O pêndulo de Foucault - Umberto Eco

10:00

O livro O pêndulo de Foucault apareceu para mim no momento em que eu estava querendo deveras ler Umberto Eco. Umberto Eco é daqueles autores que ouvimos falar muito bem e que ao redor dele é construído uma aura canônica, afinal, já ganhou prêmios literários e foi um renomado filósofo, semiólogo, linguista, crítico literário, além de prestigiado autor de ficção, (vide O nome da rosa, uma de suas mais conhecidas obras). Contudo, porém, todavia, no entanto, meu primeiro contato com o autor não foi, digamos, muito satisfatório (leia: não gostei taaanto da leitura). Explicarei melhor o que ocorreu nas próximas linhas...

Foto: arquivo pessoal

O pêndulo de Foucault conta a estória de três amigos, Belbo, Casaubon e Diotallevi, que trabalham na editora Garamond. O início da narrativa, que a princípio se mostra confuso, se dá no Museu parisiense Musée des Artes et Métiers, com Casaubon se escondendo e à espera de "alguém". Com o progresso do enredo, que é feito em retrospectiva, sabemos que Casaubon e seus amigos estão em apuros, e tudo começa quando a editora recebe um tal Ardenti querendo publicar um manuscrito sobre os Templários, umas ideias muito mirabolantes que, a princípio, os três não dão muito crédito, principalmente Casaubon, que é de todos o mais cético.  Até aí tudo bem, o problema é que, em seguida, Ardenti desaparece, se escafede, some! Ninguém sabe que fim ele levou e, então, decidem investigar, criam O plano e se metem numa enrascada sem tamanho, já que esse Plano, que surgiu de uma curiosidade e meio que de brincadeira, acaba sendo levado a sério por uma sociedade secreta, Tres, que passa a persegui-los.

"Eu devia ir-me embora, ir embora, era tudo uma loucura, estava caindo  no jogo que fizera Jacopo Belbo perder o juízo, também eu, o homem incrédulo." (p.24)

"[Diotallevi] estava obcecado pelo Plano, e no Plano havíamos incluído tantos outros componentes, os Rosa-cruzes, a Sinarquia, os Homúnculos, o Pêndulo, a Torre, os Druidas, a Ennoia.." (p.52)

"Eu fizera da incredulidade um princípio científico, mas agora tinha de desconfiar até dos mestres que me haviam ensinado a me tornar incrédulo." (p. 382)

Foto: arquivo pessoal 

Finalizei a leitura com diversas sensações, a principal é a de que não entendi nem metade do livro. Isso mesmo! E isso porque há nele muitas coisas que sequer já ouvi falar, como os próprios Templários que só vim a conhecer e a pesquisar depois que me deparei com O pêndulo de Foucault. Há, também, trechos de outras obras no idioma original, tanto nos inícios de cada capítulo como no interior do texto, que não são traduzidos, nos mais diversos idiomas, desde italiano até latim. E eu, que não sou poliglota nem nada, ficava na mais pura ignorância, sentindo que estava, a cada trecho desse, perdendo informações importantes para o entendimento da narrativa. Penso que se o tradutor, ou o próprio autor, tivesse utilizado algumas notas de rodapé nesses casos, seria muito bem-vindo, já que em determinado momento eu simplesmente desisti de tentar entender as referências, o que culminou no início da minha frustração, sentimento que me acompanhou pelo restante da leitura.
O fluxo da leitura, que mais me pareceu uma montanha-russa, se deu tão vagarosamente que quase cogitei abandonar a leitura. Confesso que em alguns momentos pulei parágrafos que eu sabia serem descrições que de nada acrescentavam ao desenrolar dos fatos e foi a primeira vez que fiz isso, shame on me. Mas a verdade é que muito era descrito e não havia quase nada de ação no livro, eu gosto de descrições nos livros, mas convenhamos que nada em excesso é bom.
Sinto que me falta bagagem não só literária, como também histórica para que a leitura desse livro fosse mais proveitosa, pois reconheço, embora não entenda, a magnanimidade da narrativa construída por Eco neste livro. Muitos conhecidos meus que viram que eu estava lendo esse livro, me indicaram que, ao invés de começar a conhecer a obra de Umberto Eco por esse título, eu devia começar por O nome da rosa, e talvez eu dê mais uma chance para o autor nesse caso. 
Quando terminei a leitura, fiquei curiosa para saber a opinião de outros leitores sobre o livro e, como de costume, fui olhar as resenhas do Skoob. Fiquei surpresa ao ver a discrepância entre as avaliações deste livro, pois muitos o amam e muitos, muitos mesmo, o odeiam, é só olharem para confirmar, há uma divergência de gostos que eu antes só vira em O morro dos ventos uivantes. Eu, todavia, não consegui classificar o livro, nem se me perguntarem pessoalmente, nem se me pedirem para quantificar em estrelas no Skoob, sinto que, nesse caso, não tenho cacife para avaliar, já que a) esse é o primeiro livro de Umberto Eco que leio, b) não fiz uma leitura suficientemente minuciosa para emitir algum juízo de valor e, como dito anteriormente c) não tenho conhecimentos enciclopédicos suficientes.
Ademais, admito que esse não é o tipo de leitura para se fazer em momentos como os que tenho passado: final de semestre e épocas de provas. Pelo contrário, indico aos que queiram se arriscar nessa leitura que escolham um momento de férias, preferencialmente, em que possam se debruçar em cima da leitura de corpo e alma, pois é isso que este livro exige.
Enfim, fica aqui a indicação - não muito confiável de alguém que não entendeu patavinas - de uma leitura rica em temas como História, Religião, Ocultismo, entre outros temas interligados como sociedades secretas, Maçonaria e conspirações.

"Compreendi. A certeza de que nada havia pra compreender, esta devia ser minha paz e meu triunfo." (p. 667)

Beijinhos, Hel.

ECO, Umberto. O pêndulo de Foucault. 16ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2016. 672 p. Tradução de Ivo Barroso.

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14 comentários

  1. Olá! =)

    Parabéns por ter finalizado a leitura do livro, pois, considerando tudo que falasse do livro, não deve ter sido fácil. =x
    Admito que não li nada desse autor ainda, então nem tenho uma imagem concreta de suas obras, mas acho que vou adicionar algo como "complexo" ao pensar nessas obras futuramente.
    Ainda pretendo ler algo do Umberto Eco, para formar minha própria opinião, saber se entro na parte dos que amam, dos que odeiam ou dos indiferentes~
    Mas esse, "O pêndulo de Foucault", não me arriscarei nem a tentar.

    Enfim, gostei de saber sua opinião sobre a obra. =)

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    1. Oi, Paula. Obrigada pela sinceridade. Foi mesmo difícil eu concluir essa leitura e você ouviu todos os meus desabafos.

      :)

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  2. Oiee Hel!

    Acho que a escolha da citação final caiu bem para essa leitura! Eu sou fã dos templários, ocultismo e história e religião são temas que me fascinam, mas não sei se teria bagagem o suficiente para ler esse livro. Já assisti a adaptação de O Nome da Rosa e considero um dos meus filmes favoritos, mas ainda não me arrisquei na leitura!
    Adorei sua resenha, achei super verdadeira! Quem sabe mais para frente, em outro momento, você não tente novamente?

    O fantástico da leitura é justamente se deparar com livros em momentos diferentes e tirar um ensinamento dele! E isso você fez! :)

    Bjos,

    Dê.
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    1. Dê, a citação final foi sim proposital, peguei a fala do protagonista e usei no meu contexto, rsrs.

      Se você gosta desses temas, eles estão praticamente em todos os momentos da estória, mas aviso de novo: é um livro com uma linguagem e narrativa difíceis!

      Não sei se terei ânimo para reler esse livro, não são temas que me chamem tanto a atenção, li por causa do Umberto.

      Beijos!

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  3. Então foi esse o livro gigante que você não entendeu nada! hahaha
    Olha eu provavelmente também não entenderia, por isso nem chegaria a começar a ler.
    Mas pelo menos você se arriscou em uma leitura complicada, o que é bem legal às vezes!

    Beeijos

    www.ooutroladodaraposa.com.br

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    1. Rai, foi esse mesmo, rsrs.
      Eu já sabia que seria uma leitura difícil, mas quando eu comecei a ler vi que o nível de dificuldade estava além das minhas expectativas, muito além.

      Beeeijos!

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  4. eu amo umberto eco. esse eu li faz tempo. lembro que foi emprestado, mas nem me lembro onde. foi um dos primeiros que li. mas não lembro a sequência. achei fascinante. umberto eco é um grande historiador que também escreve. beijos, pedrita

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    1. Pedrita, fico encantada que você tenha achado fascinante, eu só consegui me sentir uma burra diante de todo o conhecimento que o Eco ostentou nesse livro!
      Ainda bem que há gostos variados!
      Beijos

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  5. Parabéns Hel, resenha maravilhosa, como sempre!
    Uma pena a leitura ter sido tão complicada e você não ter conseguido apreciar tanto a obra por isso, mas por tudo que você mencionou, acredito que estaria no mesmo barco, afinal são assuntos bem complexos.
    Mas "O nome da Rosa" também já ouvi dizer que é bom! Boa sorte em sua nova tentativa.
    Beijos
    www.blogleituravirtual.com

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    1. Oi, Marina!

      Menina, eu não consigo seguir adiante quando eu sinto que tô deixando alguma coisa para trás na leitura, e esse livro me deixou tão angustiada, me sentindo uma burra, rsrs.

      Se um dia surgir a oportunidade de eu ler algo do Eco eu vou dar a chance sim. :D

      Beijos.

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  6. Olá Hel!
    Uso de expressões sem tradução me tiram do sério. Li um da Agatha Christie esses dias cheio de expressões em frances. Poxa, se eu soubesse frances leria direto em frances!
    Apesar de sempre ouvir falar do autor só tenho curiosidade em ler O Nome da Rosa. E para ser sincera, agora nem sei se ainda tenho essa curiosidade huahua
    Bjs

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    1. Olá, Thalita.
      Então, isso de não traduzir trechos até dá para perdoar em livros como A menina que roubava livros, em que o contexto dá uma pista do que se trata, mas nesse livro pareceu: "Tá no original e se você não entender, problema seu!"

      Eu também fui pesquisar para saber se O nome da rosa segue esse mesmo estilo, e pelo que vi, sim. Me desanimou :(

      Bjs

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  7. Olá!
    Eu admito que gosto muito de histórias que tenham conspirações e afins mas, esse livro em questão, acho que não conseguiria terminá-lo. Complexo demais e essas expressões sem tradução me desanimou bastante...
    Te marquei em uma TAG
    https://iniciosmarcantes.wordpress.com/2016/06/30/tag-dos-50-melhores-e-piores-do-1o-semestre-2016/

    Beijinhos :*

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    1. Olá, Geovana!
      É um livro complexo mesmo, eu fiquei curiosa com a conspiração, mas a narrativa era tão arrastada que o interesse sumiu!

      Obrigada por marcar na TAG, assim que possível responderei!
      Beijos!

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