uma versão adulta dos filmes da Barbie.

A narrativa, por último, foi o que, a meu ver, estragou uma estória que poderia ser boa. Talvez pelo fato de a autora não ser desse mundo das Letras (na orelha do livro o leitor fica sabendo que ela é das exatas) ela não tenha conseguido desenvolver melhor esse aspecto. O que acontece é que só há um desenrolar dos acontecimentos, sem uma ambientação. Embora o narrador seja onisciente em terceira pessoa, há muitas falas e pouco sabemos dos pensamentos dos personagens, o que poderia ter sido melhor explorado devido ao estilo de narrador que ela escolheu. A estória só foi acontecendo sem grandes reviravoltas, sem emocionar o leitor, até chegar num final forçado e pouco convincente.

Enfim, foi uma leitura muito rápida, que li de um dia pro outro, mas pelo simples fato de ser um livro fácil de ler, que não requer muito conhecimento linguístico nem reflexão do leitor. Se vocês querem um livro para passar o tempo e se distrair, essa é uma leitura adequada.

Beijinhos, Hel.

ANDRADE, Rose. Querer amar. São Paulo: Novo Século, 2016. 204 p.

Reler ou não reler? Eis a questão + 3 livros que quero reler em 2017

Olá, leitores e leitoras? Tudo bem?

Vocês têm o hábito de reler os livros? Eu pergunto isso porque já ouvi muita gente dizendo que não relê porque considera esse hábito perda de tempo. Eu discordo. Claro que é uma opinião pessoal e que não deve ser encarada como ditatória, mas certa vez eu li um tweet que falava que reler é umas das maiores provas de amor literário, e esse é um ponto de vista tão lindo que comecei a pensar sobre isso. 

Eu sempre tive o hábito de reler, sempre revisito alguns livros que gosto muito, tanto que já li e reli várias vezes O morro dos ventos uivantes, Orgulho&Preconceito, Vidas secas e O pequeno príncipe e a cada leitura é um aprendizado novo, uma recepção diferente.

Eu acredito que a cada leitura somos pessoas diferentes. Por exemplo, a Helena que leu A cor púrpura em 2013 era totalmente diferente da Helena que releu em 2016. A Helena de 2013 não conhecia nada da história dos negros do sul dos EUA, não sabia o que era sororidade, tampouco se importava com o machismo e  a violência com a mulher, assuntos que a Helena de 2016 já buscou saber sobre e que entende serem cruciais para o entendimento da obra de Alice Walker. O que eu quero dizer com isso, caso você ainda não tenha entendido, é que somos seres em constante formação, como Paulo Freire diz, inacabados, e, portanto, a cada momento de nossas vidas vamos encarar o mundo a nossa volta de modo diferente (com mais maturidade e sabedoria, espera-se). Diante disso, eu acho que a releitura de um livro nunca vai ser perda de tempo, pois o livro pode até ser o mesmo, mas nós, não. Isso tudo é muito bonito, não é?

É claro que algumas releituras acabam se mostrando negativas, no sentido de termos adorado o livro na primeira vez que o lemos e, depois, percebermos que o livro não era tão maravilhoso assim. Pode até soar meio contraditório o que vou dizer agora, mas eu acredito que, apesar de ser legal reler pela ressignificação de algumas leituras, há determinados livros que funcionam muito bem para um público em detrimento de outro. Novamente, eu vou citar um exemplo pessoal: quando eu tinha meus 16 anos, eu li toda a saga Crepúsculo, não, eu a devorei. Gostei tanto daquela história que tudo que tivesse a cara do Edward e da Bella estampada na frente, para mim, era lindo. Hoje em dia, eu não cogito reler esses livros, me entendo e me conheço o suficiente para entender que Crepúsculo foi uma leitura que eu me identifiquei na minha adolescência, devido aos temas, à idade dos protagonistas etc. Claro que eu não vou julgar alguém mais velho que queira ler esses livros, só estou dizendo que, para mim, essa releitura não funcionaria.

Já leram algum desses?


Falando sobre releituras, dia desses eu já estava pensando nos livros que quero ler no ano que vem, e também em alguns que eu já li e quero reler, dentre eles A elegância do ouriço. Eu sei que não faz nem seis meses que eu li esse livro, mas foi um livro que eu amei tanto, tanto que eu quis reler assim que eu terminei. Outro livro que eu quero reler é 1984, do George Orwell, um livro que li há mais ou menos dois anos atrás. Esse livro foi uma leitura bem densa, ouso dizer, difícil, e sinto que estou mais preparada para ler agora. Além disso, eu gostei mesmo na primeira vez que li. Outro livro que já li até no idioma original de tanto gostar é Orgulho&Preconceito, e já que ganhei uma edição da Julya, colaboradora aqui do blog, que é uma edição diferente da que eu li, agora eu tenho uma desculpa para relê-lo. 😂😂😂

Bom, encerro por aqui meu singelo texto. Espero podermos conversar sobre releitura nos comentários.

Beijinhos, Hel. 😽

Suzy e as águas-vivas - Ali Benjamin

"Quem é capaz de saber? Talvez o fim de todas as pessoas não seja o dia em que elas realmente morrem, mas a última vez em que alguém fala com elas. Quando você morre, talvez não desapareça de fato, mas se apague em uma sombra, escura e disforme, apenas com os contornos visíveis. Com o tempo, conforme as pessoas forem se esquecendo de você, sua silhueta gradualmente se mistura com a escuridão, até a última vez em que alguém diz seu nome neste planeta. E é então que o que ainda restar de você -  a ponta sardenta do seu nariz, ou seu lábio superior em forma de coração - se dissolve para sempre." (BENJAMIN, 2016)



Como lidar com o luto? Especialmente quando se é uma criança? Como entender que certos acontecimentos, como a morte, simplesmente são o que são e não há nada que possamos fazer para mudar?

Suzy tem doze anos e perdeu sua (ex) melhor amiga, Franny. Ela adotou o não-falar desde que Franny morreu e se isolou do mundo a sua volta em uma nuvem de silêncio. Ela tem plena convicção de que a amiga não morreu afogada, pois Franny era uma nadadora excelente. Em busca de uma resposta mais convincente, já que Suzy não aceita o fato de a amiga ter simplesmente se afogado, ela acredita que a causa foi uma picada de água-viva, a Irukandji, uma espécie altamente mortal, e reúne toda informação possível sobre esses seres. Durante boa parte da narrativa, então, acompanhamos a menina descobrindo tudo o que pode sobre o assunto.

"Quanto mais frágil o animal, mais ele precisa se proteger. Portanto, quanto mais veneno uma criatura tiver, mais devemos ser capazes de perdoá-la." (BENJAMIN, 2016)

Você sabia que as águas-vivas são as criaturas mais antigas da Terra? Sabia que as águas-vivas estão se reproduzindo acima da média por causa da pesca, já que sobra mais alimento para elas e menos predadores naturais? Sabia que existem águas-vivas capazes de se regenerar e até de rejuvenescer se tornando imortais? Que nesse exato momento alguém foi picado por uma água-viva?

Se a sua resposta é não para todas essas perguntas, saiba que você não está só! Eu fiquei fascinada com todas essas descobertas. Aliás, amei toda essa atmosfera científica que o livro tem, mostrando como Suzy se inspira nas aulas de Ciências da professora Turton para empreender sua pesquisa. É lindo como ela é apaixonada pelo método científico, e é uma mensagem muito bonita que o livro passa, de como o mundo é grande, a quantidade de coisas que não sabemos e como a natureza pode ser fascinante se olhada com paixão.

"Talvez, em vez de nos sentirmos como um grão de poeira, possamos lembrar que todas as criaturas nesta Terra são feitas de pó de estrelas." (BENJAMIN, 2016)

Porém, deu um aperto no coração ver o modo como Suzy e Franny se afastam ao passo que entram na pré-adolescência, Suzy não se encaixa nos padrões de beleza e Franny quer ser amiga das meninas populares. As duas eram aquele tipo de amigas que faziam tudo juntas, mas, aos poucos, então, Franny abandona Suzy e chega até a cometer bullying, humilhando-a na frente na escola. Dói ler Suzy relembrando todos esses acontecimentos, mas dói mais ainda perceber que Suzy, no fundo, ainda queria voltar a ser amiga dela. O que é impossível com a morte, a morte destrói todas as possibilidades de as duas, um dia, voltarem a ser amigas. 

Suzy não percebe que sua busca pela verdade é em vão. Ela se culpa pelo fato de estar brigada com Franny antes de a amiga morrer e faz de tudo para provar que a morte dela foi causada pela Irukandji. Ela se compromete tanto em dar uma resposta científica para a morte de Franny, que acaba se esquecendo que mesmo que a encontre isso não muda o fato da morte, que é a única certeza que temos na vida. É claro que o que ela busca não é somente a resposta, mas também uma paz de espírito, algo que possa fazer com que a dor da perda diminua. Mas Suzy se recusa a aceitar a morte da amiga e a vivenciar o luto. 

O luto é um tema muito delicado para nós, adultos, imaginem para crianças. O ser humano sempre viveu em busca de certezas e respostas para a morte, tentando decifrar o que acontece depois. Muitos se agarram à fé de que existe um paraíso, outros se amparam na reencarnação e os adeptos do cientificismo acreditam que a vida na Terra é só o que há! Esse último ponto de vista pode parecer doloroso em vista dos outros, porém, ao ler Suzy e as águas-vivas, e ao me deparar com a delicadeza da escrita de Ali Benjamin, percebi que a vida aqui na Terra pode ser linda se aproveitarmos cada segundo ao lado de quem amamos. Lições de amizade e amor à família estão presentes no enredo, de uma forma leve e bonita. 

Encarar que a nossa existência é finita pode até ser difícil, pensar que num dia estamos aqui e no outro não estamos mais, é uma forma um tanto melancólica de olhar para nossa existência. Mas, novamente, acredito que são temas importantes de serem discutidos, até mesmo com as crianças, e esse livro soube abordar brilhantemente. 

Recomendo a leitura, muito, para todos. É um livro que faz chorar? Litros. Mas também é um livro muito bonito e que traz uma mensagem linda ao final. Muito bem escrito, com palavras simples, mas cheias de significado.

Beijinhos, Hel.

BENJAMIN, Ali. Suzy e as águas-vivas. (Tradução de Cecília Camargo Bartalotti). 1ª ed. São Paulo: Verus, 2016. 222 p.

5 pecados que todo leitor comete

Oi, gente letrada e linda! Tudo bem com vocês? Hoje eu quero propor algumas discussões a partir de uma pequena lista que fiz, pensando nas coisas que fazemos enquanto leitores, mas que não nos orgulhamos muito. O título, não me levem a mal, é só para brincar com a culpinha que sentimos com algumas atitudes nossas em relação aos livros. Vamos lá?

Marcar o livro com caneta/marca texto/lápis e dobrar páginas

Depois que descobri as flags, confesso que nunca mais marquei meus livros com caneta ou marca texto, mas não é algo que eu rechace completamente, quando eu quero muito marcar algum trecho e estou sem flags (e com um livro que é meu, obviamente) não tenho o menor problema em dobrar a pontinha ou sublinhar levemente com um lápis. É aquela velha história de criar um vínculo e deixar uma marca só sua no livro, de fazer anotações que, depois de algum tempo, ou durante uma releitura, podem mostrar como foi a relação do leitor com o livro.
Quando eu olho para meus livros na estante, é fácil reconhecer aqueles que foram leituras significativas e marcantes: eles são cheios de post-its e claro, flags. Além disso, eu tenho o costume de usar duas cores de flag em cada livro que leio, uma cor é para marcar trechos bonitos e/ou importantes e outra cor para marcar erros de revisão (sou dessas). Desse jeito, eu consigo ver se aquele livro teve partes legais e se teve ou não uma boa revisão.

Achei ofensivo, apaga! Hahaha.

Pular capítulos de livro chato

Isso é algo que eu tenho me permitido nos últimos tempos. Acho que ninguém é obrigado a nada, inclusive se forçar a ler livro chato ou cansativo. A vida é tão curta e há tantos livros maravilhosos para se ler, que ficar se forçando a ler é pura teimosia e perda de tempo. Mas, nem sempre eu pensei assim, eu achava que deveria ler até o final, que eu poderia me arrepender e que a escrita poderia melhorar mais adiante, que o final poderia me surpreender etc.etc.etc.. Sabe quando aquela sua miga vem dizendo que voltou pro namorado e que agora vai ser diferente? Então, com os livros é a mesma coisa.

"Não dá!" Você tenta continuar lendo, mas por dentro você tá igual a Marta.

Julgar um gênero literário sem nunca ter lido nada dele

Nisso eu posso dizer que sou craque! Passo longe de autoajuda, romances hot e, principalmente, livros de Youtuber! Vocês nunca vão me ver/ouvir/ler falando mal desse tipo de leitura (até porque não podemos criticar o que não conhecemos, né non?), mas inconscientemente eu já criei um bloqueio e sempre que passo por uma vitrine de livraria cheia de livros de Youtuber eu fico tipo: Por quê??? Acontece que com a experiência de leitura ao longo de nossas vidas, vamos identificando que tipo de escrita, gêneros e temas nos agradam mais, além disso, confio na opinião de algumas pessoas que possuem gosto literário parecido com o meu e que dizem não ter gostado.

Prefiro continuar lendo meus dramas. 😂😂😂😂

Comprar um livro por ter a capa bonita

Que atire a primeira pedra quem tem um livro na estante que a edição é linda de morrer e, mesmo não tendo morrido de amores pela história, não consegue se desfazer do dito cujo. Acontece que não resistimos a uma edição bem feita, capa dura, com fitinha de cetim e folha de guarda. Não é mesmo, gente? Tem livro que é bonitinho, mas ordinário.

Comprar mais livros do que pode ler

Esse pecado pode ser colocado na categoria gula, o pecado de consumir mais do que se "precisa". É uma promoção aqui, uma Black Friday ali, um frete grátis acolá e de repente... boom! Uma estante abarrotada de livros não lidos. Falta de tempo também colabora e a cada cinco livros comprados acabamos conseguindo ler só um. Bem, dos consumismos esse é o mais saudável. Leitura e livros nunca são demais, concordam?  É claro que a gente precisa se policiar e comprar só aqueles livros que vamos realmente ler, eu falei um pouco sobre como eu vejo o consumismo de livros em um post aqui no blog há um tempo atrás, em que discorro sobre comprar livros desnecessários e que não têm a ver com o perfil do leitor, somente porque estava barato ou na "modinha". Vale a pena a leitura. 😉

Muitos livros por ler: sonho ou pesadelo?


Espero que levem na brincadeira, tá gente?! Esse post é para descontrair. Mas também para refletir!

Beijinhos, Hel.


A literatura infantil de George R. R. Martin

Escrevo esse texto para falar sobre o livro O dragão de gelo de George R. R. Martin, escritor também conhecido pelos romances d'As Crônicas de gelo e fogo, que deram origem à premiada série da HBO Game of Thrones. Mas, escrevo também para falar um pouco sobre Literatura Infantil que é um tema que me agrada muito.



O dragão de gelo é a estreia de George na literatura infantil: um conto escrito em 1980 de leitura rápida, fluida e que em pouco ou quase nada lembra suas histórias sangrentas e cruéis as quais já estamos acostumados, exceto, talvez, pelo cenário de guerra e pela presença da criatura do dragão, também muito bem explorada em As crônicas de gelo e fogo. Ao que tudo indica, o dragão de gelo, seus personagens e lugares não são os mesmos e nem se relacionam aos de Westeros.

O que esperar de um livro infantil escrito por um autor que já é consagrado entre o público adulto com suas narrativas pesadas e polêmicas? Eu fiquei curiosa e decidi me aventurar.

A protagonista é Adara, uma menina incomum, nasceu no inverno mais rigoroso que se tinha notícia e sempre foi uma criança distante, fria como o inverno em que nasceu mas que, com a leitura, vamos percebendo que, na verdade, ela foi sempre incompreendida. A mãe morreu ao dar a luz a ela e o pai e os irmãos seguiram suas vidas com essa cicatriz, sempre reavivada pela figura de Adara. A garotinha tem uma existência solitária, até a chegada do dragão de gelo:

"O dragão de gelo soprava morte no mundo. Morte, quietude e frio. Mas Adara não tinha medo. Ela era uma criança do inverno, e o dragão de gelo era o seu segredo." (MARTIN, 2014, p. 38)

Por incrível que pareça, o dragão gosta de Adara e ela não sente medo dele (Daenerys feelings) começando, assim, uma amizade muito singular e bonita. Porém, nada é tão bonitinho assim para sempre nos livros do Martin e um cenário de guerra atinge o vilarejo onde Adara e sua família vivem.

O final, como já era de se esperar, não é feliz, mas tampouco triste. Ao concluir a leitura do livro, me perguntei o que uma criança acharia da história e pensei, "Isso é literatura infantil? Por que não?".
Um livro para crianças precisa sempre ter finais felizes e lições de moral? Parece que é isso o que convencionou-se ultimamente. Acredito que uma criança ficaria em choque ao ler O dragão de gelo tendo que ler sobre morte, guerra, exclusão e solidão. Nossas crianças não estão sendo criadas para lidar com o lado obscuro da vida. Até hoje eu lembro da primeira vez em que, na Literatura, me deparei com uma história sem final feliz, e isso muito tardiamente, aos 16 anos, ao concluir a leitura de O morro dos ventos uivantes. A minha reação foi de revolta ao concluir que:  ninguém é feliz na história; o casal não fica junto no final (nem no meio, nem no início e nem em momento algum da narrativa) e um dos protagonistas morre no decorrer do enredo. COMO ASSIM? QUE LIVRO HORRÍVEL! A reação inicial só foi se desfazer na releitura, anos depois, quando eu estava mais madura e mais ciente da vida como ela é. Se eu tivesse lido livros como O dragão de gelo antes, será que eu odiaria tanto O morro dos ventos uivantes quanto eu odiei na primeira vez que o li? Ou será que só a maturidade de uma idade mais avançada faria isso? Dúvidas, dúvidas...

Outra coisa que me chamou atenção para a singularidade desse livro foram as reconhecidamente lindas e elogiadas ilustrações de Luis Royo, que em nada lembram as coloridas e gritantes ilustrações de livros infantis tradicionais, que comumente têm traços exagerados e nada sutis e que possuem mais uma função didática de acompanhar e tornar mais palatável a interpretação do texto do que de agradar os olhos do leitor. 
No caso desse conto de Martin, as ilustrações são de uma beleza sem igual, com traços sutis e poucas cores neutras, que dão o tom exato da história. O ambiente gélido, a solidão e a tristeza são sentidas nos traços lânguidos e nas figuras de expressões melancólicas de Royo.



Ao final de toda essa história, a do conto e a das reflexões que ele me causou, não tem como não recomendar a leitura para todos, inclusive para crianças.

Beijinhos, Hel.

MARTIN, George R. R.. O dragão de gelo. (Tradução de Gabriel Oliveira Brum e ilustrações de Luis Royo). São Paulo: Leya, 2014. 128 p.

[PARCERIA] Companhia das Letras

Hoje a notícia é especial demais. Sabe quando você acredita que já chegou onde desejava estar e não precisa de mais nada? Tipo, zerei a vida? Então, ter sido selecionada como parceira da Companhia das Letras me dá essa sensação! Quem me conhece "na vida real" sabe que dentre as minhas editoras preferidas a Cia (já posso chamar de Cia que sou íntima) tem lugar cativo no meu coração, não só por ter publicado alguns dos meus livros favoritos (A metamorfose, 1984, A elegância do ouriço, O retrato de Dorian Gray entre outros) mas pelo perfil editorial da editora, por ser o Grupo Editorial que lança o tipo de livro que mais se encaixa no meu perfil de leitora.

Acho que essa parceria dispensa apresentações, né? Se você ainda não conhece essa editora te pergunto: migo em que mundo você vive? Hahaha. Brincadeira. Em linhas gerais, a Companhia das Letras foi fundada em 1986 e conta com diversos selos, dentre eles os meus preferidos são a Companhia das Letras e a Penguin-Companhia.

Aqui no blog já resenhei alguns livros do Grupo Editorial Companhia das Letras. Dentre os títulos estão: O retrato de Dorian Gray, da Penguin-Companhia; A metamorfose, da Companhia das Letras e o meu preferido de 2016 A elegância do Ouriço, também da Companhia das Letras.
Bom, essa era a boa nova de hoje, espero que tenham curtido. Em meio a tanta correria, esqueci de avisar aqui no blog, mas quem me segue no Twitter já estava sabendo da novidade. ;)

Esse post foi escrito por uma pessoa feliz.


Beijinhos, Hel.

George - Alex Gino

Olá, leitores,

A primeira coisa que eu gostaria de comentar é uma lição aprendida no curso de Letras que faço: o poder da Literatura na sociedade. Pode parecer estranho, mas uma das primeiras coisas aprendidas é o fato de a Literatura permitir “olhar” e, de certa forma, vivenciar o outro. E eu acredito que isto é importante, pois possibilita que você entenda os problemas, as frustrações e os obstáculos que outra pessoa sofre na vida, e, consequentemente, desenvolver empatia.

Comecei com essa fala por causa do livro “George”, do Alex Gino, que me permitiu conhecer uma realidade diferente da minha. Para quem não conhece o livro, ele retrata a vida de George, uma menina fofa que tem um sonho: interpretar a Charlotte na peça A menina e o porquinho (caso vocês não conheçam essa história, é sobre um porco que seria levado para o abate, mas é salvo por uma aranha, a Charlotte. Ela escreve palavras em suas teias, que são atribuídas ao porquinho. Por essa razão, ele sobrevive e torna-se famoso na sua região). Todavia, ela tem um pequeno problema, pois, para as outras pessoas, George é um menino. Sendo assim, e, com a ajuda da sua melhor amiga, ela vai tentar realizar esse sonho e mostrar quem ela realmente é.

Como podem perceber, o livro traz um tema muito atual, mas pouco abordado socialmente: a transexualidade. George é uma menina trans que sofre por ter dificuldade em contar isso às pessoas. Isso a torna mais tímida e receosa, devido a notícias de como os indivíduos LGBT são tratados pela sociedade. Além disso, o fato da obra trazer essa discussão sob a visão de uma criança, é muito mais impactante.

“ – Às vezes, as pessoas transgênero não têm direitos – George tinha lido na internet sobre casos de pessoas transgênero que foram tratadas injustamente.”
 (GINO, 2016, p. 78)

Acredito que o livro é muito delicado em relação à forma como trata desse tema. A maneira como o leitor vai conhecendo a protagonista é muito interessante, por meio do seu cotidiano e de suas reflexões. Além do mais, George é uma personagem apaixonante, pois ela tem uma doçura que é quase impossível não se sensibilizar e torcer por ela. Entretanto, eu não poderia deixar de falar da minha personagem favorita, Kelly. É a melhor amiga da George, que resolve ajudá-la com a peça. Elas têm um relacionamento muito fofo, no qual Kelly demonstra uma total aceitação sobre quem George é. Gosto dessa perspectiva porque mostra, ao contrário do que muitos pensam, que as crianças podem sim lidar com questões envolvendo sexualidade e, em alguns casos, o fazem melhor do que os adultos. E, com esse pensamento, veio-me uma ideia meio polêmica: será que as pessoas não usam os pequenos como um “escudo” para induzir sua ideologia, quando alegam que estão protegendo-os?

“ – Você acha que é uma garota?
–  Acho. – George ficou surpreso com a facilidade de responder aquela pergunta.”
(GINO, 2016, p. 101)

Quanto à narrativa da história, ela é fluída e bem gostosa de ler. Ademais, por pertencer a um selo voltado para um público mais jovem, o livro tem uma linguagem mais simples, quase infantil. Porém, por ser uma história sobre uma criança, acaba por encaixar perfeitamente com a obra. Outro ponto interessante é que o autor sempre faz uso de pronomes e artigos femininos para se referir à George. As minhas únicas ressalvas são em relação à construção de alguns personagens coadjuvantes, como o irmão da George, pois gostaria de ver mais sobre o relacionamento dos dois, e o tamanho de páginas do livro. Sim, achei o livro curto, já que, por ter uma trama tão envolvente e interessante, com uma personagem tão fofa, acaba sendo um pouco triste quando a história termina, porque você quer mais.

Por fim, penso que esse livro não traz apenas uma boa história, mas, também, uma questão muito importante de ser discutida e entendida pela sociedade. Por isso, acho interessante lê-lo, para conhecer melhor isso. Ah, e não posso terminar sem desejar que haja mais crianças como a Kelly. Acredite, com pessoas assim, o mundo seria incrível.

Tchau e até a próxima!
Julya G.S.


GINO, Alex. George (Tradução de Regina Winarski)Rio de Janeiro: Galera Júnior, 2016. 144 p. 

Vamos falar sobre consumismo de livros?

Acho que é muito comum, entre nós, leitores, que tenhamos uma lista infinita de livros que queremos ler. A lista só cresce, não dá para negar. Acredito que, assim como eu, a maioria de vocês também gostaria de poder comprar todos esses livros desejados. Porém, sabe-se que  nunca conseguiremos ler tantos livros em uma única vida. Esse é o maior dilema da vida de um leitor! Para tanto, eu creio em uma pseudosolução para esse problema: analisar quais os livros realmente queremos ler e investir aí. Acho que é interessante, inclusive se usamos aplicativos como Skoob ou anotamos em cadernos, que de tempos em tempos a lista de livros desejados seja revista. Já aconteceu de eu querer muito um livro -porque estava na "moda" ou porque me pareceu interessante naquele determinado momento da minha vida- e depois de um tempo eu olhar para esse mesmo livro na minha estante do Skoob e pensar "porque ele está aqui?". Por outro lado, há livros que eu desejo há muito tempo e que sei que gostarei muito da leitura. É o caso de O sol é para todos, Laranja mecânica, Madame Bovary, O diário de Anne Frank, entre outros, que são livros que, além de serem clássicos consagrados pela crítica e pelos leitores, eu sei que fazem o meu perfil de leitora.
Já reparam na beleza que possuem os livros usados?

Pensando nisso, eu resolvi, também, fazer uma avaliação do meu acervo de livros, e percebi que tenho alguns livros que não condizem com os meus gostos literários. Talvez isso já tenha acontecido com vocês. Diante de uma pequena análise, separei alguns livros que li apenas uma vez e não pretendo reler, ou que li e não gostei (estou pensando em doá-los para alguma biblioteca) e com isso, abri mais espaço na estante. Fazendo esse movimento, eu pensei em algumas questões que estavam por trás daquele meu pequeno gesto. Por exemplo, o fato de eu não estar me desfazendo desses livros, mas sim, dando a outra pessoa a oportunidade de lê-los.  Pensei, também, que ao invés de a pessoa comprar um livro novo, ela estaria emprestando um livro que, apesar de usado, estaria possibilitando a mesma experiência de leitura que um livro novo. A gente acaba não percebendo a questão da sustentabilidade que está por trás disso -ou a falta de sustentabilidade- que envolve comprar livros e livros (de papel, não vou entrar na discussão dos e-books aqui) sem o menor critério e ir acumulando na estante. Refletindo essas questões, lembrei de alguns relatos de amigos e conhecidos que, muitas vezes, compram livros porque estão na promoção (Bienal esteve aí e como o pessoal gastou em livros, hein) ou têm mais de uma edição do mesmo livro em casa, ou pior, há quem jogue livros no lixo. SIM! Não quero julgar ninguém, longe disso, até porque sou uma pessoa que sonha ter uma biblioteca particular com títulos incríveis e edições bonitas. Mas nem por isso, por eu querer ter uma estante cheia de livros lidos, é que eu vou sair por aí comprando sem critérios.
Para concluir esse texto, resolvi relatar duas experiências que tive em compras de livros usados. Uma delas é o site já muito conhecido Estante Virtual. Eu sempre costumava comprar em lojas online, como o Submarino, a Saraiva, mas nunca tinha pensado em comprar na Estante Virtual. Até que surgiu a necessidade de comprar um livro teórico que estava esgotado em todos os sites, então, recorri ao Estante por recomendação e concluí a compra. A experiência foi das melhores possíveis: a entrega foi muito rápida, o livro, que era descrito como seminovo, me pareceu ser novo, sério mesmo, até pensei que eles podem ter se confundido e mandado um novo no lugar do que eu solicitei. Em suma, sei que não posso julgar um serviço por apenas uma compra, mas a eficácia desse primeiro e a economia que fiz ne$$a compra, com certeza me fizeram ter vontade de comprar mais livros no site Estante Virtual.
Outra experiência que possuo em comprar livros usados é por meio de uma livreira/garimpeira do Rio Grande do Sul que vende livros no Instagram, a Carol do @vontaderia. Já comprei alguns livros com ela e posso falar com mais autoridade nesse caso. A Carol foca em encontrar para seus clientes livros raros ou difíceis de encontrar nas livrarias, com preços justos e os livros sempre em estado muito bom (para mim o livro não sendo manchado ou rasgado é ótimo, só para poderem entender). Além de tudo isso, tem o contato humano, a Carol é uma fofa e eu recomendo fortemente o serviço dela.

Os três livros que comprei da Carol: Entrevista com o vampiro da Anne Rice, Lugar nenhum do Neil Gaiman e O apanhador no campo de centeio do J.D.Salinger. Todas em bom estado e a Carol é muito dedicada ao atender a gente <3
Pequenos detalhes que, para mim, não fazem a diferença. <3


Eu não me importo de o livro ter dobras ou as páginas amareladas, de jeito nenhum. Mas se você gosta de livros novos, é uma escolha sua e que não cabe a mim julgar, porém, gostaria um pouco que refletíssemos: o que é mais importante, o livro (objeto) ou a história que ele nos conta? Conhecem alguém que tenha preconceito com livros usados? Será que realmente precisamos acumular tantos livros se, às vezes, nem vamos revisitá-los? Fica a reflexão.

Beijinhos, Hel.

Garotas de vestido branco - Jennifer Close

"Todas sabiam que deviam se sentir diferentes naquela vida nova, mas sentiam-se as mesmas de sempre e isso as deixava no limite." (p. 37)


Quando escolhi este livro para ler, esperava dele muitas coisas. Não posso dizer que o livro não cumpriu o que promete, mas também não posso dizer que terminei a leitura apaixonada pela narrativa e pela escrita de Jennifer Close. A verdade é que o enredo de Garotas de vestido branco me chamou a atenção pelo fato de abordar temas que eu tenho vivenciado nos últimos anos: a escolha da profissão, morar sozinha, amizades que vem e que vão, começos e términos de namoro...
Quem nunca teve dúvidas sobre a faculdade que escolheria? Quem nunca soube que aquele crush era o cara errado, mas mesmo assim continuou insistindo? Quem nunca passou por dificuldades financeiras no início da vida adulta? Acho que uma hora ou outra passaremos por algumas dessas situações em nossas vidas.

Lauren, Isabella e Mary são as protagonistas da estória. O leitor acompanha a vida delas desde a faculdade até os trinta anos, mais ou menos. Não há um enredo fixo, só a vida delas que se desenrola. Percebi que há um foco maior em Isabella, pois a narrativa começa e termina com capítulos sobre ela. A narração é em 3ª pessoa, diga-se de passagem.

"Isabella fazia um pedido para JonBenét sempre que jogava moedas em algum chafariz, quando soprava cílios e quando o relógio mostrava 11h11. Pedia que ela estivesse casada. Pedia que tivesse um casamento lindo. Pedia que fosse feliz." (p. 61)

Um dos arcos da estória é a vida amorosa das personagens. Na verdade, o foco do livro todo é a vida amorosa. Em alguns poucos momentos nos deparamos com questões que fogem desse tema, que é o caso da vida profissional de Lauren, que não vai nada bem ou da Abby que tem vergonha do modo de vida dos pais hippies. Mas, no geral, temos um bando de mulheres preocupadas com o fato de as amigas estarem casando e elas não, odiando tudo o que envolve casamentos, chás de panelas e bebês, no que parece ser o mais puro recalque.
Vocês podem estar achando que eu odiei o livro diante do que expus até aqui. O que acontece é que esse livro me deixou desconcertada, pois, por mais que eu tenha terminado a leitura sem sentir nada em relação às personagens, não posso negar que tudo que li é muito verdadeiro. Me identifiquei com muitos dos acontecimentos da vida delas: os chás de panelas chatos e constrangedores, os encontros com caras que, à primeira vista pareciam príncipes, mas que depois de alguns drinques ou alguns encontros embaraçosos se mostram verdadeiros babacas, a dúvida se a profissão que escolheu é a certa, se a pessoa com quem estamos é a que passaremos o resto de nossas vidas ou se realmente somos valorizadas em nossos empregos.

"Nova York fazia Abby feliz. E achava que isso acontecia porque ela não era nem de longe a pessoa mais estranha ali. Cada dia que passava na cidade a fazia relaxar um pouco mais, e logo ela parou de olhar em volta e se perguntar o que as pessoas achavam dela. Saía do apartamento sem se olhar no espelho cem vezes, e, quando tropeçava na rua, nem ficava constrangida." (p. 68)

Enfim, este é um livro sobre mulheres para mulheres. Um enredo que já deve ter sido abordado em muitos filmes ou séries da mesma forma superficial com a qual foi abordada aqui. Ou seja, nenhuma novidade. 
Apesar dos pesares, achei a edição muito bonita, a capa e tudo o mais. Falando em edição, não posso deixar de comentar os erros de revisão, só eu contei oito. OITO. Além disso, as muitas personagens me deixaram confusa, pois por mais que tenhamos o foco em três, muitas outras vão sendo adicionadas ao longo do livro e também ganham capítulos de ponto de vista. Chegou a um ponto em que eu não sabia quem era a personagem em questão. Muito confuso.

Apesar disso tudo, eu recomendo esse livro para quem gosta de romances do tipo chick-lit, na verdade não sei se nesse caso se encaixa nessa categoria já que a atmosfera do livro é um pouco pesada, sempre imaginei que chick-lits seriam mais "bobinhos", divertidos, e esse livro em questão se mostrou bem sério em alguns momentos. Desculpem minha ignorância em relação aos novos gêneros literários, em algum momento da minha vida eu me engalhei nos clássicos e não consigo mais me desvencilhar.

"Não foi para isso que Lauren fez faculdade. Não era onde deveria estar. Aqueles não eram o tipo de pessoas que devia ter por perto." (p. 112)

Um último comentário que quero fazer, e que acredito ser importante, é o fato de Garotas de vestido branco ser a "estreia literária" da autora, como diz o comentário da capa desta edição. Criei bastante expectativa ao ler esse comentário e, principalmente, depois de ler a orelha do livro e me deparar com o fato de a autora ser Mestre em escrita criativa, uau! Mesmo tendo achado que o livro não está nem perto de ser uma "perfeita estreia literária", acho que ela tem talento pro ramo, sim, só precisa melhorar um pouco o enredo, já que as personagens, a meu ver, são bem construídas, por mais que eu não tenha morrido de amores por elas.

Beijinhos, Hel.

CLOSE, Jennifer. Garotas de vestido branco. (Tradução de Camila Mello). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2016. 280 p.

Leituras de Agosto

Olá, leitoras e leitores! Tudo bom com vocês? Muitas leituras em agosto? Por aqui não, tenho lido cada vez menos depois que as aulas começaram e o culpado disso tem nome: TCC. Aproveito para avisá-los que talvez, talvez, a frequência de postagens, principalmente de resenhas, pode diminuir consideravelmente. Então, "tejem" avisados. E não chorem a minha ausência, ok?
Eu li apenas dois livros nesse mês, dois livros incríveis, que valeram muito a pena. A qualidade, aqui, compensa a pouca quantidade. São eles:

A ELEGÂNCIA DO OURIÇO - MURIEL BARBERY (Companhia das Letras)


Esse é, de longe, o meu favorito do ano. Posso falar isso sem pestanejar, apesar de ter lido muitos livros maravilhosos em 2016. Todos os personagens são incríveis, o enredo é sensacional, pois fala de temas como o sentido da vida e a morte, enfim, a resenha já saiu e vocês podem saber porque eu amei tanto esse livro!


O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO - J.D.SALINGER (Editora do autor)


Esse livro estava na minha estante há algum tempinho, esperando o momento de ser lido. Até que comecei a disciplina de Literatura Norte-americana nesse semestre e precisei apresentar alguma obra dessa literatura. Como eu falei na resenha, eu criei uma expectativa para a leitura, de que seria difícil, mas não aconteceu nada disso. O livro é protagonizado e narrado por um garoto de dezesseis anos em apenas um final de semana da vida dele, em que ele se mete em algumas confusões. 
Apesar de parecer um enredo simples e trivial, as reflexões e questionamentos que o livro causa são excepcionais. 

*** 

Recomendo demais a leitura desses dois títulos para quem gosta de livros filosóficos, drama e boa literatura. Apesar de ambos serem um pouco melancólicos, e de A elegância do ouriço ter me arrancado muitas lágrimas, eu amei a leitura do início ao fim.

Foram poucas leituras, eu sei, mas foram ótimas e não acho que não tenha sido um mês produtivo. Sei que a partir de agora as leituras vão ser mais ~raras~, mas vai valer a pena quando eu estiver formada, rsrs.

Quero saber o que vocês leram também! ;)

Beijinhos, Hel.


O apanhador no campo de centeio - J. D. Salinger

“- E a vida é um jogo, meu filho, a vida é um jogo que se tem de disputar de acordo com as regras.
- Sim, senhor, sei que é. Eu sei.
Jogo uma ova. Bom jogo esse. Se a gente está do lado dos bacanas, aí sim, é um jogo – concordo plenamente. Mas se a gente está do outro lado, onde não tem nenhum cobrão, então que jogo é esse? Qual jogo, qual nada.” (p. 14)

Olá, leitores! Hoje eu venho mais uma vez com uma resenha de um livro que entrou para os meus favoritos da vida (mais um, Helena?), sim, mais um livro que eu terminei de ler e tenho vontade de guardar num potinho. O apanhador no campo de centeio é um romance de formação escrito pelo Nova iorquino Jerome David Salinger e publicado em 1951, um clássico. Vocês já devem ter ouvido falar, não? Eu sim, mas confesso que tinha formado uma ideia completamente diferente do enredo do livro na minha cabeça, muito diferente mesmo. Eu achava que o livro era muito difícil e que teria um vocabulário rebuscado, que nada! O narrador é um adolescente e a linguagem é a mais simples possível, cheia de gírias e até palavrões!

***

O protagonista é Holden Caulfield, um adolescente de 16 anos que reclama de tudo e de todos e que narra um fim de semana de sua vida, logo após ter sido expulso (de novo) do internato onde estudava, o Pencey. Ao invés de esperar seus pais o buscar na quarta-feira, ele decide ir para casa sozinho, no sábado, e, então, passa por algumas confusões no caminho. 

“Estou sempre dizendo ‘Muito prazer em conhecê-los’ para alguém que não tenho nenhum prazer em conhecer. Mas a gente tem que fazer essas coisas para seguir vivendo.” (p. 89)

O enredo do livro, aqui neste caso, é o que menos importa. O apanhador no campo de centeio é um daqueles livros em que a beleza está fora dele, nas reflexões que ele proporciona ao leitor. E o leitor que não perceber essas sutilezas por trás das "reclamações" de Holden pode cometer o erro de classificar o livro como "chato". É fato que Holden critica muito os adultos e pessoas que o cercam, ele os acha hipócritas e falsos, acha que vivem de aparências e que não vivem de acordo com o que gostariam de realmente ser. Isso pode ser interpretado como o medo que Holden tem de se tornar como eles quando se tornar adulto, eu gosto de comparar Holden a Peter Pan, uma criança que tem medo de crescer.

“Há coisas que deviam ficar do jeito que estão. A gente devia poder enfiá-las num daqueles mostruários enormes de vidro e deixá-las em paz. Sei que isso não é possível, mas é uma pena que não seja.” (p. 121)

E é engraçado que as únicas pessoas que Holden se refere com carinho durante a estória são crianças, seus irmãos: Allie, que faleceu, e Phoebe, sua irmãzinha mais nova. E é durante um diálogo que ele tem com a irmã que ele faz uma das revelações mais belas do livro, mais ou menos o que ele quer ser "quando crescer":

"[...] fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer." (p. 168)

E essa é a metáfora do livro, linda, e triste. Para Holden, a infância é um campo de centeio, onde as crianças brincam felizes e livres. Ele é o único adulto ali por perto, e sua função é impedir que as crianças caiam no abismo, o abismo simboliza a vida adulta. Mas claro, essa é a minha interpretação, cada livro se mostra novo nas mãos de um novo leitor, e espero que vocês possam ler O apanhador no campo de centeio, não pensem que eu estraguei a leitura por "explicar" o título. Como eu falei, a beleza deste livro está fora dele, na bagagem de cada leitor, não só na bagagem literária, como também de vivência.
O melancólico Holden Caulfiled e seu cigarro e chapéu inseparáveis.
***
Quando esse livro foi lançado, houve bastante polêmica, não só por Holden ser um adolescente petulante, que fala sobre sexo, garotas, fuma o tempo todo e fala muitos palavrões, mas pela ousadia de Salinger ao se expor num relato de adolescente quase autobiográfico. O livro foi um best-seller e Salinger se tornou recluso e recusou-se a ficar sob os holofotes que a fama do livro o colocaram. É compreensível, já que ele deu voz a toda uma geração que, assim como Holden, tinha inseguranças e dúvidas. Além disso, criticou a classe burguesa americana e o modo como viviam nos anos 50, pelo ponto de vista de um adolescente rebelde e desorientado, que procura respostas e que não as encontra. Apesar da referência à época e aos costumes, O apanhador no campo de centeio se mantém atemporal, e apesar de os adolescentes se verem representados na mídia com muito mais frequência nos dias de hoje, a leitura desse livro ainda encanta e traz reflexões muito fascinantes. Se eu indico essa leitura? Mas é óbvio! Eu não sei porque esse livro ficou tanto tempo parado na minha estante e só fui lê-lo para um trabalho da universidade, que vergonha.
Foi impossível ler esse livro e não comparar Holden a dois personagens que também conheci recentemente: Paloma de A elegância do ouriço e Sinclair de Demian. São três personagens adolescentes, que buscam autoconhecimento e que têm pensamentos profundos e críticos em relação ao mundo e pessoas que os cercam. Paloma e Holden têm medo de se tornarem adultos hipócritas, acho que os dois poderiam ter sido bons amigos. Já Sinclair, assim como Holden, está nessa busca por respostas que por vezes não são satisfatórias, mas não sei se eles seriam amigos, é bem capaz de Holden o achar "phony". E em comparação com Demian que eu acabei dando 4 estrelas para O apanhador no campo de centeio no Skoob, embora isso não tenha impedido de eu o adicionar aos meus favoritos, pode parecer estranho, mas é isso!

"Bom mesmo é o livro que quando a gente acaba de ler e fica querendo ser um grande amigo do autor, para se poder telefonar para ele toda vez que der vontade. Mas isso é raro de acontecer." (p. 23)

Bem que eu queria ter sido amiga do J. D. Salinger...

Beijinhos, Hel.

SALINGER, J. D.. O apanhador no campo de centeio. (Tradução de Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster). 13ª ed. Rio de Janeiro: Editora do autor, 1999. 208 p.