Obra completa - Raduan Nassar

"Raduan Nassar escreveu apenas dois livros e alguns contos, reunidos posteriormente, antes de abandonar a escrita há mais de trinta anos. Com esta breve porém decisiva obra, firmou-se como um dos maiores escritores de língua portuguesa e, mais de quatro décadas após sua estreia na literatura com Lavoura arcaica, romance publicado em 1975, continua sendo lido e estudado no Brasil e fora dele. Às edições nacionais seguiram-se estrangeiras e o reconhecimento da crítica internacional. Tendo sua obra traduzida para dez idiomas, e adaptada para o cinema mais de uma vez, Raduan Nassar foi nomeado para diversos prêmios.

Esta edição, revisada pelo autor, traz, além de Lavoura arcaica, Um copo de cólera e Menina a caminho, dois contos e um ensaio inéditos no Brasil, e conta também com extensa fortuna crítica e outros aparatos textuais que cobrem a vasta recepção a estes clássicos da ficção contemporânea." (Texto retirado do site da Companhia das Letras)
***

Quando eu me deparei com esse livro, lançado no ano passado pela Companhia das Letras, em edição comemorativa de 30 anos da editora e na ocasião do Prêmio Camões recebido pelo autor, fiquei instantaneamente interessada em fazer a leitura. Ao finalizá-la, as impressões iniciais foram de que Nassar realmente merece o prestígio nacional e internacional que tem, bem como uma sensação de que fiz uma leitura superficial, no sentido de que é preciso me aprofundar melhor em alguns aspectos da escrita e dos temas abordados nos textos apresentados nessa edição para que eu pudesse chamar isso que vocês lerão de uma resenha. Em momento algum isso vai chegar perto de poder ser considerado uma resenha. Portanto, primeiro farei um comentário (breve) sobre os textos e, depois, um comentário sobre algumas coisas que me incomodaram nessa edição "definitiva".


De todos os textos, Lavoura Arcaica foi o que deixou uma impressão maior em mim. Cheio de referências bíblicas, esse romance é uma espécie de releitura da parábola do filho pródigo. O protagonista é um jovem que foge de casa e de um pai extremamente religioso, que constantemente pregava sermões à mesa, mas também foge de si mesmo. Logo no início da narrativa, eu já senti que algo muito (MUITO) errado havia acontecido. O narrador vai revelando, aos poucos, o dilema do protagonista e a escrita segue um fluxo muito rápido, com muitas vírgulas, ponto e vírgulas e quase nenhum ponto final, o que dá uma cadência incrível à narrativa e me fez ler quase ininterruptamente até o desfecho que é chocante.


"[...] ao contrário do que se supõe, o amor nem sempre aproxima, o amor também desune; e não seria nenhum disparate eu concluir que o amor na família pode não ter a grandeza que se imagina." (NASSAR, 2016, p. 170)

De Um copo de cólera eu esperei mais, por causa da maldita expectativa. Foi um texto muito recomendado por um amigo e também acredito que eu não tenha gostado tanto por conta de ter lido logo após Lavoura arcaica, que eu gostei muito. Protagoniza essa estória um casal que, ao início da narrativa, parecem apenas aproveitar a manhã depois de uma noite de amor. A estória toma um rumo totalmente diferente quando ele se irrita com o estrago que saúvas fazem na sua cerca viva e ela, ao tentar acalmá-lo, acaba provocando mais ainda sua raiva. O que até então fora uma relato de dois amantes tomando café da manhã, torna-se uma discussão em que ambos explodem e expõem o que pensam um do outro. E é aí que passamos a entender melhor esses dois personagens: percebemos que ele faz um estilo mais rude e retrógrado, um homem do campo; já ela, jornalista, mostra sua face de mulher das letras, preocupada em defender-se dos ataques (machistas) do parceiro. Arrisco a dizer que Nassar consegue exprimir com maestria uma nuance bruta da natureza humana.

*** 

Algo que eu senti durante a leitura é que Nassar parece ser um escritor diferente a cada texto, não só o estilo narrativo muda, o modo como ele pontua, conduz a estória e, também, os temas abordados. Pode-se dizer que Nassar é um escritor multifacetado. Isso fica evidente com a leitura de seus contos e do ensaio que compõem essa edição.

Para encerrar esse meu comentário, gostaria de falar sobre algo que não exatamente me incomodou, mas que poderia ser melhor: a edição. Vejam, minha crítica aqui é à edição, já que a qualidade literária dos escritos de Nassar é irrefutável. Sendo assim, eis um dos pontos que me deixaram desapontada: a falta de textos de apoio. Nada é mais gratificante, para mim, do que abrir um livro e descobrir prefácios, posfácios e uma infinidade de notas de rodapés, isso torna a leitura mais rica a meu ver. Nesse caso, levando em conta o preço salgado desse livro (em torno de R$60), eu esperava mais do que uma lista de referências no final do livro (não desmerecendo a pesquisa, claro), quem sabe poderiam ter colocado um prefácio de alguém com propriedade para falar sobre a obra do Nassar, quem sabe...
O fato é que não é um livro extenso e daria tranquilamente para diminuir a diagramação, tamanho da fonte e margens e adicionar algum material extra.

Enfim, apesar dessa minha pequena insatisfação, indico fortemente a leitura desse livro. É uma oportunidade única de apreciar tudo que Raduan Nassar já produziu, já que não sabemos se e quando ele vai escrever mais alguma coisa, e essa também é uma bela edição de capa dura de tecido.

NASSAR, Raduan. Obra completa. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 457 p.

A sombra do vento - Carlos Ruiz Zafón



"[...] poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho ao seu coração." (ZAFÓN, p. 11)

A sombra do vento pode não ser o primeiro livro a abrir caminho ao me coração, mas, com certeza, é um dos que levarei para sempre na memória. O protagonista, Daniel Sempere, certo dia acorda desesperado por não lembrar mais do rosto da falecida mãe. Seu pai, então, o leva ao Cemitério dos Livros Esquecidos para um passeio mais do que especial em que ele pode levar um livro para casa, qualquer um que ele quisesse, sob a condição de que ele cuidasse do exemplar para que ele nunca fosse esquecido. E é aí que ele se encontra pela primeira vez com A sombra do vento e fica fascinado pela estória. Vira a noite lendo e fica curiosíssimo para saber quem é o autor, Julián Carax, e descobrir mais sobre a vida dele.

Ao procurar por outros livros do mesmo autor, Daniel descobre que alguém os está queimando e a partir daí começa a investigar a vida de Julián para saber porque isso está acontecendo. Ao passo que Daniel investiga o passado de Julián, começa a perceber o quanto a vida de ambos está entrelaçada e, a cada camada em que ele se aprofunda nesse mistério, fica mais preso.

"O livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos dentro [...]" (ZAFÓN, p. 174)

Em certo ponto, as histórias de Daniel e Julián ficam tão interligadas e semelhantes, que é preciso redobrar a atenção para não se perder na narrativa. Conhecemos, então, personagens como o Inspetor Fumero, cruel e perigoso, que sai da vida de Julián para atormentar Daniel e seus amigos. Acompanhamos os amores impossíveis de Daniel e Julián, intercalando passado e presente. E nos envolvemos numa rede de segredos e mentiras que nos deixam cada vez mais curiosos para descobrir porque alguém odiava tanto Julián Carax a ponto de querer apagar não só ele, como também sua memória.

"Há prisões piores do que as palavras." (ZAFÓN, p. 292)

***

A sombra do vento é um livro que tem todos os predicados para agradar um leitor assíduo: fala sobre livros, tem uma escrita poética e cheia de aforismos, tem mistérios do início ao fim, personagens cativantes e uma dose de romance. Além disso, tem uma ambientação que, apesar de se passar na Espanha pós Guerra Civil, consegue trazer uma atmosfera quase mágica e um tanto assustadora. É sabido que possui uma legião de fãs e isso, inevitavelmente, acabou por me fazer criar expectativas bem altas para essa leitura e, como dizem por aí "Não crie expectativas, crie unicórnios". Felizmente, eu me surpreendi demais com essa leitura e nunca usei tantos post-its e flags em um livro com usei nesse. Ele é cheio de frases marcantes que fará qualquer apaixonado por livros suspirar, mas os elogios não vão somente para o estilo do autor, é preciso reconhecer que, embora eu não seja tão fã de romances com mistério e investigação, esse ganhou meu coração e a minha curiosidade, me fazendo ansiar pela resolução do caso de Julián e, ao mesmo tempo, ficar triste pelo livro estar chegando ao fim.

"De todas as coisas que Julián escreveu, aquela que sempre me pareceu mais próxima é a que diz que, enquanto os outros se lembram de nós, continuamos vivos." (ZAFÓN, p. 366)

Se eu não soubesse de antemão que o livro foi publicado pela primeira vez em 2001, poderia dizer que é mais antigo, pois a escrita de Zafón tem ares de livro clássico. Sério mesmo! Isso explica muito o meu amor por esse livro, já que sou apaixonada pelo estilo dos clássicos, essas narrativas que conquistam pelo conteúdo, mas que também têm uma forma mais erudita.

***

A sombra do vento faz parte da série "O cemitério dos livros esquecidos", contando com mais três títulos: O jogo do anjo (Suma de Letras), O prisioneiro do céu (Suma de Letras) e El laberinto de los espíritus que ainda não tem uma edição brasileira, mas ao que tudo indica, a Suma de Letras vai lançar no segundo semestre desse ano (YAYYYY!) e, inclusive, estão  preparando novas edições dos outros três livros da série. É pra glorificar de pé, não é gente?

Beijinhos, Hel.

ZAFÓN, Carlos Ruiz. A sombra do vento. Tradução de Marcia Ribas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007. 399 p.

Gertrude sabe tudo - L. Rafael Nolli

Quando o Rafael (@nollirafael) entrou em contato comigo propondo uma parceria, e me disse sobre o que se tratava o livro dele, Gertrude sabe tudo, não demorei muito a aceitar e embarcar nessa leitura. É sabido que eu leio muitos clássicos, mas, volta e meia, leio literatura infantil e juvenil, pois acho que nunca é tarde de mais para apreciar um bom livro infantil.

Apesar das reflexões bem adultas, esse livro tem uma linguagem simples e pode ser lido tranquilamente por crianças de qualquer idade.
Ainda mais quando é um livro sobre livros, ou sobre o amor pela leitura. A protagonista é uma menininha cheia de "idiossincrasias", que vive lendo e sabe de muita coisa, como o título da estória sugere. Porém, os pais, familiares e conhecidos não enxergam com bons olhos toda essa paixão que ela tem pelos livros. Gertrude frequentemente falava muito e sobre assuntos que até mesmo os adultos não compreendiam, é que na ânsia que ela tinha por conversar sobre as coisas que ela descobria nos livros acabava por se empolgar no falatório e irritava um pouco os que estavam a sua volta. 



O que me deixou profundamente indignada é que nem mesmo os pais dela viam isso com bons olhos, ao invés de incentivar a curiosidade e criatividade da filha, eles queriam que ela fosse menos "esquisita" e mais como as outras crianças da idade dela. E isso não poderia resultar num final feliz para essa estória, não mesmo.

***

Dentre as várias reflexões que esse pequeno livro me causou, uma delas foi enxergar essa sociedade que condena o diferente e que exalta o padronizado. A Gertrude é uma menina fictícia, mas podemos encontrar muitas Gertrudes pelo mundo afora sentindo-se deslocadas. Meninas (e meninos) cuja curiosidade foram podadas por um sistema escolar ou um ambiente familiar que não os incentivou.

"Para que uma pessoa precisa saber tanto?
Por que ir além do estritamente necessário?
Estudante tem que aprender o suficiente para passar de ano. Mais do que isso de que vai ajudar?"

Existe uma frase (que não encontrei em lugar nenhum mesmo pesquisando muito) que fala sobre o hábito da leitura, no mundo de hoje, ser um ato de rebeldia e acredito que ela se encaixa perfeitamente na minha interpretação desse livro. O problema nesta estória é que a rebeldia de Gertrude foi sufocada por uma convivência em uma sociedade que não valoriza meninas que passam os dias com o nariz nos livros, mas sim, meninas que se preocupam (somente) com maquiagens, namorados e roupas. E isso não poderia ser mais verdadeiro. Quase ninguém valoriza o que não é belo, esteticamente agradável. Hoje em dia tudo gira em torno de se passar uma "boa imagem". O conteúdo é secundário.

Além de ter um conteúdo incrível, o livro é todo ilustrado pelo Gutto Paixão.

Enquanto professora, gostaria que houvessem mais crianças e adolescentes como Gertrude, porém, a realidade é bem o oposto. Da minha observação da realidade das escolas e dos jovens que conheço, afirmo com tristeza que a maioria deles encontra diversão apenas em conteúdos supérfluos e abominam a leitura de um texto que tenha mais de três parágrafos. Por isso, se você conhece alguma Gertrude, dê um livro de presente, leia com ela (dê esse livro a essa criança). Por outro lado, se você conhece algum jovem que não é nem um pouco como Gertrude, saiba que nunca é tarde para se incentivar a leitura (eu sou a prova disso).

Beijinhos, Hel.

NOLLI, L. Rafael. Gertrude sabe tudo. Ilustrações de Gutto Paixão. 1ª ed. MG: Gulliver, 2016. 48 p.

TAG Lugares Literários

TAG


Oi, gente. Tudo bem? Hoje eu respondo a tag "Lugares Literários"  que a  Leth do Loucura por leituras me marcou e que eu gostei muito das perguntas. Vou, então, relacionar algumas das leituras que eu fiz com lugares da ficção:

1- Chester Mill (Sob a Redoma): Uma história que te prendeu

O planeta dos macacos foi uma leitura que terminei de um dia para o outro de tão entretida que fiquei no enredo. Por causa desse livro que comecei a me interessar mais por ficção científica.

2- Nárnia (As Crônicas de Nárnia): Um livro que te levou pra outro mundo

O Hobbit me levou para as tocas aconchegantes dos Hobbits e, também, para as florestas hostis da Terra Média.
3- Hogwarts (Harry Potter): Um livro que te ensinou algo

Admirável mundo novo foi uma leitura que abriu muito meus olhos para a alienação que sofremos e como o modo como nos relacionamos é, às vezes, superficial.



4- Panem (Jogos Vorazes): Um livro distópico

Eu amo distopias e a minha favorita é 1984. Das sociedades dos livros distópicos, acredito que a desse livro é a mais opressora, só lendo para saber a agonia que é estar na pele do protagonista Winston Smith.

5- Condado (Senhor dos Anéis): Um livro que te deu sensação de lar ou quentinho no coração

Suzy e as águas-vivas é uma estória tão fofinha, apesar de tratar sobre como Suzy lida com o luto e a perda de uma amiga.


6- Labirinto (Maze Runner): Um livro que te deixou perdido

Morte súbita me deixou confusa pela quantidade de personagens.

7- Terra do nunca (Peter Pan): Um livro da sua infância

Bom, como eu não fui uma criança leitora e só fui adquirir o gosto pela leitura quase adulta, vou citar um livro que eu não li exatamente enquanto criança, mas sim, pré-adolescente: Harry Potter. <3

8- Westeros (As Crônicas de Gelo e Fogo): Um livro com várias reviravoltas   

O primeiro que me veio à mente para responder essa foi Macunaíma do Mario de Andrade. Pensem num livro cheio de loucuras, agora multipliquem por mil. Ainda não chega aos pés dessa estória. Esse livro é amado por uns, odiados por outros. Eu precisei ler duas vezes para começar a entender e, com a ajuda da minha professora de Literatura, consegui apreciar melhor a obra.

***

Tag dada, tag respondida.

Beijinhos, Hel.

O menino feito de blocos - Keith Stuart

"Desde o início foi uma criança difícil. Não comia, não dormia. Só chorava e chorava [...]  Parecia revoltado por estar no mundo." (STUART, p. 8)

Baseado em sua vida com um filho autista, Keith Stuart escreveu esse livro sincero sobre as dificuldades de se criar uma criança que está sob o espectro do autismo.

***

De início já sabemos que o casamento de Alex com Jody está desmoronado, os dois estão tentando uma "separação experimental". Ele vai, então, morar com um amigo de infância, Dan. E é a partir da perspectiva dele que sabemos como é o seu relacionamento com o filho Sam, de dez anos, que ficou com a mãe, e que sempre fora uma incógnita para Alex que, erroneamente, quando olhava para o filho enxergava só o autismo e não a subjetividade da criança. Aliado a isso, Alex também perde o emprego e se vê numa situação ainda mais difícil, pois era ele quem sustentava a casa e a escola de Sam. Desse modo, Jody começa a trabalhar e Alex precisa ficar cuidando do filho nestas ocasiões.

O interessante dessa estória é que Alex, enquanto pai, tem noção de que foi relapso e se absteve de cuidar de Sam, já que Jody sempre fez isso. Ele dizia que ficava trabalhando até tarde para poder dar uma vida melhor aos dois, mas a verdade é que ele inconscientemente fugia do filho e do desafio de entendê-lo. Aquele velho pensamento de que a mãe tem mais "jeito" com os filhos e o homem é quem sustenta a casa. Apesar de Jody ser uma personagem secundária, pensei muito na situação dela e em quantas mulheres passam pelo mesmo, seja com filhos "normais" ou com necessidades especiais. Até quando a criação dos filhos ainda vai ser vista como uma função primeira das mulheres? É perceptível que Jody pede para que Alex saia de casa para ver se ele entende que nada está o.k., e que ele precisa mudar antes que Jody (e também Sam) saiam da sua vida para sempre.

"Sam é o planeta de preocupações e caos que nós temos orbitado pela maior parte do nosso relacionamento." (STUART, p. 16)

Então, Alex começa a entrar em contato com Sam sem Jody estar por perto e precisa lidar com as crises de pânico, as oscilações de humor e a sensibilidade elevada que ele tem aos ruídos e acontecimentos do mundo. Como Alex costumava dizer, o mundo é uma aventura para Sam, e não um passeio. O que ele não esperava era que um jogo de vídeo-game, o Minecraft, fosse uni-los e fazer com que eles compartilhassem algo só dos dois, o "mundo do papai e do Sam". É aí que Alex vê uma oportunidade de se aproximar e entender a personalidade de Sam e entender melhor como ele enxerga o mundo a sua volta.

"Nesse universo, onde as regras são precisas, onde a lógica é clara e infalível, Sam está no controle." (STUART, p. 134)

Ao tentar entender o filho, Alex percebe que precisa entender a si mesmo, primeiro, e superar acontecimentos do seu passado. 

***

É engraçado tudo isso porque sempre ouvimos que não é saudável deixar as crianças jogarem vídeo-game e que isso em nada acrescenta à educação delas. Eu sempre pensei o contrário, e essa estória mostra que por meio de uma realidade virtual Alex se aproxima do filho e compreende quais são suas inseguranças e medos. Além disso, Sam sente-se mais confortável para se comunicar com o pai sobre Minecraft, um assunto que ele domina. E aproveitando uma brecha aqui, outra ali, o pai consegue estabelecer um diálogo com ele. É bem bonito e muito tocante.

Esse livro veio parar nas minhas mãos ao acaso, por cortesia da editora, e confesso que o autismo não é um tema que eu compreenda, talvez eu e Alex tenhamos muito em comum. Mas posso dizer que aprendi muitas coisas sobre o autismo e, principalmente, desenvolvi uma maior sensibilidade em relação à criação de filhos autistas (ou não, mas claro que um filho autista tem as suas particularidades e dificuldades). Algo que a Cecília do Blog Refúgio comentou e que também me tocou bastante durante a leitura foi a questão “quem cuida de quem cuida?”. Se as pessoas já julgam pais e mães em condições normais, imaginem nesse caso? 

"Eu não tinha pensado nisso antes, em como o autismo é uma versão amplificada e muito centrada de como todos nos sentimos, das ansiedades que todos temos. A diferença é que o restante de nós esconde tudo sob camadas de negação e de condicionamento social." (STUART, p. 215)

A minha experiência de leitura, apesar de arrastada, foi bem gratificante e me fez terminar esse livro com um quentinho no coração.

Beijinhos, Hel.

STUART, Keith. O menino feito de blocos. Tradução de Ana Carolina Delmas. 1 ed. Rio de Janeiro: Record, 2016. 377 p.

3 livros com gatíneos legais

É muito bom encontrarmos, nos livros, elementos que nos agradam. Por exemplo, quando eu lia A elegância do ouriço, gostei muito do livro por ele, primeiramente, ser muito bem escrito e suscitar reflexões interessantíssimas, mas, também, por falar sobre livros, gramática e gatos.

Gatos são criaturinhas fofas que, à primeira vista, podem parecer hostis e insensíveis, mas que, conforme você convive com eles, percebe que são cheios de amor e carinho para dar. Porém, mesmo que você tenha um gato como animal de estimação, ainda parece que eles são um mistério.

O gato, muitas vezes, na literatura e no cinema, passa uma imagem enigmática e não raro é representado como um ser retraído, inalcançável e místico.

Um dos exemplos de gato misterioso é o da estória Coraline, do Neil Gaiman. Enquanto os outros personagens existem separadamente em ambos os mundos, sendo pessoas diferentes em cada um, o gato consegue transitar entre um lugar e outro inexplicavelmente (aliás, existem algumas teorias bem interessantes sobre o universo de Coraline na internet, recomendo que pesquisem sobre). Além disso, ele ajuda Coraline a se livrar da "outra mãe".

“— Por favor, qual é o seu nome? — perguntou ao gato. — Olha, sou Coraline. Tá?
[...]
— Gatos não têm nomes — disse.
— Não? — perguntou Coraline.
— Não — respondeu o gato. — Agora, vocês pessoas têm nomes. Isso é porque vocês não sabem quem vocês são. Nós sabemos quem somos, portanto não precisamos de nomes.” (Gaiman, 2003, p. 52).



Alice no país das maravilhas tem um dos personagens gatos mais icônicos da literatura, o Cheshire cat, ou gato que ri. Também encontra-se muitas semelhanças entre esse livro e Coraline e, acredito, que o próprio Neil Gaiman tenha se inspirado na história de Lewis Carroll, já que os dois gatos são igualmente sagazes e enigmáticos, aparecendo e reaparecendo durante a história.



Um gato de rua chamado Bob é uma história baseada em fatos reais, portanto, diferente das citadas anteriormente. Mas o Bob é tão fofo e os truques que ele faz tão perspicazes, que é inacreditável! Essa estória vai nos mostrar o poder que o amor de um animalzinho de estimação pode exercer em nossas vidas, já que o Bob praticamente salva seu dono, o James. James foi por muito tempo viciado em drogas e precisa rever seus hábitos depois que adota Bob. Ou seja, ele precisa ser mais responsável, já que, então, teria uma vida sob sua proteção. Quando James encontra Bob no corredor de seu apartamento, magro e debilitado, não imaginava que dali surgiria uma linda e verdadeira amizade. E, assim, um salva a vida do outro.

Me emocionei demais lendo a história do James e de como o Bob só trouxe coisas maravilhosas para a vida dele.


BÔNUS

Cansei de ser gato: do capim ao sachê. Quem é gateiro com certeza conhece o Chico e sua família felina. São os gatos mais famosos do Brasil, sério, vocês precisam conhecer. Eles têm redes sociais e tudo, e esse livro de fotografias e entrevistas (sim, entrevistas) é a coisa mais hilária e fofa que vocês vão ler:


O Chico é muito versátil.

E tem uma vida muito atribulada. Porém, em algum momento precisa de um descanso pra tanta beleza.

É ídolo teen e capa de revista.
Mas nunca deixou de ser um gato "gente como a gente".


Essa edição foi lançada pela Intrínseca e tem muitas fotos engraçadas, um ótimo trabalho gráfico e de edição. Claro que uma gateira como eu precisava de uma cópia e gostei muito quando a Paula, do blog Caçando Ouriços me presenteou com a história da vida do Chico. Às vezes, quando eu quero me distrair e dar umas boas risadas, é sempre uma boa ideia folhear este livro. 


Beijinhos,
Hel.

Referências:

BOWEN, James. Um gato de rua chamado Bob. Tradução de Ronaldo Luís da Silva. 1ª ed. São Paulo: Novo Conceito, 2013. 236 p.
CARROLL, Lewis. Alice no país das maravilhas. 2ª ed. Sol. Tradução, introdução e notas de Isabel De Lorenzo. Tradução dos poemas de Nelson Ascher. Ilustrações de John Tenniel. 152 p.
GAIMAN, Neil. Coraline. Rocco jovens leitores. 155 p. Ilustrações de Dave Mackean.
NORI, Amanda; GUIMARÃES, Stéfany. Cansei de ser gato: do capim ao sachê. 1ª ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015. 160 p.

Clube da luta - Chuck Palahniuk

"Apenas depois do desastre é que podemos ressuscitar." (PALAHNIUK, p. 84)
Exemplar adquirido por meio de troca no Skoob Plus. Quem me segue lá, viu que eu favoritei esse livro. Continuem lendo essa resenha para saber o porquê.
Me adicionem lá: Hel | Leituras&Gatices
Há algum tempo atrás, fiz um post falando sobre como bons livros não podem ser estragados por spoilers. Exemplo disso, foi a minha experiência de leitura com Clube da luta. Eu já sabia de antemão a grande revelação da estória, que é um dos plot twists mais conhecidos da cultura pop, largamente difundido por causa da adaptação (maravilhosa, diga-se de passagem) de David Fincher. Mesmo não tendo assistido ao filme antes de ler Clube da luta, saber como a estória termina de modo nenhum comprometeu minha admiração pelo enredo e pelas reflexões que ele me causou.

"Nossa cultura nos fez sermos todos iguais. [...] Todos queremos a mesma coisa,. Individualmente não somos nada." (PALAHNIUK, p. 167)

O protagonista é um jovem funcionário de uma empresa de seguros para carros que tem uma existência bem frustrada. Trabalha para poder bancar um estilo de vida que ele sequer gosta, mas que a mídia impõe como sendo o ideal. Não vive plenamente. E para se sentir mais vivo, ele frequenta grupos de apoio, lugares em que ele encontra pessoas com câncer, parasitas no cérebro, sem testículos, enfim, pessoas em situações muito piores do que a dele. Porém, uma intrusa que também finge estar doente começa a frequentar os mesmos grupos de apoio que ele. É assim que conhecemos Marla Singer, tão infeliz e frustrada, só esperando pela morte.

"[...] se as pessoas achavam que você estava morrendo, elas lhe davam total atenção. [...] As pessoas ouviam em vez de apenas esperar a própria vez de falar." (PALAHNIUK, p. 133)

Até que um dia, em um dos seus voos a trabalho, conhece Tyler Durden, uma figura muito curiosa e, juntos, idealizam o Clube da luta, um lugar onde não há rótulos, e que podem ser e fazer o que sempre quiseram. Ali, homens de origens diferentes, garçons, empresários, jovens, velhos, gordos, magros, se reúnem para extravasar a raiva entre socos e chutes, sem julgamentos, ninguém é melhor do que ninguém. 

"Gerações têm trabalhado em empregos que odeiam para poder comprar coisas de que realmente não precisam. - Não temos uma grande guerra em nossa geração ou uma grande depressão, mas na verdade temos, sim, é uma grande guerra de espírito. Temos uma grande revolução contra a cultura. A grande depressão é a nossa vida. Temos uma depressão espiritual."(PALAHNIUK, p. 186)

O protagonista, não nomeado, faz uma amizade muito intensa com Tyler, pois ambos parecem sofrer das mesmas mazelas. Talvez por entenderem um aos problemas do outro é que a amizade deles se mantenha tão verdadeira. Tyler começa a mostrar que a vida pode ser excitante se ele se desfazer das amarras sociais. O clube da luta é a maneira de os dois dizerem um grande "Foda-se" para a sociedade. Mas engana-se quem acha que o clube era desregrado e anárquico, na verdade, tinha oito regras. A primeira e a segunda eram as mais importantes: você não fala sobre o clube da luta. Embora exista essa regra, a violação dela começa a trazer novos membros e logo vários clubes da luta começam a surgir por todo lugar.



***

Apesar de Clube da luta ser um livro que, na sua superfície, fale sobre violência, percebe-se que é só uma metáfora, nos joga na cara que precisamos sair da zona de conforto e agirmos de maneira a nos libertarmos de todos os estereótipos e do que a nossa cultura consumista nos impõe. E essa luta precisa ser enérgica, é preciso "lutar" para viver, se não estaremos apenas existindo, afinal, essa é nossa vida "e ela está acabando um minuto de cada vez.". Deve ser por isso, talvez, que o protagonista não tem nome, ele pode ser qualquer um de nós, tão infeliz por perseguir um padrão de vida que não importa o que fizermos, cada vez fica mais inalcançável. Clube da luta é uma estória visceral, um tapa na cara.

Após ler e assistir ao filme, compreendo porque Clube da luta é um clássico moderno; ele reflete toda a pobreza de nossa geração. Somos a geração do imediatismo e da falta de profundidade, tudo vira meme, tudo é ostentação, instantâneo, selfie. A geração que tem preguiça de ler, que aceita tudo mastigado, resumido e depois mastigado de novo. A geração que não questiona e problematiza sem conhecimento de causa. É triste e ao mesmo cômico que uma geração com tantas oportunidades, em que a informação está a um clique de distância tenha se transformado nisso, e Clube da luta atira a verdade crua na cara do leitor. Leiam e se surpreendam como eu!

Obs 1.: Não vou comentar o final do livro, quem ainda não sabe do que se trata, deveria ler hoje mesmo e se surpreender porque é simplesmente GENIAL.
Obs 2.: Não vale vir nos comentários dizer que eu quebrei a primeira e segunda regra do clube da luta. 
Obs 3.: A adaptação de Clube da luta está disponível na Netflix e recomendo que assistam, é muito fiel ao livro e mantém as mesmas críticas.

Beijinhos, Hel.

PALAHNIUK, Chuck. Clube da luta. Tradução de Cassius Medauar. São Paulo: Leya, 2012. 270 p.

A mágica da arrumação - Marie Kondo

Honestamente, eu me considero uma pessoa organizada e, ao ler A mágica da arrumação, posso afirmar que não encontrei muitas novidades; tudo o que a autora ensina em seu método já é algo que eu faço (do meu jeito, mas faço). Me interesso pelos temas organização, minimalismo e consumo consciente, isso já é um ponto de largada muito interessante e que adianta demais as coisas se o intuito de quem lê é colocar o método KonMari em prática.
Basicamente, ela sugere que mantenhamos em nossa casa só aquilo que nos faz feliz, mas isso se torna muito relativo se levarmos em conta que algumas pessoas nunca estão satisfeitas não importa quantas sessões de compras façam por mês. Enfim, acho que é possível aplicar o método, sim, mas vai depender muito da motivação e do quanto a pessoa é apegada a bens materiais.

Jogando "Marie Kondo" na busca do Youtube, pode-se acessar diversos vídeos sobre o método e dicas de como dobrar roupas, arrumar gavetas etc..

O método que a japonesa Marie Kondo desenvolveu é satisfatoriamente detalhado e não deixa escapar nenhum aspecto. Seria muito maçante eu tentar resumi-lo aqui, então, é preciso ler o livro para conseguir pôr em prática. Em suma, ela afirma que, para a casa se manter sempre arrumada e não ter o "efeito rebote" (que é quando você arruma e depois de algum tempo a bagunça volta) é necessário 1) arrumar tudo de uma vez só. Nada de arrumar um cômodo por vez em dias separados, separe um dia para colocar a casa em ordem e, ao invés de arrumar por cômodos, arrume por categorias (ex.: livros, roupas, papéis etc.) 2) jogar fora tudo que não usamos mais e que não nos faz feliz, assim, teremos a nossa volta somente o essencial e 3) não esconder a bagunça ou desfazer-se dela empurrando para outra pessoa. Essa parte, confesso, me deixou um pouco embaraçada, pois é um costume que tenho. Às vezes, despacho algumas coisas que não quero mais para a casa da minha mãe e não farei mais isso.

"Aprendi que despachar objetos para outro lugar é como empurrar a sujeira para debaixo do tapete."

Apesar de ser um método muito eficaz, dado o número de pessoas que o utilizaram com sucesso, o livro tem algumas ressalvas. Por exemplo, ela sugere que joguemos fora os presentes que ganhamos e não gostamos ou os cartões, cartas que temos em casa. O argumento dela é que a função desses objetos é somente ser recebido e causar alegria, concordo com essa parte. Porém, é impossível não pensar no que a pessoa que deu o presente vai pensar. 

Apesar disso, me identifiquei muito com vários ensinamentos da Marie, por exemplo, o de que, ao mantermos somente o necessário, levamos uma vida mais leve e, também, o de que a organização da casa reflete na organização "interior". Por exemplo, eu sou uma pessoa muito suscetível ao meio em que estou, se minha casa está bagunçada ou o ambiente está barulhento (sabe quando seu vizinho ouve música 24h por dia?), não consigo me organizar para cumprir minhas tarefas ou até mesmo, se torna impossível estudar ou ler. E isso é um dos benefícios de por em prática este método: traz uma leveza e uma sensação de que fizemos uma limpeza não só na casa, como na mente. E algo que também é muito interessante nesse livro/método são os argumentos que a autora usa, sempre muito convincentes e me fazendo lembrar de situações pelas quais eu já passei (tipo quando eu tinha uma coleção de sacolas de papel que eu não jogava fora porque achava que usaria, mas que, depois que eu joguei fora, percebi que não me faziam a menor falta), entre outros.

E é claro que em algum momento eu esperava que Marie falasse sobre o acúmulo de livros, e eu esperava seriamente discordar dela. O que me surpreendeu foi que concordei em gênero e grau com a solução dela para decidir quais livros manter e quais me desfazer:

"[...] segure cada livro e sinta se ele o inspira ou não. Mantenha aqueles que lhe deixam feliz apenas por estarem ali, aqueles que você adora de verdade."

Os livros são memórias também, não é mesmo? Nada mais justo do que manter aqueles que nos despertam memórias boas. Depois desses ensinamentos em relação aos livros, o resultado foi que eu comecei a utilizar o sistema de trocas do Skoob com bastante frequência e, assim, me desfiz de alguns livros que não me faziam tão feliz assim. Aliás, se você também é um usuário Plus e quiser dar uma olhada nos meus livros disponíveis para troca é só clicar aqui.

"[...] o método KonMari não é uma mera enumeração de regras sobre como separar, arrumar e descartar objetos. Trata-se de um guia que ensina as pessoas a se tornarem mais organizadas."

Por fim, acho válido comentar essa última citação, ela explica bem o que o leitor vai encontrar durante a leitura: um diálogo entre a autora e o leitor que faz com que avaliemos nosso comportamento, também, afinal, a casa e nossos pertences, de um modo ou de outro, refletem como somos.

Beijinhos, Hel.

KONDO, Marie. A mágica da arrumação. Tradução do inglês de Marcia Oliveira. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.

Vale a pena fazer parcerias com editoras? - Um relato pessoal

O Leituras&Gatices já está se encaminhando para o seu segundo ano de vida e, depois desse tempo que passou, sinto que surge um momento de autoavaliação. O que eu fiz até agora? Tenho trazido conteúdo de qualidade? Meu blog faz a diferença ou é só mais um num oceano? O que eu construí de inspirador e motivador para que as pessoas leiam mais?

Além disso, com o fim de 2016 e o início do novo ano em que estamos, acabei também ponderando em que aspecto as parcerias que tive ajudaram o blog a crescer no quesito visibilidade e reconhecimento, bem como elas influenciaram nos meus hábitos de leitura e nas postagens aqui do blog.

Arquivo pessoal

Basicamente, houve três estágios em relação às parcerias: euforia, decepção e amadurecimento.

No início, meados de fevereiro de 2016, fui selecionada em duas parcerias com editoras grandes e isso foi muito empolgante. O L&G tinha menos de 6 meses (um baby) e já tinha parcerias de peso! "Desse jeito, nessa velocidade, o blog vai longe em pouco tempo!", pensei. Ledo engano. De fato, em mais alguns meses eu seria selecionada em mais duas parcerias com editoras, porém, eu já estava bem menos empolgada.

Não é algo mágico que de um dia para o outro o fato de o blog ter um selo de parceiro na lateral vai fazer crescê-lo automaticamente. Não mesmo! Na verdade, pouca coisa muda, a não ser a responsabilidade com prazos e divulgação. Se antes das parcerias eu era livre para ler, resenhar e divulgar o que eu bem entendesse, depois, minhas opções foram drasticamente limitadas.

E aí entra a parte da decepção. Aquela euforia inicial vai dando lugar a um cenário bem menos glamouroso. É uma corrida contra o tempo e, muitas vezes, contra o próprio livro, que é extenso demais, lento demais, até chato demais e precisa ser lido, resenhado, fotografado, divulgado etc etc.. Claro que, em meio a tudo isso, surgem livros incríveis e que valem muito a pena serem lidos. Mas o que eu me questiono é: vale a pena todo esse trabalho? Para mim, não vale. 

Vejam, eu não vivo só de blog (quem dera), tenho outros compromissos e aqui resenhando somos somente eu e a Julya. Outra questão: eu não leio rápido e não gosto de pressão. Eu posso até fazer uma resenha bem feita em prazos apertados, contudo, é aquele ditado: não foi feito com amor. Assim como a leitura, falar sobre livros deve ser uma atividade prazerosa e não feita por obrigação.

E ainda se fosse um trabalho com remuneração. Não é! Muita gente vem me perguntar quanto as editoras me pagam para criticar e divulgar os livros e quando eu respondo "Nada, elas somente enviam o livro!" as pessoas ficam chocadas. Percebam que eu e a Julya temos formação acadêmica em literatura, tudo bem que o blog não tem um público tão grande assim, mas vocês acham justo fazer todo o trabalho e ganhar só um livro em troca? E muitas vezes um livro que nem pedimos? Reflitam.

Como resultado disso tudo, ao fim do ano passado eu não estava mais me sentindo feliz em relação ao blog. Sabe quando você está satisfeito, fez tudo do jeito certo, mas não sente sua personalidade impressa no seu trabalho? Sabe quando você tem certeza de que poderia ter feito melhor se fosse de outro jeito? Não vou ser categórica e dizer que o conteúdo não estava bom para mim, mas deixei de ler muita coisa que eu queria em detrimento de leituras enviadas por editoras parceiras. 

"Assim como a leitura, falar sobre livros deve ser uma atividade prazerosa e não feita por obrigação."

Por fim, vem o amadurecimento. Período em que eu parei para analisar tudo o que aconteceu até aqui. Percebi que as parcerias com autores(as) nacionais me davam muito mais satisfação devido ao feedback ser mais próximo e pelo fato de que estas foram realmente parcerias. "Como assim, Hel? As editoras não praticam parceria?" De certo modo, e no meu caso, não! Parceria, para mim, é quando um ajuda o outro, a editora/autor manda o livro, eu resenho/divulgo e tenho ajuda nessa divulgação, seja com compartilhamentos ou mesmo um elogio/crítica. Afinal, eu preciso saber se estou fazendo a minha parte de maneira apropriada (até para me preparar para possíveis renovações de parcerias) e também porque é muito óbvio que quanto mais divulgação, mais pessoas se interessam por adquirir aquele produto, no caso, livro. A palavra-chave, e o que faltou no meu relacionamento com as editoras, é feedback. É muito chato enviar um e-mail e não ser respondida. Mais chato ainda ficar no vácuo nas redes sociais. É como se fosse uma via de mão única, um canal de comunicação em que um dos lados não ouve.

Ao final de todo este meu relato, aponto que cabe a cada um decidir o que é melhor para si: se correr atrás de parceiros ou não. Eu não digo que não farei mais parcerias, até porque ocasionalmente recebo propostas de autores nacionais e não vou negar se o livro é do meu interesse. No que tange as editoras, serei mais criteriosa e manterei somente aquelas 1) cujo catálogo me interessa 2) que mantenham uma boa comunicação e 3) que sejam respeitosas com os blogueiros e pratiquem parceria de fato.

Bom, nem todas as minhas experiências foram ruins, tive algumas muito legais e que me deixaram muito feliz! Não dá para generalizar, não é mesmo?!

Observação: as opiniões e apontamentos sobre parcerias feitas aqui nesse texto são baseadas única e exclusivamente na minha experiência e não devem ser encaradas como se definissem o que é uma parceria, ok?

E vocês que são meus leitores e também têm blogs sobre livros, o que acham disso tudo?
Beijinhos, Hel.