3 livros com gatíneos legais

É muito bom encontrarmos, nos livros, elementos que nos agradam. Por exemplo, quando eu lia A elegância do ouriço, gostei muito do livro por ele, primeiramente, ser muito bem escrito e suscitar reflexões interessantíssimas, mas, também, por falar sobre livros, gramática e gatos.

Gatos são criaturinhas fofas que, à primeira vista, podem parecer hostis e insensíveis, mas que, conforme você convive com eles, percebe que são cheios de amor e carinho para dar. Porém, mesmo que você tenha um gato como animal de estimação, ainda parece que eles são um mistério.

O gato, muitas vezes, na literatura e no cinema, passa uma imagem enigmática e não raro é representado como um ser retraído, inalcançável e místico.

Um dos exemplos de gato misterioso é o da estória Coraline, do Neil Gaiman. Enquanto os outros personagens existem separadamente em ambos os mundos, sendo pessoas diferentes em cada um, o gato consegue transitar entre um lugar e outro inexplicavelmente (aliás, existem algumas teorias bem interessantes sobre o universo de Coraline na internet, recomendo que pesquisem sobre). Além disso, ele ajuda Coraline a se livrar da "outra mãe".

“— Por favor, qual é o seu nome? — perguntou ao gato. — Olha, sou Coraline. Tá?
[...]
— Gatos não têm nomes — disse.
— Não? — perguntou Coraline.
— Não — respondeu o gato. — Agora, vocês pessoas têm nomes. Isso é porque vocês não sabem quem vocês são. Nós sabemos quem somos, portanto não precisamos de nomes.” (Gaiman, 2003, p. 52).



Alice no país das maravilhas tem um dos personagens gatos mais icônicos da literatura, o Cheshire cat, ou gato que ri. Também encontra-se muitas semelhanças entre esse livro e Coraline e, acredito, que o próprio Neil Gaiman tenha se inspirado na história de Lewis Carroll, já que os dois gatos são igualmente sagazes e enigmáticos, aparecendo e reaparecendo durante a história.



Um gato de rua chamado Bob é uma história baseada em fatos reais, portanto, diferente das citadas anteriormente. Mas o Bob é tão fofo e os truques que ele faz tão perspicazes, que é inacreditável! Essa estória vai nos mostrar o poder que o amor de um animalzinho de estimação pode exercer em nossas vidas, já que o Bob praticamente salva seu dono, o James. James foi por muito tempo viciado em drogas e precisa rever seus hábitos depois que adota Bob. Ou seja, ele precisa ser mais responsável, já que, então, teria uma vida sob sua proteção. Quando James encontra Bob no corredor de seu apartamento, magro e debilitado, não imaginava que dali surgiria uma linda e verdadeira amizade. E, assim, um salva a vida do outro.

Me emocionei demais lendo a história do James e de como o Bob só trouxe coisas maravilhosas para a vida dele.


BÔNUS

Cansei de ser gato: do capim ao sachê. Quem é gateiro com certeza conhece o Chico e sua família felina. São os gatos mais famosos do Brasil, sério, vocês precisam conhecer. Eles têm redes sociais e tudo, e esse livro de fotografias e entrevistas (sim, entrevistas) é a coisa mais hilária e fofa que vocês vão ler:


O Chico é muito versátil.

E tem uma vida muito atribulada. Porém, em algum momento precisa de um descanso pra tanta beleza.

É ídolo teen e capa de revista.
Mas nunca deixou de ser um gato "gente como a gente".


Essa edição foi lançada pela Intrínseca e tem muitas fotos engraçadas, um ótimo trabalho gráfico e de edição. Claro que uma gateira como eu precisava de uma cópia e gostei muito quando a Paula, do blog Caçando Ouriços me presenteou com a história da vida do Chico. Às vezes, quando eu quero me distrair e dar umas boas risadas, é sempre uma boa ideia folhear este livro. 


Beijinhos,
Hel.

Referências:

BOWEN, James. Um gato de rua chamado Bob. Tradução de Ronaldo Luís da Silva. 1ª ed. São Paulo: Novo Conceito, 2013. 236 p.
CARROLL, Lewis. Alice no país das maravilhas. 2ª ed. Sol. Tradução, introdução e notas de Isabel De Lorenzo. Tradução dos poemas de Nelson Ascher. Ilustrações de John Tenniel. 152 p.
GAIMAN, Neil. Coraline. Rocco jovens leitores. 155 p. Ilustrações de Dave Mackean.
NORI, Amanda; GUIMARÃES, Stéfany. Cansei de ser gato: do capim ao sachê. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015. 160 p.

Clube da luta - Chuck Palahniuk

"Apenas depois do desastre é que podemos ressuscitar." (PALAHNIUK, p. 84)
Exemplar adquirido por meio de troca no Skoob Plus. Quem me segue lá, viu que eu favoritei esse livro. Continuem lendo essa resenha para saber o porquê.
Me adicionem lá: Hel | Leituras&Gatices
Há algum tempo atrás, fiz um post falando sobre como bons livros não podem ser estragados por spoilers. Exemplo disso, foi a minha experiência de leitura com Clube da luta. Eu já sabia de antemão a grande revelação da estória, que é um dos plot twists mais conhecidos da cultura pop, largamente difundido por causa da adaptação (maravilhosa, diga-se de passagem) de David Fincher. Mesmo não tendo assistido ao filme antes de ler Clube da luta, saber como a estória termina de modo nenhum comprometeu minha admiração pelo enredo e pelas reflexões que ele me causou.

"Nossa cultura nos fez sermos todos iguais. [...] Todos queremos a mesma coisa,. Individualmente não somos nada." (PALAHNIUK, p. 167)

O protagonista é um jovem funcionário de uma empresa de seguros para carros que tem uma existência bem frustrada. Trabalha para poder bancar um estilo de vida que ele sequer gosta, mas que a mídia impõe como sendo o ideal. Não vive plenamente. E para se sentir mais vivo, ele frequenta grupos de apoio, lugares em que ele encontra pessoas com câncer, parasitas no cérebro, sem testículos, enfim, pessoas em situações muito piores do que a dele. Porém, uma intrusa que também finge estar doente começa a frequentar os mesmos grupos de apoio que ele. É assim que conhecemos Marla Singer, tão infeliz e frustrada, só esperando pela morte.

"[...] se as pessoas achavam que você estava morrendo, elas lhe davam total atenção. [...] As pessoas ouviam em vez de apenas esperar a própria vez de falar." (PALAHNIUK, p. 133)

Até que um dia, em um dos seus voos a trabalho, conhece Tyler Durden, uma figura muito curiosa e, juntos, idealizam o Clube da luta, um lugar onde não há rótulos, e que podem ser e fazer o que sempre quiseram. Ali, homens de origens diferentes, garçons, empresários, jovens, velhos, gordos, magros, se reúnem para extravasar a raiva entre socos e chutes, sem julgamentos, ninguém é melhor do que ninguém. 

"Gerações têm trabalhado em empregos que odeiam para poder comprar coisas de que realmente não precisam. - Não temos uma grande guerra em nossa geração ou uma grande depressão, mas na verdade temos, sim, é uma grande guerra de espírito. Temos uma grande revolução contra a cultura. A grande depressão é a nossa vida. Temos uma depressão espiritual."(PALAHNIUK, p. 186)

O protagonista, não nomeado, faz uma amizade muito intensa com Tyler, pois ambos parecem sofrer das mesmas mazelas. Talvez por entenderem um aos problemas do outro é que a amizade deles se mantenha tão verdadeira. Tyler começa a mostrar que a vida pode ser excitante se ele se desfazer das amarras sociais. O clube da luta é a maneira de os dois dizerem um grande "Foda-se" para a sociedade. Mas engana-se quem acha que o clube era desregrado e anárquico, na verdade, tinha oito regras. A primeira e a segunda eram as mais importantes: você não fala sobre o clube da luta. Embora exista essa regra, a violação dela começa a trazer novos membros e logo vários clubes da luta começam a surgir por todo lugar.



***

Apesar de Clube da luta ser um livro que, na sua superfície, fale sobre violência, percebe-se que é só uma metáfora, nos joga na cara que precisamos sair da zona de conforto e agirmos de maneira a nos libertarmos de todos os estereótipos e do que a nossa cultura consumista nos impõe. E essa luta precisa ser enérgica, é preciso "lutar" para viver, se não estaremos apenas existindo, afinal, essa é nossa vida "e ela está acabando um minuto de cada vez.". Deve ser por isso, talvez, que o protagonista não tem nome, ele pode ser qualquer um de nós, tão infeliz por perseguir um padrão de vida que não importa o que fizermos, cada vez fica mais inalcançável. Clube da luta é uma estória visceral, um tapa na cara.

Após ler e assistir ao filme, compreendo porque Clube da luta é um clássico moderno; ele reflete toda a pobreza de nossa geração. Somos a geração do imediatismo e da falta de profundidade, tudo vira meme, tudo é ostentação, instantâneo, selfie. A geração que tem preguiça de ler, que aceita tudo mastigado, resumido e depois mastigado de novo. A geração que não questiona e problematiza sem conhecimento de causa. É triste e ao mesmo cômico que uma geração com tantas oportunidades, em que a informação está a um clique de distância tenha se transformado nisso, e Clube da luta atira a verdade crua na cara do leitor. Leiam e se surpreendam como eu!

Obs 1.: Não vou comentar o final do livro, quem ainda não sabe do que se trata, deveria ler hoje mesmo e se surpreender porque é simplesmente GENIAL.
Obs 2.: Não vale vir nos comentários dizer que eu quebrei a primeira e segunda regra do clube da luta. 
Obs 3.: A adaptação de Clube da luta está disponível na Netflix e recomendo que assistam, é muito fiel ao livro e mantém as mesmas críticas.

Beijinhos, Hel.

PALAHNIUK, Chuck. Clube da luta. Tradução de Cassius Medauar. São Paulo: Leya, 2012. 270 p.

A mágica da arrumação - Marie Kondo

Honestamente, eu me considero uma pessoa organizada e, ao ler A mágica da arrumação, posso afirmar que não encontrei muitas novidades; tudo o que a autora ensina em seu método já é algo que eu faço (do meu jeito, mas faço). Me interesso pelos temas organização, minimalismo e consumo consciente, isso já é um ponto de largada muito interessante e que adianta demais as coisas se o intuito de quem lê é colocar o método KonMari em prática.
Basicamente, ela sugere que mantenhamos em nossa casa só aquilo que nos faz feliz, mas isso se torna muito relativo se levarmos em conta que algumas pessoas nunca estão satisfeitas não importa quantas sessões de compras façam por mês. Enfim, acho que é possível aplicar o método, sim, mas vai depender muito da motivação e do quanto a pessoa é apegada a bens materiais.

Jogando "Marie Kondo" na busca do Youtube, pode-se acessar diversos vídeos sobre o método e dicas de como dobrar roupas, arrumar gavetas etc..

O método que a japonesa Marie Kondo desenvolveu é satisfatoriamente detalhado e não deixa escapar nenhum aspecto. Seria muito maçante eu tentar resumi-lo aqui, então, é preciso ler o livro para conseguir pôr em prática. Em suma, ela afirma que, para a casa se manter sempre arrumada e não ter o "efeito rebote" (que é quando você arruma e depois de algum tempo a bagunça volta) é necessário 1) arrumar tudo de uma vez só. Nada de arrumar um cômodo por vez em dias separados, separe um dia para colocar a casa em ordem e, ao invés de arrumar por cômodos, arrume por categorias (ex.: livros, roupas, papéis etc.) 2) jogar fora tudo que não usamos mais e que não nos faz feliz, assim, teremos a nossa volta somente o essencial e 3) não esconder a bagunça ou desfazer-se dela empurrando para outra pessoa. Essa parte, confesso, me deixou um pouco embaraçada, pois é um costume que tenho. Às vezes, despacho algumas coisas que não quero mais para a casa da minha mãe e não farei mais isso.

"Aprendi que despachar objetos para outro lugar é como empurrar a sujeira para debaixo do tapete."

Apesar de ser um método muito eficaz, dado o número de pessoas que o utilizaram com sucesso, o livro tem algumas ressalvas. Por exemplo, ela sugere que joguemos fora os presentes que ganhamos e não gostamos ou os cartões, cartas que temos em casa. O argumento dela é que a função desses objetos é somente ser recebido e causar alegria, concordo com essa parte. Porém, é impossível não pensar no que a pessoa que deu o presente vai pensar. 

Apesar disso, me identifiquei muito com vários ensinamentos da Marie, por exemplo, o de que, ao mantermos somente o necessário, levamos uma vida mais leve e, também, o de que a organização da casa reflete na organização "interior". Por exemplo, eu sou uma pessoa muito suscetível ao meio em que estou, se minha casa está bagunçada ou o ambiente está barulhento (sabe quando seu vizinho ouve música 24h por dia?), não consigo me organizar para cumprir minhas tarefas ou até mesmo, se torna impossível estudar ou ler. E isso é um dos benefícios de por em prática este método: traz uma leveza e uma sensação de que fizemos uma limpeza não só na casa, como na mente. E algo que também é muito interessante nesse livro/método são os argumentos que a autora usa, sempre muito convincentes e me fazendo lembrar de situações pelas quais eu já passei (tipo quando eu tinha uma coleção de sacolas de papel que eu não jogava fora porque achava que usaria, mas que, depois que eu joguei fora, percebi que não me faziam a menor falta), entre outros.

E é claro que em algum momento eu esperava que Marie falasse sobre o acúmulo de livros, e eu esperava seriamente discordar dela. O que me surpreendeu foi que concordei em gênero e grau com a solução dela para decidir quais livros manter e quais me desfazer:

"[...] segure cada livro e sinta se ele o inspira ou não. Mantenha aqueles que lhe deixam feliz apenas por estarem ali, aqueles que você adora de verdade."

Os livros são memórias também, não é mesmo? Nada mais justo do que manter aqueles que nos despertam memórias boas. Depois desses ensinamentos em relação aos livros, o resultado foi que eu comecei a utilizar o sistema de trocas do Skoob com bastante frequência e, assim, me desfiz de alguns livros que não me faziam tão feliz assim. Aliás, se você também é um usuário Plus e quiser dar uma olhada nos meus livros disponíveis para troca é só clicar aqui.

"[...] o método KonMari não é uma mera enumeração de regras sobre como separar, arrumar e descartar objetos. Trata-se de um guia que ensina as pessoas a se tornarem mais organizadas."

Por fim, acho válido comentar essa última citação, ela explica bem o que o leitor vai encontrar durante a leitura: um diálogo entre a autora e o leitor que faz com que avaliemos nosso comportamento, também, afinal, a casa e nossos pertences, de um modo ou de outro, refletem como somos.

Beijinhos, Hel.

KONDO, Marie. A mágica da arrumação. Tradução do inglês de Marcia Oliveira. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.

Vale a pena fazer parcerias com editoras? - Um relato pessoal

O Leituras&Gatices já está se encaminhando para o seu segundo ano de vida e, depois desse tempo que passou, sinto que surge um momento de autoavaliação. O que eu fiz até agora? Tenho trazido conteúdo de qualidade? Meu blog faz a diferença ou é só mais um num oceano? O que eu construí de inspirador e motivador para que as pessoas leiam mais?

Além disso, com o fim de 2016 e o início do novo ano em que estamos, acabei também ponderando em que aspecto as parcerias que tive ajudaram o blog a crescer no quesito visibilidade e reconhecimento, bem como elas influenciaram nos meus hábitos de leitura e nas postagens aqui do blog.

Arquivo pessoal

Basicamente, houve três estágios em relação às parcerias: euforia, decepção e amadurecimento.

No início, meados de fevereiro de 2016, fui selecionada em duas parcerias com editoras grandes e isso foi muito empolgante. O L&G tinha menos de 6 meses (um baby) e já tinha parcerias de peso! "Desse jeito, nessa velocidade, o blog vai longe em pouco tempo!", pensei. Ledo engano. De fato, em mais alguns meses eu seria selecionada em mais duas parcerias com editoras, porém, eu já estava bem menos empolgada.

Não é algo mágico que de um dia para o outro o fato de o blog ter um selo de parceiro na lateral vai fazer crescê-lo automaticamente. Não mesmo! Na verdade, pouca coisa muda, a não ser a responsabilidade com prazos e divulgação. Se antes das parcerias eu era livre para ler, resenhar e divulgar o que eu bem entendesse, depois, minhas opções foram drasticamente limitadas.

E aí entra a parte da decepção. Aquela euforia inicial vai dando lugar a um cenário bem menos glamouroso. É uma corrida contra o tempo e, muitas vezes, contra o próprio livro, que é extenso demais, lento demais, até chato demais e precisa ser lido, resenhado, fotografado, divulgado etc etc.. Claro que, em meio a tudo isso, surgem livros incríveis e que valem muito a pena serem lidos. Mas o que eu me questiono é: vale a pena todo esse trabalho? Para mim, não vale. 

Vejam, eu não vivo só de blog (quem dera), tenho outros compromissos e aqui resenhando somos somente eu e a Julya. Outra questão: eu não leio rápido e não gosto de pressão. Eu posso até fazer uma resenha bem feita em prazos apertados, contudo, é aquele ditado: não foi feito com amor. Assim como a leitura, falar sobre livros deve ser uma atividade prazerosa e não feita por obrigação.

E ainda se fosse um trabalho com remuneração. Não é! Muita gente vem me perguntar quanto as editoras me pagam para criticar e divulgar os livros e quando eu respondo "Nada, elas somente enviam o livro!" as pessoas ficam chocadas. Percebam que eu e a Julya temos formação acadêmica em literatura, tudo bem que o blog não tem um público tão grande assim, mas vocês acham justo fazer todo o trabalho e ganhar só um livro em troca? E muitas vezes um livro que nem pedimos? Reflitam.

Como resultado disso tudo, ao fim do ano passado eu não estava mais me sentindo feliz em relação ao blog. Sabe quando você está satisfeito, fez tudo do jeito certo, mas não sente sua personalidade impressa no seu trabalho? Sabe quando você tem certeza de que poderia ter feito melhor se fosse de outro jeito? Não vou ser categórica e dizer que o conteúdo não estava bom para mim, mas deixei de ler muita coisa que eu queria em detrimento de leituras enviadas por editoras parceiras. 

"Assim como a leitura, falar sobre livros deve ser uma atividade prazerosa e não feita por obrigação."

Por fim, vem o amadurecimento. Período em que eu parei para analisar tudo o que aconteceu até aqui. Percebi que as parcerias com autores(as) nacionais me davam muito mais satisfação devido ao feedback ser mais próximo e pelo fato de que estas foram realmente parcerias. "Como assim, Hel? As editoras não praticam parceria?" De certo modo, e no meu caso, não! Parceria, para mim, é quando um ajuda o outro, a editora/autor manda o livro, eu resenho/divulgo e tenho ajuda nessa divulgação, seja com compartilhamentos ou mesmo um elogio/crítica. Afinal, eu preciso saber se estou fazendo a minha parte de maneira apropriada (até para me preparar para possíveis renovações de parcerias) e também porque é muito óbvio que quanto mais divulgação, mais pessoas se interessam por adquirir aquele produto, no caso, livro. A palavra-chave, e o que faltou no meu relacionamento com as editoras, é feedback. É muito chato enviar um e-mail e não ser respondida. Mais chato ainda ficar no vácuo nas redes sociais. É como se fosse uma via de mão única, um canal de comunicação em que um dos lados não ouve.

Ao final de todo este meu relato, aponto que cabe a cada um decidir o que é melhor para si: se correr atrás de parceiros ou não. Eu não digo que não farei mais parcerias, até porque ocasionalmente recebo propostas de autores nacionais e não vou negar se o livro é do meu interesse. No que tange as editoras, serei mais criteriosa e manterei somente aquelas 1) cujo catálogo me interessa 2) que mantenham uma boa comunicação e 3) que sejam respeitosas com os blogueiros e pratiquem parceria de fato.

Bom, nem todas as minhas experiências foram ruins, tive algumas muito legais e que me deixaram muito feliz! Não dá para generalizar, não é mesmo?!

Observação: as opiniões e apontamentos sobre parcerias feitas aqui nesse texto são baseadas única e exclusivamente na minha experiência e não devem ser encaradas como se definissem o que é uma parceria, ok?

E vocês que são meus leitores e também têm blogs sobre livros, o que acham disso tudo?
Beijinhos, Hel.

A desumanização - Valter Hugo Mãe

"As palavras são objetos magros incapazes de conter o mundo. Usamo-las por pura ilusão. Deixámo-nos iludir assim para não perecermos de imediato conscientes da impossibilidade de comunicar e, por isso, a impossibilidade da beleza." (MÃE, p. 27)
Isso é o que eu chamo de um pequeno grande livro. Certamente um dos melhores que li esse ano.

Halla e Sigridur são gêmeas, mas Sigridur morreu e a gêmea "menos morta" agora precisa continuar sua vida. É assim que se desenrola a estória de A desumanização, título, a propósito, muito simbólico.
No ano passado eu já havia lido um livro sobre irmãs gêmeas, em que uma falecia e a outra encarava uma grave crise existencial, mas nem de longe As gêmeas do gelo abordam com tanta profundidade e sensibilidade esse laço que existe entre gêmeos e de uma maneira tão tocante quanto Valter Hugo Mãe fez.

"Éramos gémeas. Crianças espelho. Tudo em meu redor se dividiu por metade com a morte." (MÃE, p. 9)

A protagonista, Halla, passa pelas várias fases do luto, a negação da morte e a sensação de que ela, assim como a irmã, também está perdendo sua humanidade. Pelo fato de se sentir tão ligada à irmã "plantada", em certos momentos ela sente que sua alma e corpo estão se dividindo. Existe, também, toda a pressão por ser a gêmea que continua viva e a relação com a mãe começa a ficar conturbada. A gêmea que morreu vai ser para sempre uma criança, já Halla, ao passo que cresce e descobre a sexualidade, entre outros aspectos de ser uma adolescente, deixa de se sentir próxima da irmã, mas não ao ponto de esquecê-la.

"[...] a morte é um exagero. Leva demasiado. Deixa muito pouco." (MÃE, p. 13)

O cenário da estória, quase como um personagem, também é muito importante para a compreensão do enredo. A Islândia é quase que antropomorfizada e constantemente são feitas analogias e metáforas que dão a entender semelhanças entre os personagens e o ambiente. Além disso, a ambientação dá à narrativa um tom de silêncio, tácito, quase lúgubre. Isso faz com que a experiência da leitura se torne um pouco triste e bastante melancólica.

"As montanhas eram corpos deitados. Não tombaram. Eram assim. Deitavam-se por maturidade. Sem palavra. Como um poema calado. (MÃE, p. 46)
A Islândia é famosa pelas suas lindas paisagens, os gêiseres e a aurora boreal. Além disso, também é famosa por ser um dos países mais pacíficos do mundo, sendo um exemplo para outras nações.
Créditos na foto.
Outro aspecto a ser comentado é a escrita de Valter Hugo Mãe. Ela é composta por sentenças breves, pontuação irregular. As falas não são sinalizadas, e o ritmo é lento, quase como se fosse necessário digerir cada palavra devagar, absorver tudo é praticamente impossível. Apesar de ser em prosa, a sensação de poesia que a narrativa tem é impressionante. Em certo momento o narrador fala sobre a arbitrariedade do signo, sobre as palavras não serem o que elas nomeiam, e sobre como é quase impossível nomear o belo, transmitir a beleza por meio da linguagem. Em relação a tudo isso, arrisco dizer que Valter Hugo Mãe se aproxima muito de conseguir cumprir essa tarefa, pois sua escrita é de uma beleza sem igual. Ao versar sobre a metalinguagem, ele consegue colocar beleza em uma narrativa triste e angustiante.

"Talvez fosse isso o que significava a morte entre gémeas. Deixávamos de ser gémeas e quebrava-se a telepática relação que existira até então. A morte impedia a irmandade e as semelhanças. [...] Voltaríamos a ser gémeas mais tarde." (MÃE, p. 55)

São tantas passagens marcantes nesse livro, que acredito que essa resenha tenha ficado um tanto poluída, pois queria ilustrar o talento que Valter Hugo Mãe tem com as palavras. Dizer que esse livro é maravilhoso, a essa altura, seria o mesmo que afirmar o que o narrador afirma: é impossível comunicar a beleza. Por vezes, me sinto assim ao querer trazer alguma indicação de leitura aqui no blog, e só me basta confiar e esperar que meus leitores captem o pouco de beleza que quis transmitir com minhas palavras.

“Quando falo, não entrego nada. Deixo mesmamente despido quem tem frio e não encho a barriga dos que têm fome. Quando falo, o que faço é perto do não fazer nada e, no entanto, cria-nos a sensação de fazer tanto. Como se falando pudéssemos fazer tudo. O que digo é só bom porque pode ser dito, mas não se põe de parede para a casa ou de barco para a fuga. Não podemos ir embora. Falar é ficar. Se falo é porque ainda não fui. Ainda aqui estou. Preciso de me calar, pai. Preciso de aprender a calar-me. Quero muito fugir." (MÃE, p. 34)

Beijinhos, Hel.

MÃE, Valter Hugo. A desumanização. São Paulo: Cosac Naify. 2014, 160 p.

3 livros com temática feminista

No ano passado, eu tive o prazer de ler mais autoras mulheres do que o normal, não sei se foi por obra do destino ou inconscientemente, mas a verdade é que eu acabei por ler algumas obras que não só foram escritas por mulheres, como também tinham como protagonistas mulheres fortes e com enredos que suscitam a discussão feminista. Pensando nisso, resolvi indicar três obras com essa temática para vocês. Vamos às indicações:

O papel de parede amarelo e a crítica à relação marido e mulher
Belíssima edição da editora José Olympio, com textos de apoio excelentes.
Nesse conto escrito em 1891 por Charlotte Perkins Gilman, uma mulher é levada pelo seu marido para passar um período em uma casa de campo, devido a um problema de saúde, uma "depressão nervosa passageira -  uma ligeira propensão à histeria". Lá, ela é acomodada em um quarto com um horrendo papel de parede amarelo, que desde o início a perturba intensamente.

Percebe-se que, embora ela discorde do marido, ela não ousa desafiá-lo, mas não por medo, e sim porque ela acredita que ele está certo e o problema é ela. Essa culpa que ela sente é incitada pelo próprio marido, que a fica tratando como "bobinha" e a priva de fazer o que ela gosta que é escrever. Sendo assim, aos poucos ela vai perdendo a sanidade e o desfecho é chocante.

Nesse conto, vê-se uma crítica clara a relação de submissão da mulher que não questiona o marido, e que é manipulada psicologicamente, o famoso gaslighting
Pode-se fazer um paralelo com nossa sociedade atual, com os relacionamentos abusivos em que a mulher sofre nas mãos de parceiros agressivos. Ou ainda, nos casos em que a vítima é sempre culpabilizada.


Orlando e a crítica ao papel dos sexos



Em Orlando, de Virginia Woolf, o protagonista homônimo inicia a narrativa como um jovem rapaz que vive na Inglaterra do século XVI no seio de uma família abastada. BUT, depois de dormir durante sete noites turbulentas, Orlando acorda e é uma mulher. Sim, uma mulher!

Apesar de ser uma narrativa um tanto quanto fantástica, Orlando nos mostra que, com a mudança do sexo, as cobranças da sociedade para com a sua conduta mudam totalmente. Apesar de ser a mesma pessoa, Orlando precisa agora ser recatada e "se dar ao respeito", embora quando ele era homem podia "passar o rodo", como o perdão pela expressão.

Pode-se fazer um paralelo com nossa sociedade atual, em que as mulheres são julgadas pelas roupas e pelas atitudes que a condenam como promíscua, enquanto, nos homens, a sexualidade é instigada desde criança.

A cor púrpura e o empoderamento entre mulheres


Em A cor púrpura, temos a estória de Celie, uma mulher oprimida, pobre e negra, que tem os filhos arrancados e é afastada da irmã. Ainda, ela é forçada a ser casar e precisa aguentar as agressões e traições do marido. E quando ela precisa hospedar uma amante do seu marido, Shug avery, que está doente, em sua casa, surge uma amizade de início improvável entre as duas. Elas se unem e Shug a ajuda e se defender e a se valorizar. 

É um relato de resiliência e, também, sororidade. Mostra que mulheres não precisam ser inimigas e que podem e devem empoderar as outras não ficar se brigando por macho.

Espero que tenham gostado das dicas. Beijinhos, Hel.

Referências:

GILMAN, Charlotte Perkins. O papel de parede amarelo. Tradução de Diogo Henriques. 1ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. 110 p.

WALKER, Alice. A cor púrpura. 10ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. 335 p. Tradução de Betúlia Machado, Maria José Silveira e Peg Bodelson.

WOOLF, Virginia. Orlando. Tradução de Laura Alves. Rio de Janeiro: Ediouro, 1994. 238 p.

Enclausurado - Ian McEwan

"Alojado onde estou, sem nada para fazer a não ser crescer meu corpo e minha mente, absorvo tudo, até mesmo as idiotices - que é o que não falta." (MCEWAN, p. 13)

Quando a gente pensa que não há mais como inovar na literatura em relação a narrador ou enredo, vem o Ian McEwan e escreve Enclausurado. Narrado por um feto que ouve e analisa tudo o que se passa em sua volta - inclusive o fato de a mãe e o tio estarem planejando a morte do pai dele, para ficar com a casa valiosa - esse ser que ainda nem veio ao mundo já conhece o que de pior tem nele. Traição, ambição, luxúria.



Basicamente, o enredo se desenvolve em torno de Trudy, a mãe do feto, e de Claude, tio dele, bolando planos para executar o assassinato de John, pai do nosso inusitado narrador. Mas se você pensa que ele simplesmente "testemunha" os acontecimentos e não se posiciona, você está totalmente enganado. O grande trunfo dessa narrativa é justamente o fato de o narrador ser extremamente crítico e até ter certas preferências, como em relação aos vinhos que a mãe toma e, até mesmo, em relação ao quadro político da Inglaterra. Além disso, ele constantemente reflete sobre sua situação e, principalmente, o que acontecerá com ele se o pai morrer. Qual será seu destino? A mãe o ama?

"Meu pai é indefeso por natureza, como eu sou por circunstâncias. " (MCEWAN, p. 40)

Obviamente, enquanto lia, tracei paralelos entre Enclausurado e outras duas importantes obras da literatura: Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Hamlet, de William Shakespeare. E acho que torna-se particularmente interessante a leitura deste livro tendo as outras duas na bagagem. Em Memórias póstumas de Brás Cubas, temos um narrador-defunto, que, assim como o narrador-feto, por não viver, diretamente, em nosso mundo, apresenta sua trajetória sob um olhar cínico, observador e, por vezes, debochado. Já em Hamlet, a trama de traição entre irmãos se repete e a dúvida também assola o protagonista, sendo essa a maior semelhança entre as duas obras. Juntando um narrador que já não está ainda em nosso "plano astral" e um filho que sabe da traição da mãe com o tio, temos esse livro ímpar.

***

O que me motivou a ler esse livro, primeiramente, foi o fato de querer conhecer o tão elogiado autor. Segundo, com a iminência do lançamento de Enclausurado e de toda a polêmica que circundou sua publicação, escolhi essa obra para conhecer o estilo de Ian.
De certo modo, foi uma experiência de leitura que se aproximou da decepção, mas não chegou a ser uma. O livro é daqueles que vale mais a leitura pela reflexão que ele causa, do que pela estória propriamente dita. É claro que é inegável que McEwan escreve maravilhosamente bem, porém, o enredo dessa estória me pareceu propositalmente polêmico. As cenas em que o feto tenta desviar-se do pênis do tio durante as constantes cenas de sexo mesmo com o adiantado da gestação, principalmente, são as mais bizarras e, ao mesmo tempo, provocativas.

O desfecho, também, não foi nenhuma surpresa e posso dizer que já esperava que fosse do jeito que é. Não é uma leitura que recomendaria para qualquer um, algumas pessoas são muito mais impressionáveis e sensíveis do que eu e, portanto, poderia ser uma leitura um tanto quanto perturbadora. Todavia, preciso parabenizar o autor por tornar uma estória que embora possa parecer tão inverossímil, graças ao talento narrativo tornou-se muito boa. Qualquer outro escritor que adotasse o enredo de Enclausurado, mas que não tivesse a destreza de McEwan, poderia facilmente cair no ridículo. É preciso ser muito habilidoso para fazer um enredo desses funcionar.

"Não vejo nenhuma opção, nenhuma escapatória plausível para a possibilidade de ser feliz. Queria não nascer nunca..." (MCEWAN, p. 83)

Beijinhos, Hel.

MCEWAN, Ian. Enclausurado. Tradução de Jorio Dauster. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 199 p.

Sorteio de 3 anos do Historiar

Oi, pessoal! Neste mês de março o Historiar está completando três anos de vida! E para comemorar esse momento tão lindo, o Historiar junto com outros blogs literários, decidiu fazer um super sorteio.

Leiam as regras:

- O sorteio tem início hoje e termina dia 28/03/2017;
- Você precisa ter endereço para o envio em território brasileiro;
- Cada blog é responsável pelo envio do seu respectivo prêmio, ou seja, os prêmios chegarão individualmente e em prazos diferentes;
- O prazo de envio dos prêmios será de 45 dias após a divulgação dos vencedores;
- O sorteio terá ao todo três ganhadores, cada kit terá um sorteado; caso um mesmo individuo seja contemplado em mais de um kit só será considerado ganhador do kit cujo nome apareceu primeiro e no outro será realizado um novo sorteio;
- O resultado será divulgado em no máximo 15 dias após o término das inscrições neste mesmo post e nas redes sociais;
- O ganhador receberá um e-mail e terá 3 dias para entrar em contato. Caso não haja resposta dentro desse prazo faremos um novo sorteio;
- Não nos responsabilizamos por extravio dos correios e endereços incorretos;
- No sorteio as regras obrigatórias precisam ser cumpridas para que você possa participar, as regras que abrirem em seguida serão opcionais. ATENÇÃO: Onde está "Visitar essa página" significa "Curtir a página". Lembrando que todas as entradas serão verificadas!
- Após preencher o formulário deixe um comentário que se refira a sua participação no sorteio.

KIT 1: Heróis da Internet (Historiar) + Caminhos de Sangue (Passaporte Literário) + Mentirosos (Livreando) + 15 marcadores (Coisas de Diane)



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KIT 2: Eu fico loko 3 (Historiar) + Brisa Filosófica (Vidas em Preto e Branco) + Surpreendente! (Um Oceano de Histórias) + Brasyl (Balaio de Babados)



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KIT 3: O amor em primeiro lugar (Historiar) + Supernova 2 (Coisas da Juu) + Garotas de vestido branco (Leituras & Gatices) + 30 marcadores (MilkShake de Palavras)



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Boa sorte a todos! Beijocas. 😚