(ESM) Tema #11: Um acontecimento especial

Sobre a tal independência...

Foto: Historiar

Talvez não tenha sido exatamente especial, mas ter saído da casa dos meus pais foi triste e feliz ao mesmo tempo, além de muito importante. Como assim, Helena? Triste, pois eu sempre fui muito próxima deles, feliz, pois me descobri mais madura e, principalmente, mais preparada para a vida adulta morando sozinha. Lembro que, na época que saí da casa deles, nos primeiros dias, até semanas, eu chorava e sentia muita falta da minha "casa". Hoje em dia, não vejo mais a casa dos meus pais como minha casa, é só um lugar que visito nos finais de semana. Além do mais, o distanciamento da minha família me mostrou o quanto eu os amo, para vocês terem uma noção, quando eu morava com meus pais, vivia brigando com meu pai e com o meu irmão, hoje em dia, quando nos reunimos, não há espaço para discussões por bobagens, pois queremos aproveitar  o momento presente, em que estamos juntos.

Outra coisa que aconteceu muito importante nesse mesmo período foi a minha entrada na universidade (foi por isso que eu saí da casa dos meus pais). Era um sonho que eu tinha desde muito pequena e que se realizou. Hoje em dia, em comparação com a pessoa que eu era antes de ser acadêmica, eu me vejo como uma pessoa muuuuito diferente. Entrar na universidade me fez ver o mundo de outra maneira, lá, eu conheci gente muito diferente de mim, e isso me fez perder muitos preconceitos, pois, convivendo com pessoas diferentes eu passei a não só respeitá-las, como também a entendê-las. E também conheci muitas ideologias e filosofias de vida que acabei adotando para mim mesma como o feminismo e o vegetarianismo que, de certa forma, me tornaram uma pessoa mais sensível ao próximo. Além de tudo isso, ainda há a certeza de que escolhi o curso certo para minha vida, Letras. O contato com a literatura e com línguas que a graduação tem me proporcionado não afetou somente o modo como eu falo e escrevo, mas também a minha visão do mundo e da sociedade. Como é bom saber que se está na profissão certa!

Talvez, de uma forma ou de outra, eu tivesse amadurecido mesmo sem ter ido à universidade ou saído de casa, mas a verdade é que a intensidade dos impactos de tais acontecimentos, na minha vida, foi muito grande e as mudanças que aconteceram foram muito rápidas. A independência que adquiri não foi só financeira ou pessoal, mas foi uma independência que transcende esses aspectos da vida cotidiana. Sinto que me tornei uma pessoa melhor e que esse foi só o estopim de mudanças ainda maiores, para querer mudar é só começar.

Beijinhos, Hel.

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Text escrito para o tema #11 do Projeto Escrevendo sem medo, idealizado pelo blog Historiar. Na temática para escrita, nesse mês, nós, participantes, vamos escrever sobre algum acontecimento especial que nos tornou pessoas melhores, algo grandioso que mudou nossas perspectivas. Simples assim. Vasculhe suas lembranças e escreva sem medo!

Quarto - Emma Donoghue

"Há mais coisas na terra do que você jamais sonhou." (Donoghue, p. 99)

Foto: arquivo pessoal
Jack tem cinco anos. Ele e a Mãe vivem no Quarto. Foi lá que Jack nasceu, para ele, esse é o único mundo que conhece. Já para a Mãe, há um mundo lá fora no qual ela daria tudo para estar. Ela foi sequestrada pelo "velho Nick" (é assim que Jack o chama) quando tinha dezenove anos e, desde então, vem sendo mantida presa no Quarto. Em algumas noite, o velho Nick entra no Quarto e "dorme" com ela, dessa relação abusiva, nasceu Jack. Agora, nas noites em que o velho Nick entra no Quarto, a Mãe coloca Jack para dormir dentro do guarda-roupa.

Dentro do quarto, a Mãe faz de tudo para que não falte nada para o filho, apesar do espaço diminuto e das condições dos alimentos e roupas que o velho Nick os dá. Contudo, ela sabe que o tempo vai passar e que quanto mais velho Jack fica, mais curioso e questionador ele se tornará. É então, quando Jack completa cinco anos, que ela resolve contar para ele que existe um mundo Lá fora muito maior e melhor do que o Quarto. Jack se recusa a acreditar no que a Mãe diz, já que até então ela vinha mentindo e omitindo sobre o mundo Lá fora, pois ela achava Jack muito novo para entender a complexidade da existência deles.

"É esquisito ter uma coisa que é minha e não é da Mãe. O resto tudo é de nós dois. Acho que o meu corpo é meu, e as ideias que acontecem na minha cabeça. Mas as minhas células são feitas de células dela, quer dizer que eu sou meio dela." (Donoghue, p. 23)

Com o tempo e insistência, a Mãe consegue bolar um pano de fuga para tirá-los dali, porém, Jack precisa ser corajoso!

Será que eles conseguirão sair do Quarto? O que os aguarda no Lá fora?

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Foto: arquivo pessoal
O livro é dividido em cinco partes

Apesar do enredo pesado e da seriedade dos temas abordados em Quarto, como sequestro e estupro, a narrativa é "suavizada" pelo fato de o narrador ser o menino Jack. Curioso, criativo e carinhoso, Jack é uma criança como qualquer outras; é brincalhão, possui uma imaginação fértil e adora livros e desenhos animados.
É linda a relação construída entre mãe e filho mesmo em um ambiente tão cruel e, ver a forma como a Mãe se priva de muitas coisas para criar o filho dignamente, mesmo que dentro de um cárcere, é triste e ao mesmo tempo admirável.
Outra questão que Quarto aborda e que fica bem clara para o leitor é como a mente e o corpo de uma pessoa reagem a uma situação tão horrível quanto anos de reclusão e abusos e como a mídia/sociedade recebe essas pessoas após tais eventos traumáticos - sem o menor respeito à privacidade e à dor alheia, diga-se de passagem.
É impossível não se apaixonar por Jack, e sua ingenuidade e espontaneidade, ou não se compadecer da situação vivida pela Mãe. São personagens que com certeza nunca esquecerei.
O modo como a autora conduz a narrativa, apesar de um pouco arrastada no começo da leitura, já que a vida no Quarto em si é entediante, depois se mostra muito empolgante. A leitura é fácil e fluida por conta de o narrador ser uma criança.

Foto: arquivo pessoal
Publicado no Brasil pela Verus editora, essa é a 5ª edição
Ler Quarto me fez pensar em pessoas que vivem presas à situações abusivas e escravas de si e de outras pessoas. Me fez pensar nas pessoas que realizam trabalho escravo e naquelas que são vendidas como mercadorias, como meninas raptadas e forçadas a se prostituir em troca de suas vidas.  Em Quarto, a ficção aponta para situações reais e a arte, mais uma vez, imita a vida.


Beijinhos, Hel.

PS.: Quarto ganhou uma adaptação cinematográfica intitulada O quarto de Jack e a atriz que interpreta a Mãe de Jack, Brie Larson, ganhou o Oscar na categoria de melhor atriz.

Foto: Getty images
Na foto, Brie como Mãe e o fofo Jacob Tremblay como Jack

DONOGHUE, Emma. Quarto. 5ª ed. São Paulo: Verus. 2015. 349 p. Tradução de Vera Ribeiro

Novidade da Novo Século Editora - Demolidor: o homem sem medo

O Homem Sem Medo é a mais nova estrela da Série Marvel.

A adaptação da célebre HQ criada por Frank Miller e John Romita Jr. é a mais nova aquisição da Novo Século Editora.


Quem acompanha a Novo Século com certeza pira com a parceria que eles vêm fazendo com as estórias do universo Marvel. A editora já lançou nove títulos desse universo até o momento, e possui mais quatro programados para serem lançados até o final deste ano.
A novidade de hoje é que Novo Século acaba de acrescentar à lista mais uma adaptação de um clássico dos quadrinhos, “Demolidor: o homem sem medo”. Originalmente lançada em 1993, com roteiro de Frank Miller e ilustrações de John Romita Jr., a história conta a origem do herói e serviu como base para o roteiro da série de sucesso da Netflix, Demolidor. O responsável por transportar a história de Matt Murdock para as páginas do livro é o premiado autor Paul Crilley.

Com previsão de lançamento nos EUA para julho de 2016, a tradução chegará ao Brasil em 2017.

SINOPSE: Um pai cheio de culpa. Um mentor rigoroso. Uma paixão. O que motiva o Homem Sem Medo? Matt Murdock foi criado por um pai solteiro, um boxeador decadente que teve uma chance de fazer o certo – uma chance que lhe custou a própria vida. Insultado e atormentado por outras crianças, a vida de Matt é drasticamente alterada depois de ficar cego por conta do contato com materiais radioativos enquanto salvava a vida de um homem idoso. A recompensa? Uma ânsia inabalável por justiça e uma inteligência aguçada. Sua história é de amor, dor, desapontamentos e força. Testemunhe as estranhas maquinações por trás da vida de um dos heróis mais amados da Marvel nesta adaptação inédita dos quadrinhos de Frank Miller e John Romita Jr.

Ansiosos por esse lançamento? Quem curte estórias de super heróis?
Continuem acompanhando o Leituras&Gatices para saber de todas as novidades da Novo Século Editora!

Beijinhos, Hel.

O planeta dos macacos - Pierre Boulle

Sabem aqueles livros que vocês não leram mas já sabem que vão amar? Aconteceu isso comigo no caso de "O planeta dos macacos". Apesar de ser de um gênero que não leio muito, ficção científica, eu tinha o feeling de que esse livro seria muito bom! Criei expectativas e... Não me decepcionei!
Esse livro é daqueles que tira o leitor da zona de conforto, nos faz divagar e nos envolve na leitura justamente pelo tema que ele traz. Vou explicar melhor.

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Foto: arquivo pessoal

Tudo começa no espaço. Um casal está em lua de mel e vê uma garrafa com um manuscrito se aproximando de sua nave; aí já começam as peculiaridades na estória. Eles param a nave e recolhem a garrafa curiosos para ler o conteúdo misterioso. Trata-se do relato do jornalista Ulysse Mérou. Nele, Ulysse narra sua chegada e de mais dois tripulantes da expedição a um planeta da galáxia de Betelgeuse ( já ouviram esse nome antes em "O guia do mochileiro das galáxias", lembram?), um planeta muitíssimo semelhante à Terra:

"Não restava dúvida de que nos encontrávamos num irmão gêmeo da nossa Terra. A vida existia. [...] Pelo que víramos antes da aterrizagem, sabíamos também que existia uma civilização." (Boulle, p. 26)

Foto: arquivo pessoal
A estória é dividida em quatro partes

Eles batizam o planeta com o nome Soror. O primeiro habitante que encontram, para seu espanto, é um ser humano, uma mulher, especificamente. Contudo, ela é estranha demais, apesar da beleza natural e estonteante, e Ulysse a batiza com o nome de Nova:

"Abriu a boca. [...] Achava que ela iria falar, gritar. Eu esperava um chamado. Estava preparado para a linguagem mais bárbara, mas não para aqueles sons estranhos que saíram de sua garganta; muito precisamente de sua garganta, pois nem a boca nem a língua tinham qualquer participação naquela espécie de miado ou grunhido agudo, que parecia mais uma vez traduzir o frenesi alegre de um animal." (Boulle, p. 31)

Logo, eles constatam que os seres humanos dali são selvagens, bestiais. Mas, então, quem haveria construído as casas e prédios, enfim, aquela civilização?
Poucos minutos depois de aterrizarem e de terem sua nave e roupas destruídas pelos humanos selvagens, os três se veem em meio a uma caçada em que os homens são a caça e - pasmem - os macacos são os caçadores:

"Em vão repeti para mim mesmo que estava enlouquecendo, afinal não restava mais nenhuma dúvida quanto à sua espécie. Mas encontrar um gorila no planeta Soror não era a principal extravagância do episódio. Ela residia para mim no fato de aquele macaco estar corretamente vestido, como um homem dos nossos, e principalmente na desenvoltura com que usava suas roupas. Essa naturalidade impressionou-me acima de tudo. Assim que avistei o animal, ficou evidente para mim que ele não estava de forma alguma fantasiado." (Boulle, p. 46)

Foto: arquivo pessoal
A edição da Aleph tá muito linda, com essas laterais arredondadas parecendo um moleskine

Mal tendo tempo de assimilar toda a situação, Ulysse é capturado pelos macacos e levado para um laboratório onde se realizam testes, muito parecidos ou iguais aos testes que são feitos com animais - inclusive macacos - aqui na Terra. Ele se vê em uma situação invertida; agora ele é tratado como inferior e os macacos é que dominam. Sem compreender o idioma dos macacos, ele se vê numa situação complicadíssima ao tentar provar que é tão racional quanto eles.

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Que livro agoniante! O que falar mais? Amei? Adorei? Achei tudo??? Sem brincadeiras agora, que livro F***! A narrativa é tão simples que eu li em algumas horas apesar de o livro ter mais de 200 páginas. E essa edição da Aleph - linda, diga-se de passagem - ainda vem com uma nota à edição brasileira, uma entrevista de 1972 com o próprio Boulle e um posfácio com uma análise maravilhosa do livro! 
Uma temática que o livro trouxe e que me tocou profundamente foi a inversão de papéis; há uma cena em que Ulysse tem acesso a uma sala no laboratório onde são feitos testes em humanos e ele fica extremamente horrorizado. O que se constata é que isso acontece todos os dias aqui em nosso planeta e, como não nos atinge, já que somos seres racionais e - teoricamente - superiores, não nos damos conta da crueldade desses testes. Mas só quando o protagonista se vê nessa situação de servidão é que ele percebe a gravidade do fato. A questão que isso nos incute é: temos o direito de explorar os animais só porque somos racionais? Não! O que nos difere é só a racionalidade, sofrimento e dor, todos os animais sentem. E essa questão é pontuada muito sutilmente por Boulle, embora cause uma sensação das mais desconfortáveis no leitor.

Foto: arquivo pessoal

Durante uma parte da narrativa, acompanhamos os esforços do protagonista para tentar provar que não é um "animal" e tentar se encaixar naquela sociedade tão singular. Só de pensar, hipoteticamente, em se por no lugar de Ulysse, já dá uma aflição. 
E, além de tudo, é um livro repleto de críticas ao comportamento em sociedade.
A escrita de Boulle é simples e direta, sem rodeios ou enfeites, é seca, e isso torna a estória ainda mais chocante e, em alguns momentos, assustadora. Confesso que a última frase do livro me deixou APAVORADA.
E o final do livro? Pensem em um plot twist destruidor! Vocês precisam ler porque é um daqueles finais que vai entrar para o meu hall de melhores finais da ficção! Simplesmente de cair o queixo.
Eu normalmente costumo indicar os livros que resenho aqui para quem se identifica com o gênero, nesse caso ficção científica, mas a verdade é que "O planeta dos macacos" não é um clássico à toa. Todos devem lê-lo, é magnífico e me deixou extasiada.


Beijinhos, Hel

BOULLE, Pierre. O planeta dos macacos. São Paulo: Aleph, 2015. 208 p. Tradução de André Telles.

[TAG] Perguntas Literárias

TAG
Hoje eu vou responder a TAG que as meninas Thalita, Denise e Jack, do blog parceiro Entrelinhas Fantásticas, me indicaram! O nome dela é TAG Perguntas Literárias! Vamos às respostas?

1 - Capa mais bonita de sua estante?

A Martin Claret arrasou nessas edições dos romances da Jane Austen, essa aqui é maravilhosa e eu, inclusive, fiz um review mostrando os detalhes do livro!



2 - Se pudesse trazer um personagem da ficção para a realidade, qual seria?

Lizzie Bennet de Orgulho&Preconceito, queria muito ser amiga dela. A gente ia bater altos papos!
3 - Se pudesse entrevistar um autor, qual seria?

O George R.R. Martin, com certeza! Quero saber de onde ele tira tantos cenários e personagens maravilhosos e por que ele os mata e destrói tudo inclusive os meus sentimentos! E também a pergunta que não quer calar: quando é que a madame pretende publicar o Winds of winter??? Hum? Hum?

Toda vez que alguém me pergunta quanto falta para eu lançar o próximo livro, eu mato um Stark.

4 - Uma história confusa?

Cem anos de solidão, esse livro se tornou um pouco confuso porque muitos personagens tinham o mesmo nome ou nomes muito parecidos, como quando o pai bota o seu nome no filho, sabem? Aí eu nunca sabia se quem estava falando era o pai, o filho, o avô, o primo... Até as mulheres tinham nomes parecidos. Ufa! Mas adorei a leitura, quero ler outros livros do Gabo!

5 - Um casal? 

Anne Elliot e Frederick Wentworth de Persuasão. Eu nunca torci tanto para um casal ficar junto quanto torci para esses dois, até porque muitas pessoas atrapalharam o romance deles. Resenha aqui.



6 - Dois vilões?

Eu A-MO os personagens de Shakespeare, principalmente os vilões porque os mocinhos são muito bocós. Eu escolho o Iago, que foi muito perspicaz e ardil influenciando o Otelo a ficar contra a própria esposa. Escolho também a Lady Macbeth, que convence o marido a fazer as coisas do jeitinho que ela quer e na hora que ela quer!

7 - Um personagem que você mataria (ou tiraria do livro)?

Eu mataria a Cercei Lannister sem pestanejar! Eita mulher maquiavélica, destrói a vida de muita gente nas Crônicas de Gelo e Fogo e ainda tem um caso e três filhos com o irmão gêmeo! Qual a necessidade de uma pessoa dessas?


E além de tudo, é convencida!


8 - Se pudesse viver em um livro, qual seria?

O Hobbit, sempre sonhei em morar em uma toca confortável onde eu pudesse ler meus livros em paz e, quem sabe, um dia ou outro me aventurar com o Gandalf e conhecer a Valfenda!

Vocês sabiam que essas toca existem mesmo? O condado Hobbit pode ser visitado numa cidadezinha da Nova Zelândia! Quem sabe um dia eu visito?!

9 - Qual o maior e o menor livro de sua estante?

O maior é A tormenta de espadas do George R.R. Martin, com 1474 páginas e o menor é O pequeno príncipe com 96 páginas. Excluí dessa resposta os contos e peças teatrais, que são gêneros literários, via de regra, curtos. :)

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Para responder a TAG, eu convido a Tainan, do Eu curto Literatura, a Thamiris, do Historiar, a Laila, do Balaio de babados e a Bruna, do Um oceano de histórias!

TAG, dada, TAG respondida!

Beijinhos, Hel.

A cor púrpura - Alice Walker

"Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem repara." (WALKER, p. 231)

A cor púrpura é um livro sobre racismo, preconceito, machismo. Sobre resistir à adversidade por meio da fé em algo superior, sobre descobertas e sobre ensinamentos que a vida nos dá. A protagonista é Celie; jovem, negra e pobre, ela sofre abusos do padrasto e acaba gerando dois filhos dessa relação, que são retirados dela ainda pequenos. A mãe morre quando ela ainda é muito jovem e ela e a irmã, Nettie, ficam sob os cuidados do padrasto.
Com sua escrita simplória, Celie vai escrevendo cartas para Deus, pois sente que ele é o único que pode ouvi-la.
Foto: arquivo pessoal
Para piorar, seu padrasto a força a se casar com Sinhô____* e ela teme pela irmã Nettie, que vai ficar sob os cuidados dele. Contudo, ela não ousa desobedecer e se casa, deixando a irmã que, por sua vez, foge de casa.

"Eu vejo ele olhando pra minha irmãzinha. Ela tá cum medo. Mas eu falei que vou tomar conta dela."(WALKER, p. 13)

Celie apanha do marido, o Sinhô____, que na verdade queria mesmo era ter casado com Nettie. Ele bate nela, a trata como um cachorro e a faz cuidar de seus filhos mal educados de seu casamento anterior. A situação de Celie não poderia ser pior. Além disso, ela sofre, pois o tempo passa e ela nunca mais tem notícias da irmã Nettie, seu único elo no mundo, e já acha que ela está morta.

Tudo muda de cena quando Shug, uma antiga paixão de Sinhô____, aparece na casa, doente. Celie se encanta com ela e as duas iniciam uma amizade muito linda, cuidando uma da outra. Aqui, abro um parêntese para dizer que o que Shug faz com Celie nada mais é que um empoderamento, ela incentiva Celie a se impor diante do marido abusivo e a não aceitar os maus tratos que Sinhô____ a aflige.

Foto: arquivo pessoal
"Querido Deus" é assim que Celie inicia a maioria de suas cartas, até que começa a escrever para sua irmã
 Certo dia, Shug conta para Celie que Sinhô____ esconde as cartas de Nettie dentro de um baú, e isso, ao mesmo tempo que reaviva as esperanças dela, a deixa com um ódio mortal de seu marido. A partir daí, a narrativa se intercala entre a leitura das cartas de Nettie e Celie escrevendo cartas para a irmã, embora elas nunca se correspondessem de fato, já que nenhuma recebia a carta da outra. 
Celie descobre que a irmã se tornou missionária e está na África! E por meio das cartas conta muitas coisas da vida como missionária e das dificuldades culturais que enfrenta.

"Só o céu acima de nossas cabeças é o que temos em comum. Eu olho muitas vezes para ele como se, de alguma maneira, refletida na sua imensidão, um dia eu me encontrarei olhando nos seus olhos." (WALKER, p. 223)

No decorrer da narrativa, percebe-se que Celie evolui ao passo que se liberta de algumas amarras, como o Sinhô, que era extremamente violento, e passa a morar com Shug, onde iniciam um negócio próspero. 

***

Alice Walker conseguir abordar a temática do racismo por meio de um livro tão simples, porém não menos genial, pelo ponto de vista de uma mulher, de um modo tão sensível e comovente, ilustra bem que esse livro não é um clássico da literatura à toa. Ler esse livro pela segunda vez me fez perceber o quanto algumas leituras adquirem uma ressignificação com o passar do tempo e conforme amadurecemos como seres humanos. O drama de Celie, embora se passe no século passado, ainda acontece nos dias atuais. Se ser mulher e negra, atualmente, não é fácil, imaginem num período entre guerras em que o machismo imperava e as mulheres tinham ainda menos direitos do que atualmente? Imaginem a pobre Celie, abusada sexualmente, sufocada e humilhada dentro da própria casa, destituída de amigos e familiares. Apesar de tudo, ela encontra em Deus um refúgio onde se sente segura, onde não há julgamentos. Ela reflete sobre esse Deus, sobre sua representação, e chega à conclusão de que Deus está em tudo e está em nós, e que ele não é esse senhor grande e velhinho de cabelos grisalhos e que o fato de ele ser representado como um homem BRANCO só mostra o preconceito que está arraigado no coração e mente dos homens.

Foto: arquivo pessoal
Fiquei encantada com essa edição da editora José Olympio, impecável

A escrita, com fortes traços da oralidade, só torna a narrativa mais intimista e verossímil, fazendo com que o leitor consiga imaginar a voz da narradora e se sinta mais próximo dos acontecimentos narrados, torcendo por Celie e vibrando a cada passo que ela dá em direção à libertação. Apesar da linguagem simples, "A cor púrpura" não perde em beleza e comove o leitor justamente pela ingenuidade da protagonista. É um livro para se emocionar, para refletir e, acima de tudo, para tocar na alma do leitor.

"O homem corrompe tudo. [...] Ele tá na sua cumida, na sua cabeça, e o tempo todo no rádio. Ele tenta fazer você pensar que ele tá em todo lugar. E quando você pensa que ele tá em todo lugar, você começa a pesar que ele é Deus. Mas ele num é." (WALKER, p. 232)

Beijinhos, Hel.


WALKER, Alice. A cor púrpura. 10ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2016. 335 p. Tradução de Betúlia Machado, Maria José Silveira e Peg Bodelson.

*Os nomes do padrasto e do marido, Celie omite. Acredito que ela faça isso por motivos sentimentais, por rancor, embora eu não possa precisar após a minha análise.

[PARCERIA] Estante de luxo

Olá, leitores! Como estão? 
Sabe quando queremos comprar um livro mas ficamos com medo de gastar nosso dinheiro com uma edição de páginas brancas, ou sem orelhas, ou então aquele livro que tem a letra muidiiinha que quase não dá pra enxergar? Aí o que fazemos? Corremos perguntar para os amigos, pesquisar na internet e em tudo quanto é site, mas nenhum dá as informações completas, não é mesmo? Quem já passou por isso? Hoje eu vou mostrar para vocês um site que acaba com esse problema de uma vez por todas!  O site Estante de Luxo foi feito para quem gosta de saber os mínimos detalhes dos livros e aprecia uma bela edição!

Além disso, o Estante de Luxo agora é parceiro do Leituras&Gatices e em breve traremos algumas novidades e sorteios para vocês.
A ideia da parceria surgiu em uma conversa com a Bea, que é uma das "donas" do Estante de Luxo e eu conhecia do curso de Letras, papo sobre livros vai, papo sobre livros vem e surgiu em nossas cabecinhas: por que não fazermos uma parceria? 
Para quem não conhece o Estante de Luxo, ele é um site administrado pela Bea e a Manoela e que faz reviews maravilhosas de edições ainda mais maravilhosas. Eu vou deixar algumas fotos e uma descrição do site segundo elas mesmas para vocês darem uma conferida no trabalho do Estante de Luxo:


A Estante de Luxo foi criada para aqueles que gostam do cheiro do livro novo, de sentir a textura da capa, ler a orelha do livro, para os que gostam de admirar a estante e deixa-la sempre bela e organizada, enfim, para os que são amantes dos livros e da leitura.Muitas obras possuem diferentes edições. O conteúdo permanece o mesmo, o impacto na vida do leitor e suas reflexões não irão mudar. Entretanto, o ato da leitura pode ser tornar ainda mais prazeroso se em suas mãos estiver uma boa edição do livro. Desde número de páginas, tamanho do livro, e até mesmo a cor e textura das folhas influenciam no conforto da leitura.Para os indecisos na hora de comprar um livro, ou mesmo para os que querem conhecer um pouco mais sobre edições de livros, a Estante de Luxo foi criada. Aqui edições de livros serão descritas e analisadas, tudo para que o leitor possa se familiarizar com o produto que tem, pretende comprar ou apenas namora na vitrine.

Foto: Estante de Luxo
Nas reviews do site, vocês conferem cada mínimo detalhe das edições
Foto: Estante de Luxo
Nenhum detalhe escapa aos olhos da Bea e da Manoela, desde o papel que o livro foi impresso, à cor das páginas e tamanho da fonte, tudo, TUDINHO, elas contam para o leitor!
Foto: Estante de Luxo
Além disso, elas também fazem reviews de box de livros, e muito mais!
Foto: Estante de Luxo
Sem falar que essas fotos são maravilhosas, não?

Confiram o site e as redes sociais:



Aguardem as novidades que surgirão em breve e não deixem de conferir o site!


Beijinhos, Hel.

Morte súbita - J.K. Rowling

“Escolher é algo perigoso: quando escolhemos, temos que abrir mão de todas as outras possibilidades” (ROWLING, p. 567).
Foto: arquivo pessoal

Morte Súbita é, inegavelmente, um livro de difícil leitura. Não por se tratar de um livro com linguagem difícil, mas sim, pelos temas pesados - e necessários - que aborda.
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Quando Barry Fairbrother, presidente do Conselho Distrital de Pagford, uma cidadezinha pacata, morre, esse acontecimento acaba afetando de um modo ou de outro a vida de todos da cidade. A sensação geral é a de que um herói faleceu, já que Barry era defensor dos pobres e oprimidos e da permanência de projetos sociais que beneficiavam a população carente da cidade vizinha, Fields, que os conservadores de Pagford tanto odiavam e viam como um estorvo para a imagem idílica de sua cidade.

“Ele tinha sido um exemplo vivo do que as pessoas propunham na teoria: através da educação, sair da pobreza para a riqueza, da falta de poder e dependência para dar uma contribuição valiosa à sociedade.” (ROWLING, p. 487).

Mas, por trás do sofrimento e aparente consternação, muita gente já está de olho na cadeira de presidente e, inclusive, até na mulher de Barry, a viúva Mary.
Logo no começo da narrativa, acompanhamos a guerra fria que se desenvolve entre os candidatos à vaga de Barry e, também, acompanhamos outros personagens como Krystal, Sukhvinder, Bola, Andrew e Gaia, jovens diferentes entre si e que passam por problemas como bullying, vícios e problemas familiares. Embora os problemas dos adultos sejam mais explorados durante a narrativa, eles acabam afetando esses adolescentes que ficam em meio ao “fogo cruzado” dos pais e se veem obrigados a tomar alguma atitude em relação a isso, causando muitos problemas para os adultos e, ao mesmo tempo, fazendo com que eles enxerguem o que há de mais podre e sórdido na vida aparentemente perfeita dos moradores de Pagford.

“As vítimas do Fantasma de Barry Fairbrother estavam atoladas na lama da hipocrisia e das mentiras, e não gostavam de escândalos. Eram insetos estúpidos que fugiam da luz brilhante. Não sabiam nada da vida real.” (ROWLING, p. 494).

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Foto: arquivo pessoal

Um livro complexo e cansativo, com muitos personagens e com uma narrativa que, apesar de usar o narrador onisciente em terceira pessoa – que é o meu tipo de narração favorita-, ainda fica confusa e maçante em alguns pontos, exigindo do leitor paciência para que os personagens finalmente comecem a fazer sentido e terem uma relação entre si. Além disso, tem-se a sensação de que estamos lendo um livro mal traduzido, com passagens truncadas e diálogos forçados, sem falar nos erros de revisão que teimam em aparecer nas edições da editora Nova Fronteira :/.O uso excessivo de palavrões, que algumas pessoas apontam como algo negativo na narrativa, a meu ver, era necessário para a constituição de alguns personagens.
Apesar dos pontos negativos que apontei até aqui, me peguei torcendo por alguns personagens e para que tivessem um “final feliz” e chorei nas últimas páginas do livro. Os temas trazidos por J.K.Rowling em “Morte Súbita” também são muito pertinentes, como a preocupação com o futuro das crianças e adolescentes e o modo como a sociedade pode destruir uma vida antes mesmo de ela ter começado. A crítica social é explícita e o modo como a autora estereotipa alguns personagens para viabilizar essa crítica, embora forçada, se mostrou eficiente.
Por fim, não indico a leitura desse livro, apesar de ter sido alertada por muitos de que não era um bom livro, achei o livro extenso demais, poderia ter dito mais em menos páginas. Não chega a ser um desperdício de dinheiro a compra desse livro, mas com certeza é um exemplar que não lerei novamente.

Já leram? Gostaram?

Beijinhos, Hel.



ROWLING, J. K.. Morte súbita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012. 651 p. Tradução de Izabel Aleixo e Maria Helena Rouanet.

[Parceria] Novo Século Editora

Gente, para tudo que o blog tá com mais uma novidade! É mais uma parceria com editora, dessa vez a Novo Século! Mais uma vez agradeço ao meu público, que lê, comenta e discute aqui comigo, sem vocês, eu nada seria #beijoseuslindos!
Agora o Leituras&Gatices faz parte do Clube do blogueiro:

O selo da parceria vai ficar no cantinho direito!
Sobre a editora: Consolidando-se no mercado editorial brasileiro através da publicação de obras de ficção e não-ficção, de autores nacionais e estrangeiros, a Editora Novo Século tem sua atenção voltada aos leitores que exigem a qualidade máxima no tratamento dos textos, projetos gráficos e impressão de seus livros. Objetivando promover ótimas experiências de leitura, com foco no entretenimento, no acesso à informação e na formação cultural de seus leitores, a Editora Novo Século oferece um catálogo rico e diversificado. Há 10 anos temos investidos em biografias empresariais e de personalidades. Nomes como Walt Disney, Frank Sinatra, Chapplin, Samuel Klein (Casas Bahia), Affonso Brandão Hennel (Semp Toshiba), Julio Simões (Grupo Julio Simões), Vicencio Paludo (Vipal Holding), entre outros, figuram entre nossas biografias lançadas.

Em nosso catálogo constam grandes nomes da literatura mundial como: Rainer Maria Rilke, James Baldwin, Carson McCullers e Virginia Woolf, além de autores nacionais de grande projeção e outras obras de qualidade primorosa. Na linha de negócios, autores renomados internacionalmente e altamente reconhecidos figuram no catálogo da editora, fomentando o aprimoramento dos mais variados profissionais. O repertório ainda se estende à diversão leve e descompromissada, fundamental para acolher os jovens na cultura letrada. A Novo Século apresenta em seu acervo obras de romance, terror, fantasia e aventura, como também livros que foram adaptados para grandes produções do cinema. Ainda, dando continuidade à vocação que a acompanha desde sua fundação, a Editora dá a oportunidade a um número substancial de novos autores que desejam ingressar no mercado editorial. Estes se destacam pelas abordagens originais e pela qualidade intrínseca de suas obras.

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Ou seja, vem mais uma parceria de sucesso por aí com resenhas cheias de novidades sobre os lançamentos da Novo Século. Se você curte a editora e quiser ficar sempre por dentro dos lançamentos e ler as minhas resenhas é só seguir o blog.

Além, é claro, siga também a Novo Século para saber as novidades e conferir o catálogo deles:

Continuem acessando o blog para conferir mais novidades ;)


Espero que tenham ficado felizes com a novidade.

Beijinhos, Hel.

Leituras de fevereiro

Olá, leitores, tudo bem? 
Hoje vou começar um novo tipo de postagem aqui no Leituras&Gatices na qual eu mostro para vocês o apanhado das leituras do mês anterior, nesse caso, fevereiro. Vamos fazer, concomitantemente, uma retrospectiva das resenhas postadas aqui no blog.


Em fevereiro fiz a maratona literária de carnaval Skindô-Skindô, organizada pela Tatiana Feltrin, e adorei, consegui ler quatro livros que estavam abandonadinhos e concluí a leitura do clube do livro de Letras.

Em fevereiro eu li:



O restaurante no fim do universo - Douglas Adams
Zizz e a mulher em pó - J.C. Zeferino
As aventuras de Sherlock Holmes - Arthur Conan Doyle
O planeta dos macacos - Pierre Boulle

(Para acessar as resenhas é só clicar nos títulos em destaque.)
A primeira leitura do mês, "Ailla e o Luferino", foi uma parceria com os autores Airton, Cinthia e Rafaela que me enviaram o e-book. "Orlando", "O restaurante no fim do universo", "Zizz e a mulher em pó" e "As aventuras de Sherlock Holmes" foram os títulos lidos durante os cinco dias da maratona Skindô-Skindô. "A jovem Alessia" foi mais uma parceria do blog, com a autora Louise Bennet. E, por último, "O planeta dos macacos" livro maravilhoso queeu ganhei de presente da minha amiga Paulinha e em breve sai a resenha aqui no blog.

Essas foram as minhas leituras de fevereiro, algumas muito boas, outras mais ou menos, mas acredito que foi um mês proveitoso no quesito quantidade, já que preciso ler 50 livros em 2016.

Quais foram as leituras de vocês? Já leram algum desses títulos ou conhecem algum autor?

Beijinhos, Hel.